O coronavírus chegou ao Brasil de forma avassaladora e o país permanece dividido quanto às avaliações do trabalho do presidente, que não acredita na gravidade da situação, além de incitar o caos nas grandes massas. Desde sua eleição, o presidente Jair Bolsonaro já deixava claro que não sabia nada de economia e que iria deixar esse mérito totalmente nas mãos de sua equipe. Neste momento, o presidente tem priorizado a economia, em detrimento das vidas dos próprios brasileiros.
Com o agravamento do contágio no país, foi decretado estado de emergência e com isso o isolamento social se tornou a saída mais eficaz para evitar um número exorbitante de fatalidades por conta do coronavírus. Os governadores decretaram o fechamento do comércio não essencial para a sobrevivência, o que engloba muitos trabalhadores autônomos, informais e donos de pequenos negócios. A economia inevitavelmente será afetada e o país terá uma forte recessão no ano de 2020.
Para evitar um cenário calamitoso e conter o avanço da crise, o governo lançou algumas medidas econômicas, como o apoio à população vulnerável, o afrouxamento da meta fiscal, o auxílio para trabalhadores autônomos e informais, entre outras. Em relação às potências mundiais tais atitudes foram tomadas com certo atraso, devido à firme crença do presidente Bolsonaro de que o vírus não é tão grave, mas serão extremamente úteis para impedir um cenário muito pior após o pico de contágio passar.
"A recessão virá de qualquer jeito, com ou sem quarentena. Desemprego e inadimplência vão subir. Seja porque já há sinais fortes de recessão – queda de faturamento em quase todos os setores, exceto supermercados e inflação ao consumidor muito baixa em março –, seja pelo contágio internacional”, afirma o economista Rafael Bianchini, professor da Fundação Getúlio Vargas.
O país se encontra em uma situação na qual o vírus cria um forte atrito entre governo federal e governos estaduais, uma vez que muitos dos governadores são contrários à política flexível e negacionista do presidente. O professor Bianchini diz que o Brasil ficará no pior dos mundos: a calamidade da superlotação dos leitos hospitalares atrelada a uma crise econômica, caso a insistência na reabertura dos comércios por parte do presidente afaste ainda mais os governadores, que são responsáveis por arcar com a superlotação de seus hospitais.
Também entrevistado sobre o assunto, o economista Marcos Henrique do Espírito Santo, professor das Faculdades Metropolitanas Unificadas (FMU), opina que as medidas tomadas pela equipe econômica são necessárias, mas para curto prazo. Nas palavras de Espírito Santo, “ela vai durar pelos próximos três meses; serve para que as pessoas não morram de fome, mas o que a gente precisa pensar agora, do ponto de vista macroeconômico, é como os economistas vão passar a pensar daqui em diante”. O professor avalia que o Brasil possui um programa “austericida” que foi imposto a partir de 2015, ainda sob o comando da ex-presidente Dilma Rousseff, uma vez que a ideia do corte absoluto do lado das despesas vem provocando uma depressão muito grande na economia. “Dar dinheiro na mão das pessoas é incentivá-las a gastar. Como a demanda está muito fraca, pensar que vai necessariamente gerar inflação, nesse caso, é um grande equívoco”, conclui Espírito Santo.
O pacote de medidas lançado pelo governo prevê também a flexibilização das leis trabalhistas para manutenção de empregos – com a possibilidade de redução de jornadas e salários –, apoio financeiro a estados e o adiamento do prazo de declaração do imposto de renda. Ambos os economistas entrevistados compartilham a opinião de que o Brasil ainda se encontra muito atrás do resto do mundo quando se trata das propostas econômicas para o combate ao coronavírus. O auxílio de R$ 600 para os trabalhadores, uma das medidas mais comentadas, foi uma contraproposta da oposição na Câmara, indo contra a vontade do ministro Paulo Guedes, uma vez que o governo queria liberar apenas R$ 200 no começo de tudo.
O Brasil "está sempre muito atrás", de acordo com Espírito Santo. "Está agindo corretamente agora com essa contingência, mas não age porque quer, age porque é uma contingência internacional e vem a reboque dos outros países." Bianchini, por sua vez, acredita que o Brasil está pior, uma vez que chegou a essa crise bastante fragilizado e explica que a equipe econômica “demorou a entender a profundidade da crise e, como consequência, as previsões de organismos internacionais apontam para a maior queda do PIB no Brasil.”.
As visões dos professores colocam o Brasil em um patamar baixo no cenário mundial, com pacotes econômicos tímidos, que ainda precisam ser elaborados. Um dos empecilhos para isso é a visão do presidente, que não leva a sério a pandemia e exige reabertura de escolas e comércios. Esse descaso, inclusive, culminou na demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cujo trabalho vinha sendo elogiado desde que assumiu a responsabilidade de comandar a resposta ao vírus.
Os EUA, por exemplo, atualmente estão injetando US$ 2 trilhões na economia. Para se ter uma noção mais clara do que isso significa, é só pensar que estão injetando um PIB brasileiro em sua própria economia durante esse período. Mesmo sendo um dos países que, de início, menos se preocuparam com o alastramento do coronavírus – também por uma visão negacionista do presidente Donald Trump, que está custando milhares de vidas –, ainda assim consegue ter medidas eficazes.
Está mais que claro que o grande problema no combate ao coronavírus em solo brasileiro está na política do país. Divergências de opinião entre membros do mesmo governo, demissão do ministro da Saúde no meio de uma pandemia, fora as articulações no governo para retirar cada vez mais direitos do cidadão e precarizar a vida do trabalhador. Não é para menos que a diferença dos números em bairros como Morumbi e Brasilândia são tão gritantes. O primeiro, com 297 casos confirmados até o dia 17 de abril, teve apenas sete óbitos; o segundo, com apenas 89 casos confirmados até a mesma data, registrou um total de 54 mortes e, até o momento, é o bairro com maior número de mortes confirmadas ou suspeitas de coronavírus. O grupo de risco desse vírus não são os idosos, são os pobres.