Oscar 2023: Prêmios em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

Filme sobre multiverso conquistou o público, as críticas e as premiações da temporada 2023
por
Bianca Novais
|
15/03/2023 - 12h

Dirigido pela dupla The Daniels (Daniel Kwan e Daniel Scheinert), o longa-metragem Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo venceu o troféu de Melhor Filme do Ano na 95ª edição dos Oscars. Além de levar a estatueta mais importante para casa, outras seis entraram na conta, sagrando o filme como o maior campeão da noite. 
 

Elenco de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo com suas sete estatuetas. Imagem: Gilbert Flores/Getty Images.
Elenco de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo com suas sete estatuetas. Imagem: Gilbert Flores/Getty Images.

 

A cerimônia voltou a apresentar todos os prêmios durante a transmissão neste ano. Em 2022, oito categorias foram gravadas previamente e exibidas durante o programa ao vivo, em uma tentativa de encurtar o evento e combater a queda de audiência. Jimmy Kimmel, 55, comediante e apresentador do programa de entrevistas Jimmy Kimmel Live!, foi o anfitrião pela terceira vez e iniciou a noite comentando como os fãs queriam o formato tradicional de volta.

Conhecido por suas piadas desconfortáveis, Kimmel não perdeu tempo e ainda no discurso de abertura brincou com o episódio do tapa de Will Smith em Chris Rock, na edição anterior. 

O anfitrião do 95o Oscars, Jimmy Kimmel. Imagem: Kevin Winter/Getty Images.
O anfitrião do 95o Oscars, Jimmy Kimmel. Imagem: Kevin Winter/Getty Images.

 

A falta de mulheres indicadas para Melhor Direção também entrou nas considerações iniciais de Kimmel como uma alfinetada na Academia de Cinema, e deu destaque para dois filmes esnobados cujas narrativas baseadas em fatos reais são focadas em mulheres negras: Till, sobre a luta de uma mãe para levar justiça aos assassinos de seu filho adolescente, e A Mulher Rei, estrelado por Viola Davis, conta a história de um exército africano feminino que lutou contra traficantes de pessoas no século XVIII.

A entrega das estatuetas começou por Animação em Longa-Metragem,o vencedor foi Pinóquio de Guillermo del Toro, desbancando O Gato de Botas 2: O Último Pedido, sucesso de bilheteria, e Red: Crescer É Uma Fera, da Pixar, estúdio recorrente na lista de indicados há mais de 30 anos.

Em Atuação Coadjuvante, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo fez dobradinha com Jamie Lee Curtis e Ke Huy Quan. O ator vietnamita-americano de 51 anos se emocionou durante o discurso de agradecimento, citando sua origem como refugiado e sua mãe: "Mãe, eu ganhei um Oscar!". 

Quan iniciou a carreira em 1984, interpretando o garoto Short Round em Indiana Jones e o Templo da Perdição, escudeiro do personagem de Harrison Ford, que lhe entregou a estatueta. Em 1985, participou do sucesso Os Goonies como Data Wang, ao lado de Jeff Cohen, quem também foi agradecido no discurso. Seguiu como dublê a partir de 2002 e, vinte anos depois, seu retorno triunfante às telas foi autointitulado de "sonho americano".

Jamie Lee Curtis e Ke Huy Quan venceram a categoria de Atuação Coadjuvante. Imagem: AFP.
Jamie Lee Curtis e Ke Huy Quan venceram a categoria de Atuação Coadjuvante. Imagem: AFP.

 

As estrelas de Creed III, Michael B. Jordan e Jonathan Majors fizeram questão de reconhecer Angela Bassett antes de apresentar a categoria de Melhor Fotografia. Bassett estava concorrendo a uma estatueta pela segunda vez, como Atriz Coadjuvante, pelo papel de Ramona em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, onde atuou com B. Jordan. Sua indicação de estreia foi em 1994, como Atriz Principal pela adaptação Tina: A Verdadeira História de Tina Turner (1993), porém, ainda não conquistou seu prêmio.

A Marvel não saiu de mão abanando este ano. Ruth E. Carter recebeu o prêmio de Melhor Figurinista, se tornando a única mulher negra a possuir duas estatuetas em casa. A primeira foi em 2019, também pela franquia Pantera Negra. Durante seu discurso, Carter dedicou o prêmio à sua mãe, que falecera na semana anterior, e pediu que Chadwick Boseman cuidasse dela.

Jamie Lee Curtis e Ke Huy Quan venceram a categoria de Atuação Coadjuvante. Imagem: AFP.
Ruth E. Carter, única mulher negra a conquistar dois Oscars. Imagem: Gilbert Flores/Getty Images.


Boseman foi celebrado novamente na premiação por Danai Gurira, elenco da mesma franquia. A música Lift Me Up, interpretada por Rihanna e indicada a Melhor Canção Original, foi escrita em homenagem ao ator, que faleceu de câncer em 2020.

O evento contou com a performance de outra grande estrela pop, concorrendo com Lift Me Up. Lady Gaga, em estilo Acústico MTV: Cássia Eller – jeans, camiseta, all-star e banda –, apresentou Hold My Hand, trilha sonora de Top Gun: Maverick. Mesmo com artistas famosas na disputa, a música Naatu Naatu, do filme indiano RRR: Revolta, Rebelião, Revolução, desbancou as favoritas e levou o prêmio de Melhor Canção Original. 

O cinema indiano conquistou outra estatueta na noite. O Melhor Documentário em Curta-Metragem foi atribuído a Como Cuidar de Um Bebê Elefante, das cineastas Kartiki Gonsalves e Guneet Monga.

Já o cinema argentino não pode dizer o mesmo. O filme sobre o julgamento dos militares da ditadura, Argentina, 1985, perdeu o título de Melhor Filme Internacional para Nada de Novo no Front, produção alemã da Netflix. O longa-metragem sobre a Primeira Guerra Mundial conquistou quatro prêmios no total, com destaque para Melhor Fotografia.

Kartiki Gonsalves e Guneet Monga. Imagem: Reuters.
Kartiki Gonsalves e Guneet Monga. Imagem: Reuters.

 

A homenagem póstuma In Memoriam foi apresentada por John Travolta, que não conseguiu esconder a emoção ao citar sua coprotagonista de Grease: Nos Tempos da Brilhantina, Olivia Newton-John. Lenny Kravitz cantou Calling All Angels enquanto outros membros da indústria do cinema que faleceram em 2022 eram lembrados. 

Além de Newton-John, Jean-Luc Godard (O Demônio das Onze Horas), James Caan (O Poderoso Chefão), Robbie Coltrane (saga Harry Potter) foram citados. Apesar disso, a atriz do concorrente a melhor filme Triângulo da Tristeza, Charlbi Dean, que faleceu aos 32 anos em agosto, não foi mencionada.

Charlbi Dean, Yaya de Triângulo da Tristeza,  no Festival de Cannes. Imagem: Getty Images.
Charlbi Dean, a Yaya de Triângulo da Tristeza, no Festival de Cannes. Imagem: Getty Images.


O final do evento consagrou Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo como o maior vencedor da 95a edição. Melhor Roteiro Original e Melhor Direção para The Daniels, Melhor Atriz para Michelle Yeoh e Melhor Filme. O único prêmio principal que não levaram foi de Melhor Ator, pois não estavam concorrendo.

Este ficou para Brendan Fraser, outro ator retomando carreira, por sua atuação comovente no filme A Baleia. Com esta vitória, a produtora A24 se tornou a primeira a vencer todas as categorias principais do Oscar (Atuações, Roteiro, Direção e Filme).

Ao longo da premiação, a tradição de os vencedores do ano anterior passarem adiante seus respectivos títulos se manteve até a categoria de Atuação Principal. Halle Berry substituiu Will Smith, Melhor Ator de 2022 por King Richard, que foi banido de eventos da Academia por 10 anos depois do incidente.

Esta adaptação, porém, propiciou o momento histórico em que Berry entregou a estatueta de Melhor Atriz para Michelle Yeoh, 60, a primeira mulher asiática a ganhar o prêmio. As duas são as únicas mulheres não-brancas a receber o título.

Halle Berry entrega a estatueta de Melhor Atriz para Michelle Yeoh. Imagem: Chris Pizzello/Invision/AP.
Halle Berry entrega a estatueta de Melhor Atriz para Michelle Yeoh. Imagem: Chris Pizzello/Invision/AP.

 

Aos 64 anos, Angela Bassett é a primeira pessoa indicada a um Oscar de atuação por filme da Marvel. Jamie Lee Curtis tem a mesma idade e venceu o prêmio a qual ambas estavam concorrendo, sendo o primeiro Oscar de sua carreira. Com 91 anos, John Williams é a pessoa mais velha a ser nomeada a um prêmio do Oscar, na categoria de Melhor Trilha Sonora por seu trabalho em Os Fabelmans. Cate Blanchett, aos 53, foi indicada ao Oscar pela oitava vez e Bill Nighy, 73, foi indicado pela primeira.

É preciso destacar como a Academia, sempre envolvida em controvérsias sobre diversidade, neste ano parece ter reconhecido o trabalho e a arte desenvolvidos por pessoas mais velhas. Valorizar a qualidade que apenas a maturidade pode fornecer vai em um caminho contrário à lógica da busca eterna pela juventude, reforçado por outras indústrias, mas principalmente pela cinematográfica, em especial para mulheres.

Ainda que seja inevitável em 2023 sentir falta de diversidade étnica e de gênero nas telas, ver pessoas com mais de quarenta, cinquenta, sessenta e tantos anos sendo vitoriosas por suas produções foi o que acabou dando um refresco, um clima de inovação na cerimônia nonagenária.

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