Os nove amados: Tarantino é um diretor memorável

Ninguém entra em conflito quando se fala da genialidade do diretor de Pulp Fiction e Kill Bill
por
Ricardo Dias de Oliveira Filho
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16/11/2022 - 12h

Com um total de 37 estatuetas recebidas nas maiores premiações do mundo cinematográfico, é inegável que Quentin Tarantino se tornou um dos maiores e mais influentes diretores da atualidade. Suas narrativas e estilo visual marcaram a indústria cinematográfica e conquistaram a crítica especializada e a popularidade.
Antes de iniciar sua carreira no mundo do cinema, foi gerente de uma locadora. Aliás, o próprio Quentin Tarantino deve muito de sua criatividade ao acesso a alguns dos filmes que inspiraram seu trabalho.
Consagrado entre os amantes da arte do cinema por seu estilo bem definido e inconfundível, o diretor nasceu no estado do Tennessee, nos Estados Unidos. Seu primeiro trabalho foi em My Best Friend’s Birthday, de 1987. Porém, foi em Cães de Aluguel, lançado em 1992, que o diretor iniciou sua ascensão ao estrelato. 
O longa, que rendeu o status de "Melhor Filme Independente já feito" pela revista Empire, foi o pontapé inicial em uma carreira promissora e influente.
Diretamente influenciado pelo movimento francês Nouvelle Vague, Tarantino também flerta diretamente com as raízes do cinema inglês, do faroeste e, principalmente, das artes marciais.
Com uma estética sanguinária e violenta, o diretor desenvolve narrativas divididas em capítulos - Kill Bill - Volume 1 e Volume 2, por exemplo -, com cenas de lutas marciais bem ensaiadas, diálogos extensos e, muitas vezes, não-lineares, além das trilhas sonoras que transmitem com exatidão o clima da cena.

Uma Thurman em Kill Bill / Foto: Miramax Films
Uma Thurman em Kill Bill
Foto: Miramax Films

Em 1994, foi lançado o longa Pulp Fiction. Considerado um marco na história do cinema e da cultura pop, o longa transpôs uma narrativa não-linear dividida em sete capítulos. Abordando o universo gangster de forma caricata, Tarantino traz ironia, humor e acidez ao gênero policial - não é à toa que o filme foi indicado a sete categorias do Oscar e recebeu a estatueta por "Melhor Roteiro Original'.
O título do longa metragem mais aclamado de sua carreira assumia referências à literatura popular norte-americana sobre crimes, muitas vezes vendida em papel barato (pulp). Suas obras, como sempre, assumiram a responsabilidade de retratar assuntos joviais com certo tom de ironia e acidez. 
Foi com Pulp Fiction que Quentin Tarantino foi reconhecido como uma verdadeira estrela na arte da direção cinematográfica. Não é à toa que a dádiva de mesclar assuntos joviais em uma atmosfera caótica lhe rendeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes, prêmio de maior prestígio do Festival de Cinema de Cannes.

Cena de Pulp Fiction / Foto: Miramax Films
Cena de Pulp Fiction / Foto: Miramax Films

Já em seu terceiro filme, Tarantino decidiu seguir um caminho diferente. Nesse, o roteiro seria uma adaptação do livro Jackie Brown, do autor Elmore Leonard. Menos estridente que seus antecessores, o filme, intitulado da mesma forma que o livro, abre espaço para os personagens e seus relacionamentos se desenvolverem entre os pontos cruciais da trama. Diferentemente de seu quarto filme.
Kill Bill Volume 1 e Volume 2 são explosivos. Voltado ao cenário de ação direta e vingança, o thriller acompanha uma história de vingança sangrenta e muitas cenas de artes marciais. Dividido em dois filmes, o longa é uma homenagem direta aos gêneros que o diretor se inspira, principalmente ao cinema oriental.
Do macacão amarelo de Jogo da Morte ao esquadrão dos Cinco Venenos Mortais, Tarantino, notavelmente, se apropria de elementos estrangeiros e consegue refletir, de maneira universal, a diversidade cultural dos Estados Unidos.
Porém, não apenas a cultura estadunidense é retratada, mas também a história mundial. Um fator importante é que o revisionismo histórico se mostrou presente em seus lançamentos mais recentes.
Os longas Bastardos Inglórios (2009), Django Livre (2012), Os Oito Odiados (2015) e Era Uma Vez em Hollywood (2019) compõem o seleto grupo de longas que decidem retratar períodos marcantes no mundo globalizado, desde a Segunda Mundial até o fim da Velha Hollywood.
Um fato importante é que, durante anos, Quentin Tarantino planeja se aposentar do cinema depois de dirigir dez filmes. Sua nona obra, Era uma vez em Hollywood, onde atuou como roteirista e diretor, recebeu indicações ao Oscar, Globo de Ouro e BAFTA.
Faltando apenas um filme para cumprir sua promessa, o diretor consegue recontextualizar um gênero premiado ao seu próprio toque. É criado um universo onde todos os erros podem ser corrigidos e tudo é possível - inclusive, matar Hitler de uma forma imprecisa. 
De ex-funcionário de uma videolocadora a um dos maiores diretores da geração. Com certeza, quando seus dias chegarem ao fim, Tarantino terá morrido como um samurai.

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