Os destaques do debate para governador do estado de SP

Rodrigo Garcia foi o grande alvo da noite, sendo vinculado ao seu antecessor, João Dória (PSDB), e questionado sobre obras paradas, além do esquema de corrupção de seu irmão Marco Aurélio Garcia.
por
Laura Mafra Boechat
|
17/09/2022 - 12h

Os candidatos ao governo do estado de São Paulo Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Rodrigo Garcia (PSDB), Elvis Cezar (PDT) e Vinicius Poit (Novo) compareceram ao debate organizado pela TV Cultura, Folha de S. Paulo e UOL no Memorial da América Latina. Os mediadores foram os jornalistas Leão Serva e Fabíola Cidral. 

 

Ao contrário de seus respectivos candidatos à presidência, Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas, que atuaram juntos no governo de Dilma Rousseff (PT), não protagonizaram grandes confrontos entre si. Os dois candidatos, que representam primeiro e segundo lugares nas pesquisas eleitorais para o governo do estado, destinaram as perguntas mais quentes ao terceiro colocado, Rodrigo Garcia. 

 

O atual governador de São Paulo recebeu, durante o primeiro bloco, duras críticas sobre temas referentes ao governo de João Doria (PSDB), como os aumentos dos impostos, os mais de 1 milhão de procedimentos aguardando agendamento na área da saúde e obras inacabadas. Demonstrando ter sentido a pressão dos oponentes, Garcia comentou durante o segundo bloco "eu sou governador, é natural que o governo seja vidraça dos adversários, mas eles só falam mal de São Paulo. Aqui ninguém reconhece absolutamente nada". Em seguida, citou feitos como o valor do Poupatempo e os Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs).

 

Em tentativa de se desvincular da imagem negativa do governo Doria, Garcia afirma: "Eu não falo de Bolsonaro, não falo de João Doria, não falo de candidatos porque eu não tenho padrinho político". 

 

Haddad rebateu o tucano, afirmando que "todo mundo tem padrinho". "O Rodrigo se esquece de que o Kassab foi padrinho dele, fez dobrada com ele. Ele serviu ao governo Kassab aqui na Prefeitura. Foi também do governo Pitta, foi secretário do Pitta. Rompeu com o Covas, brigou com o Covas, foi demitido, fez campanha para o Pitta e foi secretário do Pitta, foi secretário do Doria. Não é justo ele falar "sou vice, assumi há cinco meses". Ele foi secretário do Doria. A maior parte dessas maldades aconteceu na secretaria dele", comentou o petista.

 

No terceiro bloco, Garcia foi questionado pelo jornalista Thiago Herdy sobre os esquemas de corrupção de seu irmão, Marco Aurélio Garcia, condenado à prisão após ser apontado como operador de lavagem de dinheiro para integrantes da "máfia do ISS" na Prefeitura de São Paulo. O grupo teria desviado cerca de R$500 milhões de reais. Ainda buscando se desassociar das imagens negativas, Rodrigo comentou que "ninguém é responsável por irmão, ninguém é responsável por ninguém. Nós somos responsáveis pelos nossos atos. Se ele fez algo de errado, ele que pague. Eu respondo pelos meus atos". 

 

Haddad comentou a fala de Garcia, alegando que "você responde pelo que você comete [...]. Mas o que o jornalista perguntou é que você estava a poucos metros da sala onde o seu irmão agia criminosamente [...]. São poucos metros, você atravessava uma rua, e o teu irmão já estava lá fazendo as maracutaias com uma máfia de uma dúzia de fiscais que desviou meio bilhão de reais".

 

Garcia aproveitou o comentário do ex-prefeito de São Paulo para tecer críticas ao governo do PT. "Haddad, é a mesma coisa de eu dizer para você que você tinha que ter cuidado do erário público quando você foi ministro do Lula. O Mensalão começou no governo que você participou", pontuou o tucano.

 

Já Tarcísio de Freitas levantou a questão das obras paralisadas no governo do PSDB, convidando o eleitor a checar as 845 construções paradas no site do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. "21 bilhões já foram gastos nessas obras. Tem de tudo lá: creche, obras de infraestrutura, ponte, hospital. Tem obras icônicas, como a famosa Linha 17, a eterna obra do ano que vem, e o Rodoanel de São Paulo", comentou o candidato do Republicanos.

 

Mesmo estando na mira dos dois candidatos com mais intenções de voto, os efeitos do debate não se mostraram de todo negativos para Garcia. Segundo o último Datafolha, o atual governador voltou a empatar tecnicamente com Tarcísio de Freitas, com 19% e 22%, respectivamente. No último levantamento, Rodrigo Garcia aparecia com 15% das intenções de voto, enquanto o apoiado por Jair Bolsonaro tinha 21%.

 

 

Soldado do capitão

Apesar de Rodrigo Garcia ter sido o alvo da noite, Tarcísio de Freitas também marcou a mesma por deslizes. Além de um integrante de sua comitiva atacar a jornalista Vera Magalhães, o candidato respondeu de maneira equivocada à pergunta de Fernando Haddad sobre a conduta do governo federal em relação às vacinas na pandemia.

 

Segundo Freitas, "o Governo Federal assinou o primeiro contrato para a compra das vacinas para o Covid em agosto de 2020, quando a vacina ainda não era uma realidade. A gente ainda não sabia se ela ia ser desenvolvida, se ela ia ter eficácia [...]. O brasileiro podia escolher que vacina ia tomar, porque houve uma estratégia de diversificação de imunizantes [...]. Nosso case de vacinação foi um sucesso ao redor do mundo". 

 

No entanto, segundo o relatório final da CPI da Covid, apesar das negociações com Astrazeneca e a Universidade de Oxford, o governo federal rejeitou por três vezes ofertas de 70 milhões de doses de Pfizer que poderiam ter sido entregues em dezembro de 2020. O contrato com a empresa foi fechado apenas em março de 2021, sete meses após a primeira oferta, que demandava prazo de resposta no período de 15 dias e foi ignorada pelo governo.

 

Ainda no tema dos imunizantes, o aliado de Jair Bolsonaro (PL) defendeu a não obrigatoriedade da vacinação em território brasileiro: "a vacina nunca foi obrigatória, ninguém tirou uma pessoa de casa para se vacinar, mas graças a essas campanhas nós atingimos mais de 90% de cobertura vacinal, servindo de exemplo para o mundo". 

 

Assim como Garcia, Tarcísio buscou se distanciar da imagem do seu representante à presidência. Vinicius Poit alfinetou Freitas sobre sua relação com Bolsonaro: "Tarcísio, São Paulo não pode ser palanque eleitoral para nenhuma outra eleição. Como você acabou de responder, você foi conduzido e é conduzido pelo presidente Bolsonaro, foi conduzido para chegar aqui. São Paulo não pode ser conduzido", afirmou o candidato do partido Novo.

 

Em resposta, Tarcísio afirmou que seu governo será feito a partir de São Paulo, não de Brasília. "São Paulo não vai ser conduzido, vai conduzir, como é o seu lema, como sempre foi [...]. É bom ter o alinhamento com o Governo Federal, mas, no final das contas, quem vai conduzir o estado de São Paulo será o novo governador, e o novo governador serei eu", retrucou.

 

E as UPAs?

Rodrigo Garcia não foi o único cobrado por suas ações no governo. Reagindo aos ataques, o governador do estado questionou Fernando Haddad sobre seus feitos enquanto prefeito do município, de 2013 a 2016. "Você prometeu 25 UPAs, entregou apenas três, prometeu hospital, acabou não entregando, deixou um esqueleto de obras na saúde, e a maior fila da saúde de São Paulo. Tiveram até que fazer o corujão da saúde para fazer exame em mais de 700 mil pessoas aqui na cidade", apontou Garcia.

 

Haddad não contrariou as acusações de Rodrigo Garcia, mas mencionou em sua tréplica os Corujões: "esse Corujão da Saúde foi uma farsa, que nem existe mais. Ninguém mais nem fala. Mas os meus hospitais-dia estão aí, firmes e fortes, atendendo a população; e vou levar 70 para o interior para fazer o trabalho que você não fez".

 

Em 2013, quando assumiu a Prefeitura de São Paulo, Haddad prometeu a reforma de 20 prontos-socorros utilizando o modelo conceitual da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e 5 novas UPAs. Destas, foram entregues 3 e 12 foram reformadas. 

 

"Governo só no nosso?"

O candidato Elvis Cezar arrancou risadas da plateia com uma pergunta dirigida a Rodrigo Garcia. O PDTista questionou o papel do Estado em um cenário como o pós-covid e a conduta da gestão João Dória (PSDB) em São Paulo, da qual Garcia era vice. Levantando o aumento de impostos e o valor de 54 bilhões no caixa, Cezar debochou questionando o atual governador: "qual modelo do seu governo? É só no nosso?", tirando risadas até mesmo do candidato tucano.

 

 

Bastidores

Apesar do clima amigável entre os candidatos, a platéia presente não seguiu pelo mesmo caminho. Ao subir no púlpito, Rodrigo Garcia foi recebido com vaias pelo comitê do candidato Elvis Cezar. A equipe do PDTista também gritou que "vice é sempre vice" e chamou o atual governador de São Paulo de filhote de Dória.

 

Plateia do debate foi composta por equipes dos candidatos e jornalistas

 

A bagunça na plateia não foi composta apenas por ofensas. Os comitês de Elvis Cezar, Vinicius Poit e Rodrigo Garcia ovacionaram continuamente seus respectivos candidatos a cada resposta. O apresentador do debate e diretor de jornalismo da TV Cultura Leão Serva pediu inúmeras vezes antes do início da transmissão que as equipes dos candidatos evitassem barulhos e aplausos para seus candidatos. Serva foi ignorado pelos comitês, que continuaram com os aplausos mesmo durante o debate, obrigando o apresentador a chamar a atenção ao vivo.

 

Em dado momento, houve um embate direto entre Rodrigo Garcia e Fernando Haddad sobre o caso de corrupção envolvendo o irmão do tucano, Marco Aurélio Garcia. Ao mencionar os escândalos de corrupção no período do governo Lula, a equipe do governador paulista aplaudiu energeticamente. Os petistas presentes pediram silêncio e, em meio a algazarra, ouviram como resposta um "vai tomar no c*, para de pedir silêncio" vindo do fundo da platéia.