Os desafios que não envolvem o futebol

Como é o processo de profissionalização de um atleta de basquete no Brasil
por
Vitor Coelho Palhares
Cristiane Santos Gabriel
|
18/11/2022 - 12h

                 Ser um esportista e não jogar futebol no Brasil é um desafio. Em âmbito profissional é ainda mais trabalhoso e improvável. No cenário do basquete nacional não é diferente. O NBB (Novo Basquete Brasil), a primeira divisão do basquete nacional, começou a operar nesse formato apenas em 2008. Os clubes formam um corpo diretivo, administrando a competição como uma liga (todos os participantes têm o mesmo peso perante as decisões votadas pela liga). O grande desafio que esse campeonato enfrenta é a falta de estabilidade das equipes envolvidas, resultando em contratos de curto período, muitas vezes nem anuais, onde o atleta cumpre com seus deveres e utilizas as instalações recebendo pelo seu serviço apenas durante o período do campeonato vigente (menos de 6 meses se a equipe não atingir as fases finais).

                O basquete profissional passa a ser encarado como um ambiente profissional, mas também de muita incerteza, como comenta o atleta do Flamengo, Gabriel “Jaú” Galvanini: “Graças a Deus hoje em dia, depois de jogar pela seleção nacional e alguns clubes, tenho estabilidade aqui no Rio (Flamengo). No começo da minha trajetória no profissional tive passagens pelo basquete espanhol e depois no interior de São Paulo (Bauru), mas sempre na expectativa de dar tudo certo, não de me estabelecer como jogador em uma equipe e incorporar seu estilo”. Segundo fontes da própria liga nacional, apenas 17 times jogarão o campeonato de 2023, totalizando aproximadamente apenas 250 atletas profissionais com uma remuneração adequada em cenário nacional.

                O outro lado do espectro traz uma grande maioria de jogadores de base que enfrentam dificuldade nessa transição entre juvenil e profissional, muitas vezes abandonando a carreira de atleta, seja por falta de condições dignas de trabalho/pagamento, ou pela estabilidade que à profissão não apresenta, além de contar com o fato de ser um trabalho de curta duração, onde o atleta se aposenta das práticas esportivas na maioria dos casos em menos de 20 anos de exercício. O atleta Nicolas Ronsini comentou sobre essa transição: “Joguei na base do Palmeiras por 7 anos, passando pela maioria das categorias, jogando pela seleção de base e ganhando diversos títulos pela minha passagem. Quando completei 19 anos recebi uma proposta para jogar em Campina Grande, pelo time da Unifacisa, minha primeira chance como profissional, contrato de um ano com cláusula de renovação de mais um. Passado o primeiro, não jogando muito, fui transferido para o Corinthians, na minha cidade natal, mas nada foi como o esperado. Depois de um ano encerraram meu contrato. Como não tinha muita segurança, decidi abandonar o basquete. Hoje, trabalho com marketing digital e controle de tráfego”.

                O cenário esportivo no Brasil precisa necessariamente de políticas públicas eficientes, apoio financeiro e visibilidade em âmbito nacional, para que mais atletas envolvidos em esportes que não sejam o futebol tenham a condição de praticá-los como uma profissão estável e rentável, ou seja, com reconhecimentos de todas as partes.