Os contos de Dahl lidos no cinema

Curtas de Wes Anderson estreiam com aprovação entre 89 e 100 no Rotten Tomatoes
por
Artur Maciel Rodrigues
Maria Eduarda Camargo
|
09/10/2023 - 12h

 

(Cenas dos 4 curtas, foto: Instagram/Netflix)

A caricatura dos filmes de Wes Anderson e a famosa ligação do diretor à referências literárias não vem à toa, grande parte de suas obras é inspirada em livros e seus autores. Contudo, nenhum escritor como o controverso Roald Dahl esteve tão presente em suas obras. Dahl é autor de famosos livros infantis como: Matilda, A fantástica fábrica de Chocolate e O Senhor Raposo — que acabou se tornando filme de animação de Wes, lançado em 2009. O autor, nascido em 1916, fez fama ainda nos anos 40 com seus livros, que recentemente viraram polêmica pelo uso de palavras antissemitas que foram retiradas de seus livros pela editora.

Os quatro contos, Poison, The Rat Catcher, The Swan e The Wonderful Story of Henry Sugar, são gravados com os mesmo atores: Ben Kingsley, Benedict Cumberbatch, Dev Patel, Ralph Fienne, Rupert Friend e Richard Ayoade. A trupe britânica atua em diversos papéis nos curtas, e durante  “A incrível história de Henry Sugar” trocam de personagens em minutos. Seu palco são os locais descritos na histórias, incluindo: Um hospital em Calcutá, um cassino em Londres, um posto de gasolina infestado de ratos e uma lagoa, onde reside a gansa em The Swan. 

A influência de Dahl não se mantém apenas nos roteiros, mas na forma como a narração é dirigida: a história é visual e descritiva. Acumulado com esforço para deixar claro que tudo que se vê foi construído, Wes Anderson e Roald Dahl se entrelaçam para trazer à tona uma imersão aos contos do autor. Wes defendeu o autor com relação à edição dos contos: “Compreendo as motivações por trás das críticas aos livros de Dahl, mas não vejo por que alguém deveria alterar a obra de um autor que não está mais entre nós, só para agradar a uma certa sensibilidade”, conta ele durante entrevista no Festival de Veneza.



 

Sobre Wes Anderson

Conhecido por filmes como Grande Hotel Budapeste — pelo qual ganhou o BAFTA de Melhor Roteiro e o Globo de Ouro como Melhor Filme — e animações stop-motion como Fantastic Mr.Fox, Wes Anderson é cineasta, produtor, roteirista e ator. Nascido em Houston, nos EUA, o artista seguiu faculdade de filosofia no Texas, local onde acabou conhecendo Owen Wilson, que mais tarde viria a participar de diversos filmes do diretor.

Conhecido pelo seu estilo de filmagem excêntrico e organizado, Wes Anderson passeia pelo arrojado estético sem perder a linha de um roteiro cativante. O diretor é conhecido pelas filmagens simétricas, uso do plano holandês (filmagem diagonal) e pela famosa “comédia inerte” — em que o diretor brinca com as emoções do público ao trocar o ritmo de cena bruscamente.

"Grand Budapest Hotel", 2014. Ritmo

 

As referências do diretor no mundo animado também não são diferentes, já que Wes leva, por vezes, o estilo stop-motion clássico para seus filmes mais conhecidos, como em Grande Hotel Budapeste, e, mais recente, em cenas-chave de Asteroid City. E o lúdico não para por aí: na paleta de cores também correm tons pastéis e outonais, que a princípio soam presunçosos mas se encaixam muito na excentricidade dos personagens.

Recentemente, o diretor acabou alvo da IA em trends que exploravam seu estilo visual, como a adaptação de Star Wars, que causou reações adversas em internautas: “Uma inteligência artificial nunca será capaz de captar a sinceridade das emoções, expressões e humanidade  ‘pintadas’ na tela por Wes Anderson. Tudo que a IA é capaz é zombar de como uma imagem é estruturada. Não existe compreensão do Mis-Èn-Scene. (Ela) não sente.”

https://x.com/funeman_/status/1652775764557701120?s=46&t=UOTDLRf6yV_3k8xy-L640Q

Tags: