Orçamento de 2024 é entregue pelo Executivo ao Congresso

Projeto prevê prioridade social e déficit zero
por
Giuliana Barrios Zanin
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09/09/2023 - 12h

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o líder do Governo no Congresso Nacional, o senador Randolfe Rodrigues, apresentaram a Lei de Orçamento Anual (LOA), enviada para o Executivo, durante uma coletiva com jornalistas na última quinta-feira (31). 

O primeiro projeto oficial aprovado pelo Governo Lula tem como metas prioritárias zerar as dívidas das contas públicas e reajustar os investimentos para cada setor social.

Durante a coletiva, Haddad explicou que a reconstrução do plano, desde o início, visou corrigir distorções e dar sustentabilidade para despesas que foram aprovadas no ano anterior.      

Uma das palavras mais utilizadas durante a exposição do orçamento foi “sustentablidade”. De acordo com os especialistas, a ideia para o ano que vem é estabilizar a receita. A estratégia escolhida coloca na balança o déficit primário zero e o superávit necessário.

O déficit primário é o resultado negativo da receita pública, ou seja, houve mais gastos do que ganhos com as contas. Enquanto o superávit primário é a arrecadação superior às despesas do Governo.

Mas como funcionará na prática?

O economista e professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Roberto Feldmann, explica o efeito funcional do projeto. “ O efeito prático é que quando o governo consegue controlar seus gastos e torná-los inferiores ao arrecadado é mais fácil sobrar recursos os quais poderão ser usados em investimentos governamentais. Se isso acontecer poderá haver geração de novos empregos [...] A regra importante é a de que os gastos nunca devem superar o que o governo arrecada. Esta é a base do novo arcabouço fiscal. Difícil será implementá-la.”

Rearranjo orçamentário

O caminho mais trabalhado pelos idealizadores do planejamento tem sido um processo de ajuste. A ministra explicou que as áreas mais atendidas foram a saúde, a educação e os ministérios voltados à justiça social.

Com um total de despesas primárias somadas em R$ 2,06 trilhões, a área da saúde terá um aumento de R$ 50 milhões, o que equivale a R$ 218 bilhões no ano que vem.  Para a educação, haverá um aumento de R$ 9 milhões, transformando-se em R$ 108 bilhões anuais. O piso do investimento também cresceu, com alteração de R$ 3,9 bilhões. 

Outra medida de contenção intitulada foi uma projeção econômica para o caso de déficit das contas de 230 bilhões de reais, aprovada ainda no ano passado.

gráfico de barras que explica a taxa de investimento da educação, da saúde e de áreas da justiça social em ordem crescente
Ilustração: Giuliana Zanin. Dados: Governo Federal
*Ministério da Igualdade Racial (48,56%), Ministério das Mulheres(16,14%), Ministério dos Povos Indígenas: 5,03% e Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome: 3,11%

Outras mudanças 

O Congresso autorizou o aumento de 101 reais do salário mínimo (de R$1.320 em 2023 para R$1.421 em 2024). Além disso, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) teve uma mudança de 10% para 23% nos investimentos estatais. O Bolsa Família, que beneficia mais de 20 milhões de famílias, receberá R$169,5 bilhões e até o momento não recebeu reajuste.

 

Quem mais ganhou

 

1ºMinistério dos Transportes: 133,43% (R$ 57,4 bilhões)

10ºMinistério da Ciência Tecnologia e Inovação: 8,26% (R$ 12,4 bilhões)

2ºMinistério da Igualdade Racial: 48,56% (R$ 163 milhões)

11ºMinistério da Previdência Social: 6,21% (R$ 935,2 bilhões)

3ºMinistério da Fazenda: 27,04% (R$ 33,5 bilhões)

12ºMinistério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar: 6,06% (R$ 5,6 bilhões)

4ºMinistério da Saúde: 22,8% (R$ 231,38 bilhões)

13ºMinistério dos Povos Indígenas: 5,03% (R$ 856 milhões)

5ºMinistério das Mulheres: 16,14% (R$ 208 milhões)

14ºMinistério das Comunicações: 3,49% (R$ 1,9 bilhão)

6ºMinistério do Trabalho e Emprego: 11,69% (R$ 111,4 bilhões)

15ºMinistério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome: 3,11% (R$ 281,7 bilhões)

7ºMinistério da Educação: 10,26% (R$ 180,5 bilhões)

17ºMinistério da Defesa: 2,00% (R$ 126,1 bilhões)

8ºMinistério de Portos e Aeroportos: 9,55% (R$ 5,4 bilhões)

18ºMinistério da Pesca e Aquicultura: 1,96% (R$ 300 milhões)

9ºMinistério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços: 9,08% (R$ 2,8 bilhões)

 

 

 

Quem mais perdeu

7ºMinistério da Cultura: -10,13% (R$ 3,3 bilhões)

1ºMinistério do Turismo: -52,97% (R$ 270 milhões)

8ºMinistério das Cidades: -8,15% (R$ 20,9 bilhões)

2ºMinistério da Integração e do Desenvolvimento Regional: -52,80% (R$ 5,4 bilhões)

9ºMinistério da Agricultura e Pecuária: -3,78% (R$ 10,5 bilhões)

3ºMinistério do Esporte: -52,33% (R$ 607 milhões)

10ºMinistério do Planejamento e Orçamento: -2,49% (R$ 3,3 bilhões)

4ºMinistério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos: -17,18% (R$ 6,6 bilhões)

11ºMinistério de Minas e Energia: -1,94% (R$ 8,8 bilhões)

5ºMinistério do Meio Ambiente e Mudança do Clima: -16,06% (R$ 3,6 bilhões)

12ºMinistério da Justiça e Segurança Pública: - 1,19% (R$ 20,4 bilhões)

6ºMinistério dos Direitos Humanos e Cidadania: -15,66% (R$ 412 milhões)

13ºMinistério das Relações Exteriores: -0,36% (R$ 4,7 bilhões)

 

Previsões

  • Crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,26%;

  • Redução da taxa básica de juros (Selic) para 9,8% (em 2023, a taxa Selic fechou em 13,25%), para impulsionar a movimentação do mercado financeiro, já que a previsão é que os juros caiam para compra e venda.

Prováveis consequências

A nova regra fiscal promete uma variação controlada dos gastos, porém Feldmann destaca certa rigidez no projeto. “A flexibilidade é muito pequena porque a maior parte dos gastos são praticamente impossíveis de serem cortados como aposentadorias ou salários de servidores . O único gasto importante que poderia ser diminuído são as despesas de juros, mas para isso seria importante reduzir significativamente a taxa SELIC  coisa que o Banco Central não quer fazer.”