Por Larissa Isabella Araújo de Sousa
Itapecerica da Serra, interior de São Paulo, uma paisagem iluminada pelo crepúsculo, à medida em que caía o sol, Bruno Roberto dos Anjos ficava cada vez mais empolgado para contar sobre os cães que a ONG cuida e seus nomes criativos. Na ONG Cão Sem Dono o principal ponto é o bem estar do animal e o incentivo à retomada deles para a sociedade a fim de fazer com que a adoção seja possível. No Brasil há mais de 30 milhões de animais de rua entre cães e gatos segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), destes cerca de 170 mil estão sob os cuidados de ONGs que lutam pela causa animal.
Durante a pandemia do coronavírus a situação ficou ainda pior. Além do crescimento da taxa de abandono, os animais começaram a ser deixados em piores condições. Bruno contou que após os 20 anos da organização, os animais começaram a chegar mais machucados, mais magros por estarem passando fome. As ONGs têm uma batalha árdua para conseguir se manter e construir uma boa estrutura para abrigar cada vez mais bichinhos, além disso como não possuem uma entrada fixa de renda elas dependem muito das doações da população. Outra forma de ajudar é apadrinhando um animal, ideal para quem ama os animais, mas não consegue cuidar de um por qualquer motivo.
Em um País em que grande parte da população ainda compra animais, o abandono por qualquer situação fora do controle dos tutores ainda é muito comum. O funcionário da ONG explica que as pessoas têm muito enraizado na mente um cachorro ideal para a adoção, elas chegam com o pensamento voltado em uma fêmea dócil, de pequeno porte e que seja quieto. Irônico como querem adotar um cão para companhia, mas quanto mais humanizado o animal for melhor. A sociedade está muito movida ao bem-estar próprio e ignora que os animais também precisam ser acolhidos, compreendidos e, claro, se necessário, adestrados. No entanto, não deve-se chegar com uma ideia tão fixa de algo vai ser bom apenas para o tutor, dessa forma a probabilidade de devolver o bichinho é grande.
Ao conversar com tutores de animais adotados, o principal incentivo na hora da adoção é sempre a ligação com o cãozinho. Inicialmente a ideia surge por gostarem de bichos desde pequenos e depois de entender que os animais têm sua própria personalidade, as pessoas começam a procurar por organizações seguras que tratam os animais corretamente e então tentam se conectar com um dos bichinhos, para depois adotar.
A venda de animais é ainda uma prática muito comum no Brasil, porém se trata de uma ação ilegal regulamentada na lei de número 11.977 de 25 de agosto de 2005. A ilegalidade acontece porque em grande parte dos casos de criação para o comércio, os animais são explorados e passam por maus tratos em prol de um benefício financeiro a quem os cria. A estrutura das organizações não é só sobre o tamanho e quantos animais conseguem cuidar, é sobre a forma que os tratam.