Desde os primórdios da sociedade as mulheres sofriam com pressões estéticas e sempre tiveram que se adaptar aos padrões impostos pela sociedade. Assim como as mulheres se adaptaram, a sociedade também se adaptou, os padrões ficaram cada vez mais inalcançáveis, afinal a cada década era apresentado um padrão diferente e com isso foram criadas novas formas de se encaixar, roupas, maquiagens, e outras formas de manipulação, como o photoshop.
Os anos 2000 foram marcados pela magreza excessiva, calças de cintura baixa, tops e croppeds eram as principais peças de roupa da época, que tinham a intenção de valorizar e expor a silhueta extremamente magra das mulheres na época. Já nos anos 2010 essa estética mudou, mulheres com grandes seios, grandes quadris e cinturas finas se tornaram o padrão, fugindo totalmente da estética de 10 anos atrás. “A dismorfia corporal na maioria das vezes é uma idealização da pessoa. Quando não se trata de algo real, a disfunção leva a pessoa a viver em função de um corpo ou uma aparência que ela idealizou”, afirma a psicologa Maria Angélica Peres Camargo. Como as mulheres que se esforçaram tanto para serem extremamente magras vão conseguir se encaixar nesse padrão que não é abraçado de maneira natural?
Em 1990, o Adobe Photoshop, mais conhecido e mais usado software de edição de imagens, foi lançado, e, desde então, outros softwares e aplicativos do tipo se tornaram cada vez mais acessíveis e populares, permitindo que qualquer pessoa consiga editar uma fotografia de maneira fácil e rápida, até mesmo pelo celular. Apesar disso, dar o poder de manipular uma foto para todo e qualquer um trouxe problemas para a sociedade contemporânea, sendo um deles a mudança de características físicas de alguém.
Essa mudança (que ficou conhecida como photoshop, devido ao nome do aplicativo da Adobe Systems citado anteriormente) é, na maior parte das vezes, feita em fotos de mulheres, ou por elas mesmas, ou por alguém responsável pela imagem delas, no caso de celebridades. A intenção do photoshop é encaixar essas mulheres o máximo possível no padrão de beleza, mexendo em fotos dos seus rostos e seus corpos para tal. Nesse contexto, as mulheres se sentem mais inseguras e vulneráveis, e se tornam mais suscetíveis a sofrerem com a pressão estética.
Pressão estética é o nome dado à pressão que geralmente uma mulher sofre em relação à sua aparência, e o quanto ela se encaixa no padrão de beleza. Desde a infância, as meninas já são pressionadas a estarem dentro desse padrão, com comentários vindos muitas vezes até mesmo de outras mulheres da família, comparando crianças entre si e fazendo com que elas também se comparem. Quando essas meninas crescem, na adolescência e no início da fase adulta, é quando elas mais sofrem com essa pressão, e, mesmo que isso se abrande com a idade, mais de 90% das mulheres se dizem insatisfeitas com seus próprios corpos. Esses dados são bem justificados quando se analisa como as mulheres se comportam nas redes sociais.
Nas redes sociais, as mulheres têm muito mais chance de se compararem com outras, principalmente com celebridades. Ao postarem fotos editadas pelo photoshop, essas celebridades ajudam a criar um padrão de beleza cada vez mais inalcançável, mas que, mesmo assim, as mulheres buscam atingir incessantemente. Isso cria um círculo vicioso, no qual essas fotos editadas são postadas, impactando outras mulheres, que também alterarão suas aparências e também serão um exemplo negativo.
Vale ressaltar que todas as mulheres sofrem com a pressão estética, mas mulheres de fato fora do padrão (não-brancas, gordas, com deficiência) são as maiores vítimas dela. Um dos maiores exemplos de celebridades e seu padrão inalcançável: Kim Kardashian remove gordura corporal através do photoshop.
A pressão estética sobre as mulheres é um fenômeno sociocultural, que acarreta em distúrbios e transtornos psicológicos e físicos, simultaneamente. Os mais comuns são a dismorfia corporal e os transtornos alimentares.
A dismorfia corporal é a visão distorcida que uma mulher tem do seu próprio corpo. O que ela enxerga quando se olha no espelho é completamente diferente de como ela de fato é. Isso a leva a buscar incessantemente mudar as características que ela vê, mas que, na verdade, não estão lá, ou não estão lá tanto quanto ela imagina. Apesar de ser comum a distorção da autopercepção em mulheres, nem todas têm dismorfia corporal, que só pode ser diagnosticada por um psicólogo especialista na área. No Brasil, mais de 150 mil casos são registrados por ano.
Os transtornos alimentares (que podem ser uma das consequências da dismorfia corporal) são hábitos alimentares poucos saudáveis e que, nesse contexto (eles podem também estar relacionados a outras questões), buscam atingir o corpo ideal de muitas mulheres. Comer pouco ou simplesmente não comer, exageradamente se ater às calorias e aos macronutrientes, purgar refeições forçando o vômito em si mesma ou tomando laxantes e se exercitar mais do que o necessário são as principais características desses transtornos alimentares. Os mais conhecidos são: anorexia, quando uma mulher já muito magra come o mínimo possível (idem à dismorfia corporal); e bulimia, quando a mulher purga o que comeu (mais de 2 milhões de casos registrados por ano no Brasil).
Em entrevista para a AGEMT, a psicóloga Angélica, ela ressalta como a mídia tem um grande papel no desenvolvimento destes transtornos, “O que percebemos é que a mídia e as funções tecnológicas contribuem significativamente para o desenvolvimento do transtorno”, muitos acreditam que essas ferramentas e interações sociais sejam inofensivas, mas quando uma mulher interage com um padrão que não é o dela, é onde começam os questionamentos.
Poucas mulheres têm a consciência de que as suas ações promovendo uma imagem irreal e perfeita afeta diretamente a saúde mental de outras que as acompanham, isso ocorre por uma necessidade de validação de si mesma, onde muitas pessoas acham que existe uma figura saudável e segura na realidade não existe ninguém seguro de sua própria imagem.