Por Laura Melo de Carvalho
“Na primeira hora de efeito meu coração já estava acelerado, as luzes ganharam tonalidades diferentes e um brilho forte, todo o espaço à nossa volta de repente parecia muito maior do que antes, senti a energia fluindo entre minha pele e o som., os galhos no topo das árvores pareciam criar novos ramos, se multiplicando sem nenhuma explicação, as raízes no chão se multiplicavam em novas ramificações, os desenhos psicodélicos agora se mexiam e alteraram sua forma e tamanho. Senti uma sensação de compaixão, êxtase e alegria que nunca havia sentido antes, podia ver as árvores respirarem, sentia como se estivessem conectadas à nós de alguma forma, na verdade podia sentir como se todos estivéssemos conectados”, detalha Vinícius Morgado sobre sua primeira viagem bem sucedida de LSD.
A palavra psicodélico trata de um neologismo, resultante da junção de psique, mente, e delos, digamos que visão. O termo psicodelia sintetiza a ideia de manifestação da “revelação do espírito”, e psicodélico é o que torna visível a alma, sintetizando tudo que Vinícius vivenciou na sua experiência com alucinógenos.
Apesar de ser um assunto delicado e que envolve muito preconceito e processos burocráticos, nos últimos tempos, estudos que comprovam a eficácia do uso de drogas alucinógenas, em sua maioria ilícitas, no tratamento de doenças neurológicas e distúrbios mentais, têm movimentado a comunidade científica, que vem recebendo investimentos de até 17 milhões de dólares para as pesquisas na área.
Como explica Torsten Passie, pesquisador da farmacologia do LSD, a farmacologia do semi sintético ainda é complicada e um pouco desconhecida, mas garante que não deixa efeitos duradouros no cérebro ou em outras partes do corpo, sendo muito raro casos de overdose, sem casos relatados de morte com overdose do ácido até hoje, além de ser uma droga que não causa dependência. Após mínimos casos de overdose com a droga, pesquisadores e terapeutas identificaram efeitos positivos do alucinógeno nos pacientes, que até então sofriam de transtornos psicológicos, mas que tiveram seus quadros amenizados após a trip.
De acordo com um relato de Lily, trabalhadora do Vale do Silício que teve seu nome ocultado, “se o LSD for consumido em pequenas doses, cerca de um décimo do que seria uma dose “normal”, seus efeitos são bem diferentes do que se espera dessa substância: pessoas que experimentaram essas micro doses garantem que a droga aumenta a concentração e a capacidade, além de reduzir a ansiedade. Além dessas vantagens, o LSD melhora a comunicação interpessoal, aumentando a empatia de quem usa.” Diante disso, no Vale do Silício as experiências com o alucinógeno tem se tornado uma forma de alcançar o maior rendimento no trabalho, virando uma nova tendência entre seus colegas de trabalho.
Sobre o funcionamento do LSD no sistema nervoso, o neurocientista Júlio Santos explica, “O LSD, é uma droga que age diretamente no sistema nervoso central, quando ingerida pelo indivíduo, mimetiza o neurotransmissor serotonina - molécula responsável pela comunicação *entre os neurônios relacionada ao nosso humor e bem-estar - com quem compete ativamente pelo mesmo receptor - 5-HT2A, promove inibição desses receptores e, dessa forma, altera a forma como o cérebro interpreta a realidade, causando alucinações, delírios e ilusões da realidade.”
Portanto, o uso do LSD e outras drogas mais fortes, que são diferentes da Cannabis, em tratamentos de transtornos e doenças psicológicas ainda é muito desconhecido e pouco frequente, muito pelas poucas informações sobre a droga e seus efeitos, e o preconceito que envolve o uso do LSD dentro da sociedade e da comunidade científica, apesar de parecer ter um grande potencial medicinal, ainda não conhecido.