O Turismo da Vacina

Com o avanço da vacinação contra o coronavirus, países como EUA querem vacinar seus turistas, mas a que preço?
por
Suzana Rufino e Silvana Luz
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24/06/2021 - 12h

Por Suzana Rufino e Silva Luz

Enquanto o Brasil caminha em passos lentos, países como os Estados Unidos e Rússia entre outros, já pensam em vacinar turistas. A prioridade é vacinar sua população, porém, como o comprovante residencial não está sendo solicitado, muitos estrangeiros, inclusive brasileiros, estão comprando pacotes de viagens rumo a nação estadunidense (o que mais se destaca). No entanto, para o Brasil, há um cumprimento obrigatório de ficar em quarentena no México ou em uma ilha Caribenha antes de ir aos EUA, devido os altos números de óbitos por covid-19. Por esse lado, parece uma questão de organização, dinheiro e lucro, pois para os que têm condições financeiras, só basta comprar um pacote de voo, ficar 15 dias em um país emergente ou ilha, e depois, partir para o destino final, e os que lucram, simplesmente ganham o título de “acolhedor” e “esperto”. O deficit dessa questão, são os quem podem e não podem aderir esse turismo, por que, no caso do Brasil, a maioria da população, hoje, busca o auxilio emergencial para sobreviver, então, percebe-se que, os únicos que podem adquirir o “passaporte da salvação” são os ricos.

Os EUA aceitam turistas para vacinarem, porém, para os brasileiros, a quarentena terá que ser cumprida em um país subdesenvolvido, como o México (o mais optado). E qual a vantagem desse último? Nada, risco de mais contágios e surgimento de novas cepas. Mas o turismo, um dos setores mais atingidos em meio a pandemia, os mexicanos podem lucrar com isso? Não! Pois, será uma estadia sem lazer de 15 dias, com o intuito de observar se o turista não foi contagiado, por que não pode viajar para os Estados Unidos nessas condições “eles querem pessoas sadias, que se vacinam lá e gastem”. Isso mostra o quão o Brasil tem uma governaça precária, pois se não tivesse negado as altas subnotificações de mortes por coronavírus, muitas vidas estariam preservadas. O fator é que não foi só o governo de Jair Bolsonaro que preferiu tapar os olhos para não assistir o colapso de sua má administração em meio a pandemia da covid-19, a população também contribuiu, seus seguidores, principalmente (a maioria) ricos, que até hoje, negam a proporção da doença e defendem o tratamento precoce. As agências de turismo foram as que mais perderam com essa pandemia, e provável, que lucrem com essa empreitada. Porém, lucrar com algo incerto, pois não é certeza que os turistas que comprarem o pacote vão se vacinar, e não se preocupar com o país que recebem essas pessoas para quarentena, não é sensato, é imoral e egoísta.

O publicitário Diego Silvero de 29 anos, mora desde 2002 na Califórnia e conta com olhares atentos, como está sendo a vacinação da população e turistas (brasileiros). “O governo incentiva a vacinação em locais públicos como shoppings e metrôs, e a vacina que está sendo aplicada é a Janssen, a de dose única. O incentivo vem de diversas formas, exemplo, no metrô, o cidadão americano que for vacinado, ganha passagem durante sete dias, pois existem algumas pessoas relutantes em se vacinar, então o governo faz dessa forma para poder incentivar a vacinação, porém isso é restrito a cidadãos. Já para os brasileiros, eles devem fazer uma quarentena de 15 dias  no México ou em alguma ilha Caribenha antes de poder ser vacinado. Todos os brasileiros estão sujeitos a essa quarentena. Situação triste, pois somos vistos como um País que pouco se importa com a crise sanitária e seus cidadãos. Enfim, os Estados Unidos estão descrentes perante a nós”.     

O economista, mestre em economia e professor Marcos Henrique do Espírito Santo, fala sobre a precariedade do Turismo da Vacina. “Uma coisa muito nova que está acontecendo agora que é essa questão do turismo da vacina, que em primeiro lugar, países, como por exemplo, o México ou os caribenhos, que tem servido de quarentena para poder entrar nos Estados Unidos, no meu ponto de vista revela muito mais da nossa miséria e da nossa mediocridade do que propriamente de um negócio. Dada a incompetência do governo brasileiro pensando no nosso caso, dos ricos que podem fazer esse turismo da vacina, pensando na nossa mediocridade na nossa desigualdade gigantesca, os ricos que primeiro trouxeram o vírus para cá, uma parte deles negou a pandemia, forçou a economia abrir, ajudou a fazer um discurso junto com esse presidente negacionista para colocar o povo na rua para trabalhar, e claro para que suas vendas não caíssem, para que seus lucros não caíssem, vão para um país pobre também como o México fazer quarentena, porque os Estados Unidos não são bobos nem nada, eles falam *você fica aí fora um tempinho até poder entrar aqui tomar vacina*. Isso revela o tamanho da miséria que a gente vive, quer dizer, a gente vive um caos completo aqui dentro, meia dúzia de sujeitos com poder aquisitivo altíssimo, saem daqui e vão fazer quarentena em outro país pobre, para depois poder chegar nos Estados Unidos e tomar a vacina. Quer dizer, que no fim a vacina realmente é o que salva vidas, essa gente sempre soube disso, mas fez questão de negar porque colocar os outros para trabalhar em aglomeração é muito mais fácil que a própria vida deles. Então nesse ponto de vista, não vejo vantagem nenhuma para o país que recebe esses turistas ricos, que vão fazer a quarentena. O México por exemplo, também vive um problema não como nosso, mas muito parecido com grau alto de contaminação e que corre um risco sério de ter novas cepas, de misturar esses vírus que estão circulando etc". 

"No ponto de vista comercial, as agências de viagem claro, devem estar conseguindo ganhar alguma coisa tendo em vista que o turismo foi o principal setor atingido, junto com comércio e serviços nessa pandemia, porque fechou tudo, impôs restrição etc., mas eu acho que isso é mais um problema moral, intelectual e da nossa formação mesmo do que uma questão econômica e revela o tamanho do buraco que a gente se meteu. Um governo que não pode se chamar de governo, isso que a gente tem, negou a pandemia propositalmente para reforçar um discurso para os seus apoiadores para manter a sua narrativa com a sua base, arriscou matar quase meio milhão de pessoas, isso se desconsiderar a subnotificação. E agora, essa meia dúzia de ricos que apoiou isso que se chama de governo, que pega o seu bom dinheirinho que vai para os Estados Unidos tomar vacina. Então, isso é uma coisa que não tem como achar legal, é uma questão a meu ver, medíocre nossa brasileira, latino-americana, do ponto de vista financeiro, eu realmente não sei avaliar porque acho que são tão poucos casos que  isso revela muito mais uma a uma questão exótica que é a elite latino-americana, que ter propriamente um impacto econômico efetivo. Acho que é só para rir da nossa cara mesmo mostrar o quão miserável nós somos,  mesmo com o tamanho do SUS, a competência vacinação e a gente não conseguir dar conta disso e permitir que essa gente deite e  role literalmente em cima da nossa desgraça brasileira. Do ponto de vista de problemas que as agências podem ter, eu não vejo nenhum problema elas estão é ganhando dinheiro e aproveitando essa demanda peculiar, eu acho que quem ganha e quem perde são sempre os ricos que ganham e a grande massa sempre perde para os ricos. Daqui a pouco ano que vem os ricos vão apoiar novamente esse governo desde que ele mantenha essa agenda de destruição nacional e por aí vai e vai continuar dessa forma mesmo é uma questão eminentemente política, então a manutenção desta narrativa, apoiada por esses ricos que vão para fora tomar vacina revela quanto medíocre nós somos de maneira geral.