Autorizado pelo próprio Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), eleitores, tanto no primeiro quanto no segundo turno, têm total liberdade, segundo o órgão, de fazerem uso de bandeiras, adesivos, broches, acessórios, camisetas ou qualquer outro tipo de adereço ou peças de roupas que espelhe e demonstre suas preferências políticas. Votantes são livres no país para se manifestarem, desde que individualmente e silenciosamente, suas escolhas em dias de eleições. Contudo, mesmo sendo autorizado pelo Supremo, de modo individual, muitos eleitores se previnem cautelosamente ao saírem de suas casas para votarem no grande dia. Buscando amenizarem qualquer chance de uma possível confusão com eleitores da oposição que possam encontrar pelo caminho até o local de votação, parte dos brasileiros checam se estão, visualmente, considerados como neutros e imparciais.
Sarah Vicente, estudante de arquitetura e urbanismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), teve muito cuidado ao escolher as cores de sua vestimenta com a qual sairia de casa para votar. Procurando não ir com cores de nenhum partido, justamente para não chamar a atenção de ninguém, o grande medo dela era sofrer algum tipo de ataque por conta de ideologias políticas: “Eu fui de camiseta cinza e calça jeans, uma roupa mais neutra, não estava a fim de chamar atenção de bolsonarista”.
Mardio Souza, que trabalha com construção civil e cursa atualmente engenharia na área, seguiu a mesma lógica de Sarah. Escolheu ir com "roupas apartidárias" no primeiro turno: “Fui com roupa básica, levei em consideração não usar cores com expressão política: nem vermelho, nem verde, nem amarelo. As cores e vestimenta são um gesto de protesto, é muito perigoso. (...) Você vê cara com roupa vermelha brigando com caras com roupas do Brasil, sendo que ninguém vai mudar a opinião do outro brigando. É perigoso".
Devido a tamanha polarização política que o país enfrenta, sair de casa com as cores do partido que o cidadão defende e acredita é se colocar altamente em risco. Apenas no primeiro semestre de 2022, segundo um levantamento feito pela UniRio, ocorreram 214 casos de violência política no país. O tipo de agressão cresceu 335% somente nos últimos três anos. A radicalização extrema entre eleitores, maximizados pelo enfrentamento físico e por constantes ameaças contra a vida do próximo, tem levado brasileiros à morte por defenderem quem acreditam ser o melhor representante de seus ideais.
Entre um dos casos ocorridos este ano, um homem entrou em um bar no município de Cascavel, no Ceará, perguntou ‘quem vota em Lula’ e matou um eleitor que se manifestou. Em outro episódio parecido, no Rio do Sul, no Vale do Itajaí, Santa Catarina, um bolsonarista foi esfaqueado até a morte por um petista após também brigarem em um bar por conta de divergências políticas. De acordo com uma pesquisa feita pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 67,5% dos brasileiros têm medo de sofrerem alguma espécie de violência política. Principalmente as parecidas com os eventos citados.
Logo, mesmo sob a garantia do TSE de que nos dias de votação não exista um padrão de roupa determinado, para se manter salvo e seguro durante as atuais eleições, o melhor a se fazer é se resguardar para garantir a própria integridade física e a do outro e, com isso, fazer uso da mais forte ferramenta que o Estado Democrático de Direito nos estabelece como a nossa maior manifestação política, o voto.