O que te move?

A dança como parte inerente ao que é ser humano
por
Bruna Parrillo de Carvalho
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23/06/2022 - 12h

 

 Há questões da humanidade que jamais conseguirão ser respondidas, uma delas - por que dançamos? Será uma forma de comunicar o que não conseguimos colocar em palavras? Ou uma forma de se conectar ao mundo? 

Por ser um meio entre o biológico e o cultural, a dança assim como a arte é um reflexo de nós, uma extensão do lugar que habitamos e do momento histórico em que vivemos. Para a bailarina da companhia de dança Ballet Stagium de São Paulo, Raffaela Scotti, a palavra dança “significa vida, e a vida é dança, não tem dissociação.” O corpo é um veículo genuíno de representatividade do interior e exterior, sendo assim a dança transforma-se em uma ferramenta de entendimento do mundo e da humanidade. “Não é que eu poderia viver sem a dança, não teria nenhum sentido estar em uma existência sem dançar”, reflete.

O século XX foi marcado por um período complexo, de rupturas, transformações e guerras, as consequências desses episódios refletiram diretamente na sociedade, na psique humana e nas artes. Em 1920 após a primeira guerra mundial, surge na Alemanha o movimento artístico conhecido como expressionismo, que busca exteriorizar o inconsciente humano. A dança foi influenciada por essa corrente e o coreógrafo Rudolf Laban promove uma pesquisa que explora a compreensão dos conflitos entre corpo e mente. “Apesar da gente querer fugir, também somos natureza, temos que aceitar o irracional”.

Em um breve espaço de tempo a Alemanha passa por duas guerras, o que deixa seu território arrasado sócio, político e economicamente. Nesse contexto, as teorias produzidas por Rudolf Laban caem no esquecimento, no entanto, a partir dos anos de 1970 retomam com os trabalhos da coreógrafa Pina Bausch, inserindo a dança-teatro que se fundamentava em uma dança que deveria ser experienciada, percebida e sentida. 

Qualquer movimento pode ser dança: andar, amarrar os sapatos ou até olhar. “Eu não faço uma dança, estou sempre dançando. A dança é esse movimento de mundo que flui entre as coisas. Tudo é dança”, comenta. Os gestos simples do cotidiano são ressignificados para Pina Bausch, através da repetição tornam-se abstratos, ganhando outro sentido, um estatuto estético e social-crítico. 

A personalidade, histórias e as vivências dos bailarinos permeiam todo processo de criação, expondo em suas obras um ser humano frágil, com dúvidas e inquietações. Para a coreógrafa o bailarino precisava ser consciente dos seus impulsos, se colocando à escuta de si mesmo e deixar que os gestos brotassem dessa conscientização. “Eu não tenho como fugir do que eu sou e a forma que vejo as coisas, única saída é me entregar por inteira”, conclui.

O processo constituía através de questionamentos individuais, na tentativa de problematizar e se aproximar das experiências subjetivas, e partir delas, propor uma retratação da realidade, fazendo com que o público se identificasse com o humano à sua frente. Nas palavras de Pina Bausch, suas criações são um “espaço que podemos encontrar uns aos outros”. 

Afinal, o que te move? “Nem sei como explicar porque é algo tão óbvio e tão simples. É quando a pessoa fala de algo com brilho nos olhos de alguma memória de algo que viveu, uma história da vida dela, é quando fala de alguém que  ama. É quando está por  inteira, viva e pulsando. É isso que me move”.

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