O que o setor de floricultura espera para o Dia das Mães

por
Rafaela Soares
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05/05/2020 - 12h

Em meio à quarentena e à recessão  provocadas pela rápida proliferação do coronavírus, o mercado floricultor do país já deixou de faturar R$ 297,7 milhões apenas entre os dias 14 e 28 de março, quando as medidas de isolamento social começaram a ser implantadas. Segundo o  Ibraflor (Instituto Brasileiro de Floricultura), o setor movimenta R$ 8,67 bilhões em toda a cadeia e gera mais de 1 milhão de empregos, sendo 210 mil diretos e 800 mil indiretos.

Após um bem-sucedido Dia Internacional da Mulher (8 de março), as previsões para o Dia das Mães (10 de maio) eram muito boas: “A situação mudou de uma hora para outra e o setor da floricultura foi atingido de maneira drástica”, comentou Kees Schoenmaker, presidente do Ibraflor, para o jornal Holambrense.

De acordo com o instituto, os prejuízos previstos para o mês de abril devem somar mais de R$ 669,8 milhões e a perda estimada para o Dia das Mães é de R$ 396,9 milhões.

Lucimeire Barbosa, uma das donas da Floricultura Marajoara,  no cemitério de Congonhas, conta que as vendas caíram cerca de 90% desde o início da quarentena. “Como o tempo dos enterros diminuiu, nem coroa de flores a gente tá vendendo direito”, diz Lucimeire. Ela acrescenta que não conhece nenhuma outra floricultura que tenha mantido as atividades neste período.

Em relação ao Dia das Mães, Lucimeire não tem expectativas de venda. “O Dia das Mães costuma ser muito bom, tanto pra quem vem ao cemitério presentear, como pra quem compra e vai pra casa. Se a quarentena continuar, do jeito que tá acho que a gente não vende nada. Ninguém vai querer sair”, afirma.

Em uma live feita no perfil do Canal Terraviva no Instagram, o diretor de marketing do Ibraflor, Renato Opitz, comentou sobre a maior apreensão do setor em relação ao Dia das Mães. "O volume da produção no Dia das Mães é muito grande, então ele dependia de toda uma cadeia logística de distribuição funcionando perfeitamente para poder escoar. A nossa principal preocupação agora é que essa cadeia funcione, ou seja, não adianta o próprio consumidor, próximo do Dia das Mães, querer o produto e não ter", disse.

Em 2019, o Dia das Mães deu um lucro de quase R$ 10 bilhões ao comércio, sendo a segunda data comemorativa  mais lucrativa para o setor. Diante disso, neste ano,  comparando os resultados da Páscoa com os do ano passado, muitos comerciantes chegaram a propor a mudança do Dia das Mães para o segundo domingo do mês de julho. O governador de São Paulo, João Doria, sugeriu que a data fosse celebrada em agosto.

A respeito de um possível adiamento, Opitz afirmou: "Da nossa parte, do setor de flores ornamentais, a gente é totalmente contra essa mudança por vários motivos, sendo o principal o fato de as flores já estarem plantadas para essa data, então os produtores não teriam onde escoar essa produção e depois, em julho, não teria flor, ou seja, agora vai sobrar e depois vai faltar".

O Ibraflor, junto a cooperativas de Holambra (SP), conhecida como a “cidade das flores”, formou um comitê de crise para monitorar os impactos causados pelo novo coronavírus e analisar o mercado para minimizar os prejuízos em meio às medidas do isolamento social, que fizeram com que festas e eventos fossem cancelados.

Além da criação do comitê, o instituto e as cooperativas lançaram no dia 17 de março uma campanha nas redes sociais intitulada “O poder das flores e das plantas – A flor é o alimento para a alma”, que tem por objetivo incentivar o consumo ao associar flores e plantas com o bem-estar e a geração de emoções, e não só como um artefato para embelezar um cômodo.

No portal Nação Agro, uma iniciativa do Canal Rural, o produtor rural e representante da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo na Ceagesp, Valdemar Koga, deu uma entrevista exclusiva e comentou: "O mercado realmente está com 60 a 70% de perdas, se não mais".

Sobre a situação dos produtores, Koga disse: "A produção será menor, então é possível que futuramente falte mercadoria. Aqueles que não têm condições de continuar com a produção vão parar, já que não têm reserva no caixa. Os médios e os grandes até têm uma reserva, mas não por muito tempo. E outra, se os pequenos produtores pegarem uma linha de crédito, um empréstimo pessoal, os juros seriam muito grandes".

Segundo o Canal Rural, no dia 9 de abril o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou um plano de ajuda econômica a produtores rurais afetados pelo coronavírus e pela seca. A ajuda inclui prorrogações de pagamentos de dívidas e novas linhas de crédito.