Para muitos chegar nas quartas de final numa Copa do Mundo é uma conquista grandiosa. Ser uma das 8 melhores seleções do planeta, representando o orgulho e esperança de toda uma nação é um feito que só os melhores alcançam.
Se tratando de Brasil, a coisa é diferente. Não basta jogar bonito, batalhar em campo, ser melhor, lutar até o fim. Apenas o título importa. Sem a conquista, todo trabalho se torna um fracasso. Os ídolos se tornam vilões. Todo desempenho é colocado em discussão. Qualquer mínimo erro é aumentado na tentativa de encontrar um culpado.
Não estamos falando de qualquer seleção, estamos falando da seleção brasileira, pentacampeã do mundo, celeiro de grandes craques, representantes do país do Futebol. Temos que refletir se essa cobrança não é desnecessária. Ninguém tem 5 títulos como nós. Ninguém tem tantos momentos emblemáticos ou jogadores históricos como o Brasil.
Sem a amarelinha, a Copa do Mundo seria menos, bem menos do que ela é hoje. É justamente por isso que a cada novo ciclo de Copa, as expectativas sobre a nova seleção que se formará só aumenta. Serão mais 4 anos sem título, sem estar no topo do mundo.
Em 2026 igualaremos o nosso maior jejum de títulos, 24 anos. Eu não era vivo no jejum que durou de 1970 até 1994, mas pelos relatos dos meus familiares e de pessoas que viveram na época, foi um período de total descrença com o futebol brasileiro.
E esse é o momento que estamos vivendo. Além dessa descrença, nosso cenário político é delicado para não dizer caótico, e a seleção representou uma união entre os aspectos políticos.
A visão do nosso futebol perante a comunidade internacional também já teve dias melhores. Uma nova conquista seria muito importante para reafirmar a posição do Brasil no futebol: o topo. Desmistificando a crença da imprensa europeia e de ex-jogadores europeus, de que hoje dominam tudo que diz respeito ao mundo do futebol.
Infelizmente, não foi dessa vez. Mais uma eliminação para a seleção europeia. Essa eliminação em especial machuca mais do que as outras. Nunca estivemos tão preparados, o trabalho de Tite tinha sido muito sólido - até então. Neymar estava em ótima forma, nossos craques estavam vivendo momentos de protagonismos em seus clubes e tínhamos pela frente uma seleção que não aparentava ser um desafio grande.
É verdade que a Croácia foi finalista na Copa anterior, em 2018, e só tinham sofrido 2 gols até então na competição. Mas se classificaram em segundo do grupo, quase não passando para o mata-mata. Nas oitavas venceram na loteria dos pênaltis contra o Japão, após terem feito uma partida um tanto duvidosa contra a equipe asiática.
Contra o Brasil eles tiveram o jogo que pediram a Deus. O Brasil foi melhor, criou mais oportunidades e esteve mais próximo de abrir o placar. Porém, em nenhum momento os croatas se desesperam ou deixaram o ataque brasileiro sufocar sua defesa.
A trinca de meio-campistas Modrić, Brozović e Kovacić foi sublime em campo. Controlando o ritmo da partida com passes curtos e triangulações. Em compensação, Ivan Perisić, principal nome do ataque, teve uma noite pouco inspirada, foi anulado por Éder Militão na lateral-direita e pouco fez para os croatas. A defesa brasileira teve mais uma partida sólida, não dando chances para arremates em gol até o final do tempo regulamentar em 0 a 0.
Na prorrogação, o jogo caminhava lentamente para as penalidades, até que Neymar no último minuto do primeiro tempo da prorrogação, fez uma jogada que só os gênios da bola executam. Primeiro ele tabelou com Rodrygo, em seguida nova tabela com Lucas Paquetá. Tudo em poucos toques para furar o muro de defesa croata restando apenas o goleiro Dominik Livaković, que Neymar driblou e chutou forte, para estufar a rede. O gol que parecia ser o da classificação.
O gol de Neymar é uma resposta a todo mundo que disse que a seleção era melhor sem ele, e que era melhor ele ter se machucado mesmo. O sentimento de “já ganhou” já havia se espalhado por toda a nação e até mesmo pelos jogadores dentro do campo.
Faltando 4 minutos para acabar o jogo, os jogadores brasileiros se descuidaram. Sem muita explicação, sete jogadores avançaram para o ataque. A bola foi perdida e Mislav Orsić arrancou pela ala esquerda, cruzou rasteiro e achou Bruno Petković livre na entrada da área para chutar. A bola desviou em Marquinhos tirando qualquer chance do goleiro Alisson de realizar a defesa. Um balde de água fria na festa brasileira, que não teve forças nem tempo de buscar um novo gol que daria a classificação.
Nas penalidades, novamente brilhou a estrela do goleiro Livaković, que deu tranquilidade para seus batedores após defender o primeiro pênalti de Rodrygo. Os croatas foram impecáveis e não erraram um, enquanto na quarta cobrança brasileira, Marquinhos chutou na trave e eliminou o Brasil, sem ao menos Neymar, nosso melhor batedor, ter o direito de realizar uma cobrança.
Mais uma vez, o Brasil foi refém dos detalhes. Tirando a atípica partida contra a Alemanha. Eu vi o Brasil sofrer um apagão de 5 minutos contra a Holanda em 2010. Um gol contra e um descuido defensivo em 18 contra a Bélgica. E agora uma desatenção em 22 no Catar.
A Copa do Mundo é sim muito cruel, mas precisamos ter a cabeça no lugar e foco em todos os momentos. Como exemplo temos a seleção de Marrocos, onde a todo momento toda sabem o que tem que fazer e não desobedecem ao seu esquema tático. Temos também a França que, com 7 lesionados, está em mais uma semifinal. O que eles têm que nós não temos.
Nenhuma das duas seleções fizeram jogos brilhantes, mas se atentaram ao que se propuseram a fazer. Tiveram seus descuidos, óbvio, mas é isso que não pode acontecer, ficarmos contando com o acaso ao nosso favor. Temos que eliminar, ou tentar, esses fatores de nosso jogo, porque nessas partidas contra a Croácia, Bélgica, Holanda e até mesmo contra a França, em 2006, poderíamos ter saído vencedores, mas deixamos que os detalhes definissem contra.