Por Wanessa Celina
O Mounjaro, nome comercial da Tirzepatida, ganhou destaque no Brasil como uma das principais opções para controle do diabetes tipo 2 e para redução de peso em pacientes com obesidade ou sobrepeso associado a doenças. O medicamento, que teve a tenista americana Serena Williams como garota-propaganda nos Estados Unidos, teve sua venda no Brasil crescendo 15,5%, com um custo que chega a variar entre R$ 1.500 a R$ 1.800.
Diferente das canetas emagrecedoras como o Ozempic, que a porcentagem da perda de peso corporal é de 10%, o Mounjaro tem a promessa de perder 20% do peso. Uma das grandes diferenças entre fármacos como o Ozempic, Wegovy, Victoza e o Mounjaro é a substâncias que são análogas. A farmacêutica e professora da USCS, Luciana Vismar, explica que a diferença entre os medicamentos está no tipo de substância. O nosso corpo, principalmente o intestino, produz substâncias chamadas Incretinas, como o GLP-1, que estimula o pâncreas a produzir proteínas, estimula o cérebro você sentir saciado, além de outras funções em sistemas de recompensa cerebral em funções relacionadas ao sistema cardiovascular; o GIP, que estimula a secreção de insulina, além de ajudar a armazenar energia no corpo.
A Liraglutida (presente no Victoza) e a Semaglutida (Wegovy e Ozempic) são semelhantes ao GLP-1 que produzimos. Já o Mounjaro, que contém Tirzepatida, atua tanto nos receptores de GLP-1 quanto de GIP. Ou seja, ele estimula os receptores de duas moléculas diferentes, as incretinas. Por essa dupla ação, os estudos têm mostrado que o Mounjaro tem um efeito muito mais pronunciado na perda de peso.
Nicoli Ribeiro, é um exemplo de uma experiência positiva na utilização do fármaco para perda de peso. Por recomendação médica, ela utilizou o Mounjaro por ter menos efeitos colaterais e conseguir tratar o seu lipedema. Apesar de algumas reações físicas como náuseas nas primeiras aplicações e intestino preso, que foi regulado com uso de remédios, Nicoli afirma que compraria novamente.
Nicoli, antes de começar o tratamento com o Mounjaro, já treinava e só manteve os treinos. Entretanto a sua alimentação mudou, com o uso do remédio sua vontade de comer doces e “besteiras” diminuiu. Essa mudança na alimentação, junto com o acompanhamento de um médico, na opinião de Nicole, ajudou bastante na perda de peso.
Efeitos Coleterais
A ascensão desses medicamentos, exclusivamente do Mounjaro, vem modificando a estética corporal para o que é chamado de “Ozempic Face”, Luciana Vismar explica que essa mudança drástica deve-se a como o medicamento funciona para emagrecimento. Em vez de perder peso só nas áreas que costumam não ser desejadas, a rápida e acentuada perda de gordura leva a perda de gordura em áreas como a face.
Mas não só essa estética modificada preocupa, a perda de peso não é só dada pela perda de gordura, mas também pela perda de massa muscular. Esse que é importante para dar a sustentação do corpo. A perda de massa muscular acarreta no aumento do risco de quedas, reduz o metabolismo basal e, em longo prazo, pode levar ao reganho de peso. “Os estudos têm mostrado em longo prazo com o uso dessas drogas, que é o retorno de um peso até maior do que tinham antes da utilização desses fármacos.”, completa Vismar.
Neste contexto, a alimentação é fundamental. A utilização do Mounjaro, ou qualquer outra caneta emagrecedora, tem que ser acompanhada por uma mudança no estilo de vida. Essa é a garantia de que esse peso perdido vai ser mantido com a suspensão da droga e a garantia de que não vai haver uma grande perda de massa muscular, atenta a farmacêutica.
Adicionalmente, um dos efeitos observados no uso do Mounjaro é a redução do desejo por hábitos de risco, como o tabagismo. Muitos usuários relatam uma diminuição significativa na vontade de fumar cigarros. Essa alteração de comportamento, ainda está sendo pesquisada por especialistas, “Algumas pesquisas, como na "British Journal of Pharmacology" mostram que agonistas de GLP-1 poderiam atuar nessas áreas de circuito de recompensas de cerebral porque existiriam receptores desse GLP-1 em áreas que controlam esse comportamento de vício”, explica Luciana Vismar. Entretanto, por não haver nenhuma comprovação científica, o medicamento não pode ser utilizado em pacientes que têm grande consumo de drogas.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), no dia 25 de agosto, publicou novas regras que dificultam a manipulação de medicamentos Semaglutida. Essa inversão, explica Vismar, deu pelo fato de que a patente do Ozempic no Brasil vencer em 2026 e, diante disso, várias indústrias que já estão com sua linha de produção sendo ajustada para produzir medicamentos à base dessa nova molécula, que antes era exclusiva do Novo Nordisk. Vismar explica que o processo de obtenção dos IFAs (insumos farmacêuticos ativos) no Brasil é biológico e que a molécula do Ozempic, conforme descrito na bula, é produzida por uma tecnologia de DNA recombinante, um processo extremamente elaborado.
No Brasil, a Propranovo Nordis é a única empresa com registro da Anvisa para esse princípio ativo. A agência reguladora não aprova a manipulação de fármacos por outras metodologias, pois não há garantia de segurança e eficácia. Isso se torna um fator limitante para a manipulação de alguns medicamentos. No entanto, o Monjaro (Tirzepatida) não enfrenta essa mesma restrição. Como sua produção não utiliza a tecnologia de DNA recombinante, uma possível manipulação do medicamento não estaria sujeita a essa mesma limitação imposta pela Anvisa.