Dos 513 deputados federais, apenas 77 são mulheres (15%), sendo que no Senado apenas 12 dos 81 nomes pertencem ao gênero feminino (14,8%), e só há uma governadora no país (3,7%). Esses números são bastante desanimadores para o cenário político feminino no país, e muito se fala sobre isso, tentando entender os porquês e como que é a vida das mulheres que ingressam nesse meio.
Foi em 1933, no Estado de São Paulo, que aconteceu um dos maiores feitos na história do cenário político brasileiro: Carlota Pereira de Queirós foi a primeira mulher a ser eleita deputada federal no Brasil, dando a entender que viria uma nova fase em nossa política e história, a qual seria contemplada com mais mulheres na política.
Desde entáo, mulheres lutam por espaço, mas enfrentando muitas dificuldades. Para a deputada federal pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Sâmia de Souza Bonfim, “o machismo é estrutural, e está presente em todos os espaços da sociedade, entáo tanto no espaço de exercício de poder, como na política, não seria diferente!”. Sâmia foi a deputada federal a ser mais votada no PSOL-SP, sendo então, exemplo para muitas outras mulheres que almejam cargos políticos no Brasil.
Logo após, ela comenta sobre os preconceitos que viveu: “Evidentemente já passei por vários preconceitos de gênero”, afirmou a deputada. Ela foi atacada com comentários gordofóbicos e machistas no Twitter por Danilo Gentili, que retuitou um post onde Samia criticava Paulo Guedes e o governo de Jair Bolsonaro, afirmando que o Ministro da Economia estava sendo destemperado. Gentili comentou: “A mina é tão gorda que acha que até os ministros devem ser temperados”.
(Tuite do comediante Danilo Gentili sobre a deputada Sâmia Bomfim)
Quando respondido pela deputada com “Nos vemos na justiça!”, o comediante retrucou: “Foi bom avisar com antecedência, assim dá tempo da justiça se preparar e alargar as portas do tribunal para você poder entrar”. Tais comentários, indubitavelmente, não se tratam sobre a competência crítica/intelectual da deputada federal, que afirmou “Esses comentários não influenciam em nada no meu trabalho!”. Sâmia acredita que tais falas “se somam ao fato de eu ser uma parlamentar de esquerda e jovem ainda, que tem, muitas vezes mais dificuldade de se afirmar e ser reconhecida”.
Ela faz parte do mesmo partido de Isadora Penna, deputada estadual, que foi recentemente assediada no plenário, em um abraço por trás. Sâmia afima que o caso da colega é bastante simbólico, porém não afirma que não irá acontecer novamente, “porque como eu disse o machismo é estrutural, reproduz em todos os espaços”, afirma. Para ela, contudo, "o fato de ter havido uma punição exemplar ao agressor é algo fundamental, porque serve de alerta para os demais parlamentares. Afinal de contas, o caso dele não é um caso isolado, não é uma questão moral/individual, é uma questão estrutural da política, acho que o fato de haver punição coíbe outros parlamentares que se sintam na liberdade”.
Sâmia também acredita na concretização de leis e no fortalecimento do espaço das mulheres na política, juntamente com políticas de enfrentamento à violência de gênero, para remediar tais problemas. Mas ela aponta como o assassinato de Marielle Franco se relaciona nesta questão. “Sem dúvida o assassinato da Marielle tem conexões com o machismo e com o racismo claro”. Para ela, “ainda que a gente tenha muitas suspeitas, a relação com as milícias, foram os executores. Mas o fato dela ser uma mulher preta vereadora no Rio de Janeiro, tem forte motivação! E por isso é tão necessário lutar por justiça, para que não passe impune, por ela, pela família dela, mas por muitas outras mulheres negras que também se desafiam na política institucional”, concluiu a deputada. Que também afirmou a necessidade de se avançar em uma política de reserva de vagas de cadeiras para as mulheres nos parlamentos.
(Deputada Sâmia Bomfim na câmara dos deputados. Foto: Divulgação)
Já a vereadora do Partido Progressista, Audrey Kleys Cabral de Oliveira Dinau, reflete sobre as questões das cotas para mulheres no mundo político: “Passou da hora de equilibrarmos também as vagas nos Poderes Executivo e Legislativo! A sociedade acordou e importantes lideranças femininas já estão ocupando cadeiras no Congresso Nacional, nas Assembleias Estaduais, Câmara Municipais e Prefeituras! Este ‘equilíbrio’ entre homens e mulheres também na política transforma uma sociedade! Sim, ainda temos que garantir a cota das mulheres nos partidos até alcançarmos a igualdade desejada 50/50!”.
Kleys mostrou algumas medidas para uma possível diminuição do machismo no Brasil, não só no âmbito político: “Um relatório da Organização Internacional do Trabalho recomenda medidas abrangentes para melhorar a igualdade das condições de trabalho e reformular os papéis de gênero, como promover a igualdade de remuneração; abordar as causas da segregação ocupacional e setorial; reconhecer, reduzir e redistribuir as tarefas de cuidado não remuneradas; e transformar as instituições para prevenir e eliminar a discriminação, a violência e o assédio no mundo do trabalho”.
(Vereadora Audrey Kleys em uma palestra. Foto: Câmara Municipal de Santos)
O primeiro lugar no Brasil a permitir o voto feminino foi na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, em 1928. Em 1933 a primeira deputada federal foi eleita. Em 1934, sob o governo de Getúlio Vargas, todas as mulheres no país ganharam o direito de votar. Roseana Sarney, em 1994, foi a primeira mulher a ser eleita governadora de um estado brasileiro (Maranhão). E em 2010, Dilma Roussef foi a primeira, e até então, única, presidente mulher na nação. Nota-se os avanços de 1928 até os tempos atuais, entretanto ainda apresentam um ritmo muito demorado, devido ao machismo estrutural presente na sociedade. Para a busca da igualdade é necessário a equidade. Homens e mulheres serem tratados e respeitados da mesma forma e tendo apoios nas áreas mais necessitadas.