Breno Faria, um influenciador digital voltou a ser alvo de críticas após a divulgação de uma série de vídeos considerados machistas, nos quais reforça estereótipos ultrapassados sobre o papel das mulheres na sociedade. As declarações – como “mulher de verdade sabe o seu lugar” ou “mulheres que trabalham demais se afastam da sua feminilidade” – reacenderam o debate sobre os efeitos do machismo cotidiano e a responsabilidade dos criadores de conteúdo nas redes sociais. Especialistas em psicologia alertam para os danos emocionais causados por esse tipo de discurso.
A repercussão nas plataformas foi imediata. Internautas levantaram hashtags como #MachismoNãoÉOpinião e #BrenoFariaMisógino, enquanto especialistas apontaram os riscos desse tipo de discurso para a saúde mental das mulheres e para o retrocesso nas pautas de igualdade de gênero.
Segundo psicólogos, falas como as de Breno Faria são exemplos do chamado machismo cotidiano — um conjunto de comportamentos e comentários naturalizados que desgastam emocionalmente as mulheres e enfraquecem sua autoconfiança. “A mulher, ao ouvir esse tipo de frase em seu cotidiano, passa a duvidar de sua própria competência, a se calar em espaços de poder e a desenvolver sintomas como ansiedade, insônia e auto sabotagem”, explica o psicólogo Elienay Brandão em entrevista à AGEMT.

Essa forma de violência, tem impactos profundos e duradouros na vida das mulheres. Ao serem constantemente desvalorizadas, muitas desenvolvem comportamentos de auto degradação e hipervigilância: “Elas se policiam para não parecerem ‘sensíveis demais’, evitam dar opiniões ou até abrem mão de cargos e oportunidades por acreditarem, mesmo que inconscientemente, que não merecem”, destaca o psicólogo.
De acordo com a psicóloga Bruna Batista Schneider, o machismo cotidiano se manifesta de formas diversas: desde o questionamento das capacidades femininas em ambientes profissionais até a hipersexualização e o silenciamento. “Mulheres são constantemente interrompidas em reuniões, têm suas ideias apropriadas e sentem-se culpadas por não atender a padrões inatingíveis”, afirma. Esses comportamentos, somados, alimentam o que ela chama de gaslighting internalizado — quando a mulher passa a duvidar da própria percepção da realidade, muitas vezes se culpando ou se calando.

Diante da repercussão negativa, plataformas como Instagram, TikTok e YouTube foram pressionadas por usuários a tomar medidas contra os conteúdos publicados por Breno Faria. Em resposta, algumas redes iniciaram investigações internas para verificar possíveis violações às diretrizes de uso, mas sem respostas ainda. A mobilização também chegou ao meio acadêmico e a entidades de defesa dos direitos das mulheres. O Instituto Maria da Penha divulgou uma nota de repúdio, não direcionada ao influenciador, mas sim classificando as declarações de Breno Faria como “violência simbólica com potencial de naturalizar a desigualdade”. Já o Observatório de Gênero e Mídia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) anunciou um relatório em elaboração sobre a influência de figuras públicas na perpetuação do machismo nas redes.
Embora os efeitos do machismo sejam devastadores, há formas de enfrentá-lo. Entre as estratégias terapêuticas recomendadas estão o fortalecimento do diálogo interno positivo, a criação de redes de apoio e a prática do autocuidado contínuo. “É fundamental que essas mulheres reconheçam que o problema não está nelas, mas sim em um sistema que as desvaloriza. A psicoterapia ajuda a desconstruir essas crenças internalizadas e a resgatar a autonomia e o prazer de existir”, afirma Schneider. Ela também destaca a importância de estabelecer limites, celebrar conquistas, mesmo que pequenas, e buscar ambientes seguros para compartilhar vivências.
A polêmica em torno das declarações de Breno Faria expõe, mais uma vez, como discursos normalizados nas redes sociais podem alimentar estruturas opressoras e perpetuar padrões nocivos. Mais do que episódios isolados, casos como esse evidenciam o impacto psicológico real que o machismo ainda exerce sobre milhões de mulheres — muitas vezes de forma silenciosa e invisível.
Diante disso, cresce a cobrança por posicionamentos mais firmes das plataformas digitais e pela responsabilização de influenciadores que propagam ideias discriminatórias. Ao mesmo tempo, especialistas reforçam a importância de uma rede de apoio emocional, de espaços seguros para escuta e da promoção de uma cultura que valorize, acolha e respeite as mulheres em sua pluralidade. Enquanto o debate segue nas redes, no meio acadêmico e nos consultórios de terapia, uma certeza se impõe: não se trata de censurar opiniões, mas de reconhecer que palavras têm peso — e, em muitos casos, causam feridas profundas. Combater o machismo cotidiano é, acima de tudo, um compromisso com a saúde mental, a dignidade e a equidade de gênero. Ouça a reportagem.