O home office e a dificuldade de se adaptar à nova realidade

O conceito de Home Office é aplicado por aqueles que trabalham em suas próprias casas
por
Bruna Galati e Letícia Galatro Alves
|
22/04/2020 - 12h

Em meados de dezembro as primeiras notícias sobre o novo COVID-19 surgiram. O vírus causa uma doença respiratória semelhante à gripe e tem sintomas como tosse, febre e, em casos mais graves, pneumonia. 

Devido ao fácil contágio, o vírus se espalhou muito rápido por todo o mundo. Tal situação obrigou muitos países a decretarem quarentena e como sequência o Home Office.

O conceito de Home Office é aplicado por aqueles que trabalham em suas próprias casas ou em espaços alternativos, como cafés e locais de coworking. Normalmente, trata-se de um método usado por profissionais free-lancers, autônomos ou que atuam em empresas que permitem isso.

Entretanto, o trabalho em casa possui controversas. Enquanto que para alguns, trabalhar em casa permite que eles estejam em um ambiente conhecido no qual se sentem confortáveis, possibilitando maior flexibilidade de horário, adaptando suas jornadas de trabalho. Para outros essa prática remete a dificuldade de encontrar um lugar calmo e com as adaptações necessárias para o trabalho. 

O setor da educação está sendo um dos mais prejudicados por conta do home office. A maioria das escolas não estavam preparadas para inserir estudos online e nem todas as faculdades tinham o EAD (Ensino a distância) na grade estudantil. Algo que demoraria meses para ser introduzido, teve que ser adicionado em menos de duas semanas. 

Os professores estão tendo que se desdobrar para pensar em formas de dar aula online, já que cada instituto proporcionou um tipo de plataforma. Também muitas aulas que eram práticas, estão sendo adaptadas para o meio digital. 

Professores estão sofrendo a pressão de suas instituições de ensino para repassarem corretamente seus conteúdos, mas eles dependem de internet e aparelhos eletrônicos com qualidade eficiente para trabalhar. "Infelizmente, nem todos os professores estão conseguindo dar conta da nova condição. Por conta disso, dois foram substituídos nesta semana, para que as aulas não sejam prejudicadas", relata Fábio Cypriano, coordenador do curso de Jornalismo da PUC-SP. Apesar disso, a faculdade busca recursos para ajudar os funcionários nesse momento, "Constatamos outro professor com dificuldades e estamos buscando ajudá-lo para superar as dificuldades iniciais", completa. 

Os estudantes também estão sendo prejudicados por essa drástica mudança. "Os nossos alunos não têm experiência em acompanhar curso online", afirma Carla Cristina, professora de História da PUC-SP. "Nem todo mundo tem computador em casa ou ambiente para prestar atenção em aula online", continua. 

 

Medo da substituição

Foto enviada por Raffaela Tebalde
Foto enviada por Raffaela Tebalde.

Qualquer funcionário, independente de qual setor trabalhe, está sofrendo o medo de ser demitido devido a incapacidade de trabalhar com as telas. Raffaela Tebalde relata o problema que sua mãe está passando, "Minha mãe trabalha com atendimentos, ela não tem computador e nem internet em casa, porque no bairro periférico que ela mora não chega o sinal das empresas de internet. A empresa não vai fornecer esse serviço e ela está sem trabalhar, com o risco de ser mandada embora". 

Outro panorama problemático do trabalho a distância é a sobrecarga de tarefas para as mulheres. Muitas famílias costumavam ter uma funcionária para cuidar dos afazeres da casa, com a quarentena, ela foi dispensada. Limpar, passar, cuidar dos filhos e cozinhar, são tarefas que foram repassadas para a dona da casa, além de ter a obrigação de trabalhar.  

“O nível de cansaço físico e mental das mulheres que estão trabalhando em home office será certamente muito maior do que dos homens, porque vivemos em uma sociedade que não entende que a partilha das tarefas é uma necessidade com ou sem quarentena”, comenta Carla Cristina.

Outro fator estressante, principalmente para os pequenos comerciantes, é a impossibilidade de

trabalhar e consequentemente, a queda da renda mensal. Dificuldade enfrentada por tatuadores, funcionários de restaurantes, salões de bel

Kaio
Foto enviada por Kaio Chagas.
 

eza ou bares e trabalhadores autônomos. 

Kaio Lima Chagas, por exemplo, é dono do brechó Veste Pencas e graças a imposição da quarentena, ele não pode expor suas roupas na Av. Paulista, o que costumava fazer todo final de semana. “Eu tenho uma plataforma digital, mas a minha plataforma é artística, o foco não é as vendas. Atualmente, eu preciso transformar essa plataforma em algo de vendas porque eu não posso mais expor na Paulista”, afirmou. 

Kaio acorda todo dia cedo e faz yoga, que o ajuda a manter a disposição. Já Raffaela Tebalde tem outro método: organizar horários. Trabalha no horário do trabalho presencial. Tanto na hora de entrar, sair ou ir almoçar. 

Carla Cristina busca manter a calma e entender que em casa o modo de trabalho e desempenho mudam. Todos estão buscando formas de se adaptar a essa nova realidade. O importante é se programar para fazer o essencial  e cuidar da saúde mental.
 

Tags: