O GABINETE DO ÓDIO DE BOLSONARO E SEUS ATAQUES À CHINA

Em seu primeiro ano como presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) sempre foi enfático:
por
Lucca Ribeiro
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04/05/2020 - 12h

Em seu primeiro ano como presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) sempre foi enfático: o Brasil precisaria trabalhar com a China ou ficaria para trás. Nem mesmo as diferenças ideológicas entre os dois governos fizeram com que o Palácio do Planalto abandonasse seu principal parceiro comercial.

Mesmo com Bolsonaro sendo criticado publicamente por inúmeras nações, dada a sua conduta desastrosa na questão da devastação da Amazônia, que gerou – e não foi só um – incidente diplomático, o presidente não mediu esforços para preservar sua relação com Xi Jinping, secretário-geral do Partido Comunista Chinês. Em outubro de 2019, fez uma extensiva viagem pela Ásia, cujo foco era assumidamente a China.

Até Jair Bolsonaro, do alto de suas crendices e inimigos comunistas invisíveis, soube, em uma raridade, ser político e ignorar as conspirações de seu guru Olavo de Carvalho para não perder seu principal parceiro comercial.

No entanto, da sua base de apoiadores mais fiéis, não podemos falar o mesmo. Os “minions” mais fervorosos continuaram, tendo como base as delusões de pastores importantes do bolsonarismo, acusando a China de toda e qualquer situação potencialmente contrária ao governo. Em uma postura mais aliada a Donald Trump, as redes de apoio ao presidente elegeram, entre outros vilões, o Partido Comunista Chinês como o grande malfeitor do momento.

Esse sentimento, aliado a uma velha dose de racismo e xenofobia, voltou com tudo em meio à crise da Covid-19. Desde o surgimento do novo coronavírus, em Wuhan, teorias e teorias foram criadas para justificar sua proliferação no Ocidente: desde uma arma biológica criado em laboratório, até uma invenção do governo chinês para enfraquecer governos de direita. Logicamente, o Brasil também importou as conspirações: originalmente, o apelido de “vírus chinês” surgiu dentre os apoiadores de Donald Trump.

O grande problema é que agora as sandices começaram a chegar de porta-vozes, se não oficiais, adjacentes à seita bolsonariana. Em meio ao enfraquecimento do governo no Brasil e à simples constatação de que o presidente estava se mostrando cada vez mais despreparado para tomar o controle da situação, Eduardo Bolsonaro, o 03, elegeu o inimigo da vez: o deputado publicou tweets xenofóbicos e acusatórios em relação à China.

Logicamente, a embaixada chinesa repudiou a situação, o que gerou um mal-estar entre os parceiros. Dias depois, Abraham Weintraub, ministro da “educassão” do presidente, colocou mais lenha na fogueira ao fazer um tweet racista, comparando chineses ao personagem Cebolinha – que troca os éles – e outras baboseiras.

Depois de todo o conflito, a dúvida permaneceu: será que os irresponsáveis tweets de Weintraub e Eduardo Bolsonaro causariam um dano real nas relações entre Brasil e China?

Em entrevista concedida ao El País Brasil, José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), destacou um ponto negativo que pode possivelmente aparecer. De acordo com Castro, “a China pode ficar na posição de pedir descontos para o Brasil como pedido de desculpas”.

E as consequências dos tweets de Weintraub e E. Bolsonaro já estão sendo sentidas: algumas importações de produtos como máscaras e testes, que já estavam sendo vendidos para estados – especialmente do Nordeste – foram suspensas poucos dias após a crise diplomática. Inclusive, Jair teve que pegar o telefone e ligar para Jinping, a fim de acalmar os ânimos com o parceiro.

Obviamente, este não foi o único fator que causou a perda dos produtos: segundo O Globo – outra marionete do governo chinês, para os fanáticos –, os Estados Unidos, em uma situação mais crítica na pandemia, pagaram mais caro e ficaram com a remessa. Mesmo assim, é óbvio que o conflito não ajudou.

Sim, a China não vai abandonar os produtos brasileiros, mas pode comprá-los menos: no começo do ano, antes de tudo isso, o governo chinês já tinha substituído parte das importações de soja do Brasil, especialmente pela produzida nos Estados Unidos.

Principal comprador do produto no planeta, a China comprou 25% menos soja brasileira em relação a 2019, mesmo tendo aumentado em 14,2% as importações. Um prejuízo significativo para o Brasil, ainda mais considerando a crise do coronavírus, que viria depois.

Tudo isso significa que a China, que promete ser o principal vetor da recuperação da economia global, dada a velocidade com que conseguiu controlar a crise, pode acabar pensando duas vezes antes de comprar produtos brasileiros. Ou pior: pode importá-los mais barato. Em um momento onde o soft power chinês e a sua importância nas relações comerciais cresce cada vez mais, de uma maneira imensurável, ataques ao governo de Jinping devem ser ainda mais danosos à economia do país.

Agora, o clã Bolsonaro já não ataca a China de maneira tão ferrenha, ao menos diretamente. O gabinete do ódio escolheu João “BolsoDoria” (PSDB), Camilo Santana (PT), Wilson Witzel (PSL), o STF, a democracia, o bom senso, a OMS, Manu Gavassi, seu ex-ministro da Saúde, outros governadores, a imprensa e a ciência como alvos principais. No entanto, com um grupo de apoiadores tão perturbado, não deverá tardar até que voltem a atacar a mão que os alimenta.

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