Por Guilherme Lima Alavase
Para os jovens que gostam de futebol, assistir um jogo dos anos 70 ou 80 do século passado se torna um exercício de paciência. Eles acham lentos os jogadores do passado, tão idolatrado por seus pais e avós. Quando se estuda os treinamentos realizados naquela época, percebe que o máximo que os jogadores faziam nos treinamentos eram alguns exercícios bem simples, como corridas, polichinelos e flexões. Nos jogos era a famosa frase “jogar e deixar jogar”. Não havia a aceleração de hoje com a ocupação dos espaços por muitos jogadores, onde quase todos estão na faixa do campo em que a bola está sendo disputada. No passado o requisito básico para ter sucesso no futebol era ser driblador, ter domínio da bola e visão de jogo.
O futebol, chamado arte, foi se adaptando à modernidade, ganhando velocidade e força, com a utilização de padrões táticos rigorosos. O treinador passou a ser tão importante quanto o craque do time.
A mudança de atitude dos times não aconteceu ao acaso. Foi fruto da observação dos melhores times do mundo com os resultados alcançados em campo. O primeiro grande time que começou a utilizar a ciência no futebol, conforme entrevista concedida à revista Galileu, pelo médico e jogador de futebol Tostão, onde diz que a seleção brasileira de 1970 soube colocar em prática o conhecimento da ciência a favor do desempenho dos atletas. Aliou ao futebol arte de jogadores geniais como Pelé, Gerson, Rivelino, Carlos Alberto, Jairzinho, entre tantos outros, com métodos científicos de preparação física. Com o grande sucesso dos brasileiros, muitos times mundo afora, começaram a investir fortemente na preparação física, criando estruturas tecnológicas para preparar os jogadores fisicamente. Muitos fracassaram, pois uma estrutura científica utilizada em jogadores medianos não garantia o sucesso em campo. Descobriram que o futebol não é um esporte em que o ensaio e o treinamento exaustivo de jogadas garantiam a vitória, pois um jogo de futebol é uma sequência de fatores exatos intercalados aos acasos e momentos de pura sorte. Observaram que os resultados positivos eram fortemente influenciados por jogadores criativos e talentosos que não tinham medo de tentar lances improváveis. O talento e a criatividade estão na base do futebol. Com a certeza de que não bastava apenas o estudo, a ciência e a disciplina, começaram a buscar os jovens talentos, sobretudo da América do Sul. Foi assim que contrataram Lionel Messi, com apenas treze anos de idade, para as categorias de base do Barcelona. Confiavam na ciência para transformar o jovem franzino, mas extremamente talentoso, em um grande jogador. Deu muito certo. O Barcelona ganhou muitos títulos e fãs no mundo todo e proporcionalmente aumentou as suas receitas.
O esporte mais popular do mundo, com grande exposição na mídia, paga aos melhores jogadores do mundo altos valores e em contrapartida cobra desempenho em todas as partidas e resistência para suportar a maratona de competições e jogos. Para transformar os jogadores em máquinas de jogar futebol, os maiores clubes do mundo investiram milhões de dólares na criação de centros de excelência para garantir que seus atletas atinjam o seu desempenho máximo. Os departamentos de análise de dados observam a forma de respirar, de andar, de correr, os movimentos realizados nos treinamentos e nos jogos. Utilizam de recursos tecnológicos como um sensor colado ao corpo dos jogadores. O sensor faz todas as medições necessárias que são imediatamente passadas para o computador que analisa os dados e, sob a forma de gráficos, mapas de calor e diagramas mostra ao treinador os acertos e as falhas de cada movimento, para que ele tome as decisões necessárias para aumentar a eficiência do atleta. Outro fator importante para melhorar o desempenho dos times é a utilização de equipamentos e testes médicos que ajudam a melhorar a recuperação dos jogadores, chegando até a prever possíveis lesões devido ao esforço realizado.
O grande desafio dos clubes estruturados é manter os atletas em atividade, sem interrupções. Para os atletas não “estourar” a equipe médica coleta amostras de sangue dos jogadores medindo os índices bioquímicos e metabólicos. Através dos exames é possível verificar se os atletas estão se recuperando adequadamente, se há processos inflamatórios, se o desgaste muscular está prestes a entrar em colapso etc. A partir dos dados coletados, o treinador tem condições de tomar a decisão que ele julgar mais acertada em função dos próximos jogos.
Como numa espiral ascendente, times competitivos ganham muitos jogos, conquistam campeonatos e passam a ser admirados por milhões de torcedores, que se tornam consumidores, comprando as camisas originais e diversos produtos licenciados, ampliando ainda mais as receitas dos principais clubes do mundo. Hoje, Barcelona, Liverpool, Real Madrid etc. têm uma legião de fãs espalhados pelos cinco continentes e para cada produto vendido em qualquer país, uma parcela do valor é revertida ao clube. Não é à toa que as pré-temporadas dos principais times são realizadas em países distantes, buscando novos torcedores e consumidores.
Resumindo, o futebol é arte, raça, emoção, habilidade e técnica. Agora, se ele vier acompanhado da ciência, do comprometimento tático, do preparo físico e mental, aí sim, o time poderá sonhar alto, brigar por títulos e ser um negócio altamente rentável.