O esporte no Brasil: “Menos povo, mais elite”

Os brasileiros tem a sensação de que o esporte é acessível em nosso país e que todos tem a oportunidade de praticá-lo. Mas é preciso refletir, o que realmente é praticar um esporte e qual o preço?
por
Marcello Ricardo Toledo
Marcelo Zanardo Penna
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26/04/2022 - 12h

Ouve-se muito, que o tênis é um esporte de elite, automobilismo e etc... Mas a verdade é que cada vez mais, qualquer tipo de esporte, está ficando cada vez mais distante do povo brasileiro. 

Praticar um esporte não é recreação, ou lazer, claro que pode ser, mas a prática real disso, é com professores, estrutura, educação e treinamentos físicos, não apenas pegar uma bola e jogar. 

Quanto custa pagar uma academia, seja de futebol, basquete, tênis ou qualquer outro esporte para uma criança hoje, principalmente se falarmos em uma metrópole, como São Paulo por exemplo? Sai muito caro! 

Usando o exemplo mais básico do futebol, uma escolinha, para uma criança de 3 a 17 anos, sai em média R$ 80,00 no mês, sem contar, roupas chuteiras e o risco de lesões que devem ser tratadas com médicos, já no tênis por exemplo, uma academia custa em média R$1000,00 a R$1400,00 por mês, apenas uma aula por semana de 1 hora. Em comparação aos EUA por exemplo, esportes são gratuitos nas escolas, estruturados e o jovem ainda tem a chance de ganhar uma bolsa de estudos dependendo do seu rendimento na atividade, ou seja, ajuda na saúde, bem-estar, educação, socialização e diversos outros fatores que vão influenciar futuramente a vida de uma pessoa em um aspecto positivo. 

Ainda pior, até mesmo o acesso, a jogos em estádios, eventos e etc... Estão cada vez mais caros, dificultando ainda mais a integração da população no meio esportivo. 

Se já está complicado para as pessoas sem algum tipo de deficiência, é possível imaginar a situação do esporte paraolímpico, para tratar desse assunto, entrevistamos Sérgio Henrique Braz de 52 anos, professor de educação física e técnico de atletismo paralímpico do comitê paralímpico brasileiro. 

Ao ser questionado sobre qual o maior empecilho para uma falta de audiência do esporte paralímpico, Sérgio diz acreditar que seria a falta de conscientização da população, visto que a mesma acredita ser esporte de “coitadinhos”, o entrevistado rebate esse pensamento, afirmando que atletas paralímpicos, são verdadeiros atletas que treinam intensamente, e que todas as modalidades são bem competitivas, o entrevistado nos conta também, que o comitê paralímpico tem um atleta que percorre os 100 metros mais rápido que nossos atletas convencionais atualmente. 

O profissional afirma que o esporte paralímpico é feito muitas vezes nas instituições, tornando-a elitizada apenas nas competições de altas performances, por motivos de custo dos equipamentos serem altos, como, por exemplo, cadeira de rodas para basquete, próteses para o atletismo entre outros instrumentos. No entanto, quanto à inclusão desse esporte no ambiente escolar, ele afirma não ser elitizado. Perguntado sobre como contornar essa situação, Sérgio diz que os instrumentos poderiam ser de um preço mais acessível para a população, não só os materiais que são específicos do esporte paralímpico, mas como também para pessoas convencionais, como bicicletas, raquetes de tênis, skate, entre outros, por serem muito caros, dando exemplos de bicicletas chegando a preço de um carro, dado que esses instrumentos proporcionam uma melhor qualidade de vida à população em geral. 

Perguntamos ao Sérgio, se em algum momento ele se deparou com aspectos elitistas, que o impediam de ajudar algum atleta paralímpico, ele disse que algumas vezes não tiveram implementos como cadeira de rodas para atletismo, prótese para atletas amputados, dando uma característica de elitização dentro dessas modalidades. 

Ao ser questionado sobre como a mídia aborda o esporte paralímpico, Sérgio diz que a mídia pode fazer um trabalho de conscientização, de educação, através da TV e da internet, e retoma o que já havia dito, que para muitos são atletas “coitadinhos”, o que é bem diferente sendo competições interessantes de se acompanhar. O entrevistado cita o rúgbi de cadeira de rodas, e indica um documentário chamado Murderball. E ao analisar a mídia, muitas vezes não envolve a questão financeira, mas o Brasil no esporte paralímpico ele é bem mais competitivo e com maior destaque no cenário mundial do que os esportes convencionais. 

Ou seja, é totalmente perceptível, que o esporte de maneira geral, precisa urgentemente se tornar mais acessível a todos, pois só traz benefícios, a jovens, adultos, deficientes e idosos. Mas como se “concerta” isso? É necessário campanhas, projetos, investimentos, muita pressão populacional em cima do governo, para que possamos usufruir e desfrutar e algo que só tem a acrescentar na vida do povo brasileiro e principalmente das crianças.