O esporte bretão pela ótica feminina

Como funciona a participação feminina na elite do futebol profissional brasileiro
por
Vitor Palhares
Cristiane Santos
|
28/10/2022 - 12h

 

                O futebol é o esporte mais consumido do mundo. Segundo relatório da FIFA (Federação Internacional de Futebol) metade da população mundial assistiu a copa do mundo realizada em 2018 na Rússia (cerca de 3.5 bilhões de espectadores). A competição feminina ministrada pela mesma entidade contou com audiência superior a um bilhão de pessoas, um aumento de 30% em comparação a anterior. Esses números compravam a popularidade e o alcance do esporte.

No Brasil não é diferente, conhecido como país do futebol, quase metade da população tem interesse no jogo e um a cada seis diz frequentar estádios, dados da ESPN Brasil. A popularidade é um fato e a prática movimenta bilhões de reais no país. Os clubes profissionais contam com estruturas pomposas, repletas de profissionais qualificados. Porém, a divisão entre gêneros dentro do quadro de funcionários está longe de igualitária, em matéria publicada pelo Metrópoles em agosto de 2020 aponta que 85% das comissões técnicas do futebol feminino são compostas por homens, no masculino esse número ultrapassa os 95%.

Alguns pontos podem explicar essa discrepância, em território nacional as mulheres foram proibidas de praticar futebol por 38 anos (1941 a 1979) devido às condições de sua natureza, escancarando o machismo estrutural que o gênero sofre não só no esporte, mas em todos os âmbitos sociais.

Após se deparar com a pesquisa do Metrópoles, Maria Victoria Poli Cipeda (chefe de conteúdo da 90 min) explicou: “Esses números assustam, mas não surpreendem aqueles que conhecem o meio” seguindo com o questionamento “você conhece quantas mulheres trabalhando no futebol masculino, não digo apenas do seu clube do coração, mas no contexto geral nacionalmente? Consegue citar nominalmente alguma”? Ela completa “existem profissionais mulheres altamente qualificadas para toda a hierarquia que um clube de futebol necessita, mas só as encontramos em funções indiretas a tática ao campo e bola, como nutricionista e massagistas, você nunca vê uma mulher comandar o corpo técnico ou ser diretora de futebol de uma agremiação masculina”.

Entre os 3 principais times da capital paulista (Corinthians, Palmeiras e São Paulo) trabalham mais de 130 profissionais em diversas áreas, desde assessoria de imprensa até técnicos, apenas 12 são mulheres, com o Corinthians totalizando mais da metade delas. Os sites oficiais validam as falas de Maria Victoria Poli, nenhuma participa do chamado “corpo técnico” dos times citados, composto pelo técnico, auxiliares e diretores de futebol.

Football Manager

                                                                                    (comissão técnica da seleção masculina de futebol. Crédito: Lucas Figueredo/CBF)

              Matérias de cunho sexista, falas machistas de profissionais do meio, proibições passadas foram responsáveis por transformar o futebol numa área ainda mais tomada pela presença masculina nos cargos de liderança, problema da sociedade como um todo. Alguns movimentos, dentro e fora do futebol, estão contribuindo para quebrar esse paradigma, portais voltados a divulgação da mulher no futebol como “dibradoras” ou “ESPNW” servem como fonte de notícias imparciais, além de referência para outras mulheres que não se sentem representadas.

              “O caminho é longo, mas nos últimos tempos nós mulheres começamos a quebrar barreiras, até na Globo, em TV aberta, temos uma narradora mulher comandando o jogo (referindo-se a Renata Silveira). Precisamos ocupar todas as áreas do futebol, criar referência para as meninas que sonham em se envolver. A sociedade como um todo passa por essa mudança e o futebol não pode caminhar na linha contrária”.

 

Renata Silveira narrará jogos da Copa do Mundo em TV aberta

                                                                                                                   (Renata Silveira – Foto: João Cotta / TV Globo)