(Fotos: Fernanda Querne e Gabriela Figueiredo)
“Não cutuque onça com a sua vara curta”. O segundo debate presidencial para as eleições de 2022, aconteceu neste sábado (24) em um pool promovido pela SBT, CNN, Estadão/Rádio Eldorado, Veja, Rádio Nova Brasil e Terra. O evento foi marcado por farpas direcionadas aos históricos dos candidatos e críticas à ausência do ex-presidente Lula (PT), que também impactou na audiência - o debate ficou em segundo lugar nos programas mais vistos.
A audiência média do debate foi de 5 pontos, número abaixo dos esperados 7 pontos. Durante os discursos, a Globo obteve 17,6 e a Record 5,6. Portanto, as falas não tiveram tanto impacto na escolha do eleitorado.
Os candidatos presentes foram Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil), Felipe D’Ávila (Novo) e Padre Kelmon (PTB) e um dos assuntos mais abordados foi corrupção.
Atacar o primeiro lugar é quase uma estratégia para se colocar nele. Sendo a primeira candidata a comentar a ausência de Lula, Soraya Thronicke compara o debate a uma entrevista de emprego e questiona se os eleitores contratariam um candidato faltante. A advogada completa afirmando que o ex-presidente "não merece o seu voto de maneira nenhuma".
Ciro Gomes também coloca a falta do ex-presidente enfatizando o salto do oponente nas pesquisas, “não veio, por estar com salto alto ou achar que já ganhou” e afirma que o candidato não tem como explicar suas promessas. Se referindo ao público, aponta que Lula não cumpriu os dois mandatos, nem a denúncia de corrupção - Lava Jato, da qual foi preso, sendo uma tática da dita terceira via para enfraquecer a soberania do petista.
Simone Tebet também adota o discurso e justifica a ausência do candidato por falta de coragem de colocar suas propostas. Jair Bolsonaro volta a atacar o petista o chamando de "presidiário" e Felipe D’Ávila responsabiliza o STF pela soltura e candidatura do adversário o colocando como "criminoso'' e diz que pretende “enquadrar o Supremo”.
O candidato Lula justifica sua ausência, em ato do Rio de Janeiro, neste domingo (25), afirmando que os outros cinco concorrentes apenas objetivam o atacar por estar em primeiro nas pesquisas e que já tinha marcado, anteriormente ao debate, dois compromissos de campanha. O petista ainda diz que pretende comparecer à sabatina na Globo e que deve aproveitar o espaço da televisão para conversar com os eleitores.
Abençoai Bolsonaro, padre
Foto: Fernanda Querne
O Padre Kelmon desviou todas as pedras em direção à cruz do Messias. Substituto de Roberto Jefferson, o religioso intrigou os eleitores com a sua figura pitoresca. Ele também provocou os candidatos com pautas polêmicas - como a legalização do aborto, enalteceu o atual presidente da República e demonizou, literalmente, o mandato do petista “vermelho como o próprio diabo”.
Ora imbrochável, ora vara curta, Bolsonaro não só subestima as candidatas, mas as ataca com o seu discurso mentiroso delas não terem votado contra o orçamento secreto. O candidato do PL usa o patriarcalismo a seu favor. Portanto, prefere retrucar o que ele denomina de “elo mais fraco”. Entretanto, Tebet e Soraya demonstraram resiliência no combate.
O ataque da onça
Foto: Fernanda Querne
A política do União Brasil relatou o como mantém as informações públicas. Ao contrário do atual presidente, o qual impôs cem anos de sigilo em diversos assuntos. Soraya afirmou que o atual presidente “estelionatário é quem usa dinheiro vivo” - relembrando o caso dos imóveis comprados pela família Bolsonaro.
Em entrevista exclusiva à AGEMT, Soraya explicou a razão de Jair se sentir tão confortável ao atacar mulheres como ela e Tebet: “Ele precisa procurar tratamento psiquiátrico, e se tratar”. Não abordou a questão do machismo, congruentemente. Pois, já se declarou como uma “não feminista”.
Também abordou como não prometeria pessoas negras como ministros, mas sim baseados na competência. Incerta da sua resposta, explicou como a raça não deve ser um fator de decisão para o governo. Logo, decidirá pelas habilidades técnicas. Consequentemente, a inclusão não será o seu foco.
A estratégia de demonstrar como Jair apoia as mulheres, está cada vez mais falha. Pois a cada aparição pública, expõe a sua apatia em relação ao eleitorado feminino - maioria dessa eleição. Nos debates, a figura da primeira-dama não o pôde salvar do seu discurso truculento. Michele Bolsonaro suaviza o Bolsomito de 2018, retrata o seu marido como o “capitão do povo” - salvação do nosso Brasil. Porém, qual seria a razão de sermos salvos de um governo em que já estamos?
Confissões de professora
Já o maior destaque da noite foi a política do MDB, Simone Tebet. Desviando das falas do padre Kemel à favor do aborto, a senadora afirmou que não se confessaria com o religioso. O político do PTB a indagou de ser uma “verdadeira feminista” e cristã ao mesmo tempo, pois, na lógica de Kemel, quem defende a paridade entre os gêneros não deve ser devota à Jesus Cristo. Porém, Tebet não se submeteu a esse jogo de poder e logo se desculpou para a sua igreja por ter um cristão como o padre do PTB.
Em entrevista exclusiva com a AGEMT, Simone abordou temas como a paridade entre os ministros homens e mulheres. Confirmou que pretende incluir essa igualdade. Entretanto, ao ser questionada sobre a paridade entre negros e brancos, afirmou que não poderia prometer isso. Em contrapartida, comprometeu-se a promover diversidade no seu mandato - ao contrário da sua antiga aluna, Soraya. Auto declarada defensora dos direitos de todas as mulheres, Tebet tenta se desvirtuar do feminismo liberal o qual exclui mulheres negras e/ou pobres.
O NOVO das privatizações
Foto: Fernanda Querne
Durante o debate, Felipe D'Ávila quase desapareceu com seu discurso contínuo a favor do corporativismo e privatização como solução. O momento em que melhor se destaca é no questionamento relacionado a política de controle de armas, em que se coloca como liberal e diz considerar um direito do cidadão ter a posse e porte de armamentos. Ainda, afirma que não é fácil portar no Brasil e defende o banco de dados com histórico do cidadão a fim de "não banalizar este direito".
Em resumo…
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O desespero de Bolsonaro para alcançar o segundo turno é evidente. Até aclamou para ajuda divina, mas padre não faz milagre. Logo, optou por atacar as candidatas. Pior estratégia possível, pois as acusações de Tebet e Soraya o intimidaram.
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A senadora do MDB merece destaque pela sua segurança e firmeza no seu discurso feminista, contra as fake news do Bolsonaro e questionando a ausência petista.
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Já o Ciro Gomes, tentou abrir os olhos dos seus “irmãos e irmãs” devido ao maior obstáculo da terceira via - a polarização.
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O político do PDT insinuou sobre o fascismo de Bolsonaro e um petista o qual lhe falta coragem para pautar as suas ideias em um debate.
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Lula mesmo não presente, foi um dos assuntos mais comentados pelos candidatos.
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Já Felipe D’Ávila passou despercebido com o seu discurso robótico sobre privatizações e corporativismo.