O Brasil é terra indígena

Povos indígenas e ativistas são vítimas de um Estado omisso que contribui com a impunidade de seus agressores 
por
Ana Karolina Reis
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29/06/2022 - 12h

Por Ana Karolina Reis

Os povos originários se deparam com um cenário de terror no Brasil nos últimos tempos. No início do ano, uma criança indígena de 12 anos foi estuprada e morta por garimpeiros na comunidade Araçá, no norte de Roraima. Outra criança indígena da mesma comunidade foi levada pelos invasores e desapareceu. Além dos homicídios, a invasão ilegal de mineradores na terra Yanomami estão contaminando os rios da região com mercúrio. Os conflitos neste território fizeram também com que uma comunidade inteira desaparecesse, fugindo dos conflitos com os garimpeiros.  

O clima de violência é crescente, e o atentado mais recente a luta indígena foi o assassinato do indigenista e servidor da Funai, Bruno Pereira, e do jornalista britânico, Dom Phillips. Servidores da Funai já alertavam sobre os perigos da exposição desses profissionais em áreas onde ocorriam exploração ilegal do território indígena, e que as ameaças de morte eram presentes, não apenas aos que denunciavam os crimes, mas também às suas famílias. Antes das eleições, Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil, declarou que daria uma "foiçada no pescoço da Funai".  

Assassinatos de defensores da causa indígena também marcam a história sangrenta do país, desde a morte do sindicalista Chico Mendes, em 1988, no Acre, até a morte de Dorothy Mae Stang, em 2005, no Pará. Segundo relatório do Global Witness, o Brasil é quarto país em que mais se mata ativistas. Três quartos desses assassinatos ocorrem na região da Amazônia. 

Os povos indígenas resistem ao genocídio étnico há mais de 500 anos. Os defensores da causa são executados brutalmente, explicitando a notória falta de interesse político em coibir esses crimes. A Amazônia está cada vez mais entregue nas mãos de criminosos, e a conivência do governo atual aumenta a violência e a impunidade, consentindo perversamente com a sangria promovida nessas terras. 

Os desafios também se estendem não só em terras isoladas, e o preconceito acompanha os povos indígenas em outras regiões do Brasil. A falta de empregabilidade, de acesso à educação, a moradia de qualidade, a saneamento básico, o preconceito linguístico, as ameaças e a exclusão. Esses foram alguns dos problemas citados por Monalisa, indígena Pankararu que vive em São Paulo há 6 anos.  

A luta para que seu povo não sofra apagamento histórico e para que todos os indígenas possam ocupar espaços se torna cada vez mais árdua diante de tanto ataque e desumanidade. Os retrocessos causados pela atual gestão violam os direitos dos povos originários e incentiva as práticas criminosas na maior floresta do mundo. O desmatamento ilegal, a falta de demarcação de terras indígenas, a garimpagem, a grilagem de terras, a pistolagem, o narcotráfico... o atual momento na Amazônia é de terror. “É triste ver sua história sendo apagada aos poucos e manchada de sangue. Não somos aceitos em lugar nenhum, mas chegamos antes de todo mundo aqui”, declara Monalisa.  

É necessário que continuemos vigilantes. O Estado mata ativistas e indígenas, os perseguem e mata todos aqueles que denunciam e resistem a qualquer tipo de crime ou exploração. O povo que luta por suas terras não deve ser oprimido e nem silenciado. Esse cenário não deve ser normalizado. Precisamos cobrar a garantia do direito à vida e a integridade física dos povos que estão sendo ameaçados e mortos. Os povos indígenas estavam aqui antes mesmo de qualquer colonizador. Todo território brasileiro é território indígena.