Alexandre de Moraes foi empossado, nesta terça-feira (16), presidente do Tribunal Superior Eleitoral. A cerimônia contou com a presença dos ex-presidentes da república José Sarney, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer, e a do atual presidente Jair Bolsonaro. O evento foi marcado pelas falas de Moraes em defesa do Estado Democrático de Direito, das instituições, das urnas eletrônicas, da importância do TSE, e contra a propagação de Fake News, clara mensagem àqueles que atacam o processo eleitoral e sua legitimidade, especialmente o presidente e seus apoiadores. Bolsonaro se mostrou visivelmente desconfortável ao longo do evento e, isolado, se recusou a acompanhar os longos aplausos ao juiz do STF em sua fala sobre as urnas.
O candidato já proferiu sua fúria e insatisfação com o ministro em inúmeras ocasiões. Estiveram sob a responsabilidade de Moraes processos contra Bolsonaro, seus aliados e apoiadores, se tornando, ao longo do tempo, um dos maiores alvos do bolsonarismo. Entre esses processos, alguns encerrados e outros em andamento, estão o inquérito das fake news e milícias digitais contra o STF; a investigação sobre o financiamento dos atos do 7 de setembro de 2021, que atacaram os ministros, a democracia e exigiram o fechamento do STF; o inquérito de quebra de sigilo pelo mandatário da república sobre investigação da Polícia Federal, que trata de suposto ataque de hacker ao TSE; o inquérito sobre as ameaças ao STF; o inquérito sobre a interferência do presidente na Polícia Federal para blindar os filhos e aliados, investigados por corrupção. O magistrado também já ordenou buscas e apreensões.
Canalha e otário foram xingamentos direcionados a Alexandre de Moraes por Bolsonaro no ato de sete de setembro de 2021.
O caso Daniel Silveira, em 2021, foi outro evento significativo para o conflito. Moraes ordenou a prisão preventiva do deputado por ameaçar ministros do STF e atentar contra as instituições democráticas em vídeo publicado nas suas redes sociais. O STF, então, condenou o deputado a oito anos de prisão. Porém, logo depois, Silveira recebeu o indulto de Bolsonaro. O presidente ainda apresentou ao Senado pedido de impeachment do ministro no mesmo ano, processo rejeitado por Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente da Casa.
Em maio deste ano enviou documento contra Alexandre de Moraes por abuso de autoridade à Procuradoria Geral da República.
Os acontecimentos recentes, no entanto, têm sugerido certa postura diplomática. O ministro foi pessoalmente convidar o presidente para participar da cerimônia de posse supracitada, e Bolsonaro o presenteou com uma camisa do Corinthians. Edson Fachin, ex-ministro do TSE, tentou iniciar movimento apaziguador frente aos questionamentos sobre a lisura do processo eleitoral e segurança das urnas; atendeu aos pedidos do Ministério da Defesa por inclusão de militares, no total nove, no processo de inspeção das urnas eletrônicas. O novo presidente, que já foi Secretário de Segurança Pública no Governo de Geraldo Alckmin, em São Paulo, na época conhecido por sufocar manifestações, tem boa relação com os militares, e inclusive malha na academia do Comando Militar do Planalto. No evento de posse, apesar de não aplaudir, Bolsonaro conversou e riu com o ministro.
Quanto ao novo cargo possibilitado por seus colegas do STF, Moraes promete realizar uma tarefa inédita: fazer com que as Fake News não passem impunes e não interfiram no processo eleitoral. Promete ser, em suas próprias palavras, implacável.
Agora, resta saber se a cordialidade será apenas um episódio protocolar; se Bolsonaro perseguirá suas intenções autoritárias ao lado de seus bolsonaristas, ou será levado a colocar o rabo entre as pernas - como vimos na cerimônia de posse - e a respeitar o processo eleitoral, comandado pelo presidente do TSE, seu adversário declarado, Alexandre de Moraes.