O Ato Político de Rememorar a Ditadura Civil-Militar

As lutas pela defesa da liberdade e da democracia em uma época totalitária e violenta e os impactos na contemporaneidade na Pontifícia Universidade Católica
por
Juliana Salomão
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23/04/2024 - 12h

O Memorial da Resistência, localizado no Centro de São Paulo, é dedicado à memória da Ditadura Civil-Militar, onde muitos presos políticos foram detidos sob o autoritarismo imposto, afetando e prendendo pessoas que faziam parte, principalmente, à imprensa e à educação. Com várias exibições presentes, a PUC-SP é uma das instituições que está promovendo uma nova exposição que destaca os espaços de memória em um dos locais culturais mais relevantes da capital paulista. 

Durante a ditadura, o jornalismo foi impactado brutalmente, sendo alvo da censura, tirando o que há de mais importante nesta profissão: a liberdade de expressão. Na educação, não foi diferente; a censura chegou a níveis de exclusão de materiais didáticos, como livros. Na mostra, a universidade revela formas de tentar driblar o totalitarismo imposto pelo governo, e o professor de jornalismo, Fábio Cypriano, comenta: “Boa parte de resistência à ditadura aconteceu na PUC de São Paulo. Essa exposição, ela fala sobre isso, então, nós organizamos a mostra em cinco módulos.” 

Dividida em cinco módulos, uma seção inclui o papel de abrigar professores expulsos ou demitidos de outras instituições, como Florestan Fernandes e Paulo Freire. A outra parte da exposição é dedicada à Comissão da Verdade, que foi estabelecida para investigar o que aconteceu na universidade durante essa época, incluindo a homenagem para cinco alunos que eram da PUC e foram mortos. Um dos espaços mais importantes que é o teatro TUCA, que é um local de luta eterna, também é uma pauta importante discutida na exibição em relação a memória. O último módulo é dedicado à “Defesa radical da democracia” e inclui iniciativas como o "Tribunal do Idiota", que abordou o que aconteceu no país durante a pandemia. 

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Módulo da exposição da PUC-SP (Reprodução: Juliana Salomão)

Em relação a essa exposição e a comemoração de 60 anos de resistência democráticas (1964-2024), Hélio Campos, editor da revista ‘Isto é’ e fotógrafo, conta um pouco mais sobre as mobilizações feita na PUC-SP e como isso afetou e marcou os dias atuais: “Os estudantes começaram a se organizar, a se mobilizar; a gritar abaixo a ditadura; a sair às ruas, porque o governo já estava fragilizado com pouco sucesso em termos econômicos e com muita tortura [...] Muita coisa justifica o que estamos vendo aqui!”, assim apresenta a importância desse espaço que é a universidade e o poder dos movimentos estudantis.

O editor conta como era o seu dia a dia e como lidava com a censura, os riscos que corria, as perseguições e a violências que sofria: “Eu trabalhava na revista ‘Isto é’.  A ‘Isto é’ era uma divergência da ‘Veja’ — apoiava a ditadura. Nesta época, o que eu mais cobria era estudantes e metalúrgicas”, destacando que Campos fazia registros de grupos considerados revoltosos, que eram presos no DOPS, onde eram submetidos à tortura, e em muitos casos, faleciam.

O DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) foi um órgão fundamental e violento durante esse período, no qual eles decretaram crimes de ordem pública e social relacionados à prática de capoeira, a manifestações religiosas afro-brasileiras e ao combate de movimentos de esquerda no país. Torturas, execuções e prisões ilegais eram extremamente presentes. Atualmente, é um prédio de pesquisa sobre esse período e fica localizado no Memorial da Resistência, sendo um dos principais locais de visita. O aluno de jornalismo, Wildner Felix, expressou: “Não tinha muito conhecimento sobre a época da Ditadura e como foi. Eu achei que foi muito incrível, as fotografias, a organização. Ficou muito lindo e eu pretendo ir de novo.”  

Para a instituição católica, a defesa da liberdade e da democracia é uma pauta que é recorrente e permeia a todos pertencentes dessa comunidade, não só por sua história dos impactos e confrontos nessa época totalitária, mas como se posiciona até os dias de hoje, como filantrópica e comunitária. 

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