Pela primeira vez assistimos manifestantes ovacionando um helicóptero que pairava sobre a multidão e se aproximava, de quando em quando, dos manifestantes coloridos de verde e amarelo. O presidente era esperado com ansiedade, como um astro do rock, mesmo várias horas atrasado.
Muitas bandeiras do Brasil Império, Hino da Independência, cartazes em inglês e até em francês. Pedidos por liberdade, máscaras dos ministros do STF estilizados como vampiros do “Supremo Talibã Federal” e uma conspiração dentro de uma conspiração - quem vestia preto era infiltrado ou jornalista e as máscaras dos vampiros era na verdade uma tática para ajudar a derrubar o presidente. O discurso de Bolsonaro, tanto em Brasília quanto em São Paulo, deixou muito claro que as máscaras não eram um contragolpe dos infiltrados.
Os apoiadores na região da Avenida Paulista eram famílias, senhores e senhoras. Roqueiros, motoqueiros - que preferem ser chamados de motociclistas - e mulheres apoiando um presidente genocida. Presença forte em toda a região da Paulista eram os vendedores. Água, cerveja, comidas, e as preferidas dos apoiadores: as bandeiras do Brasil.
Havia cama-elástica, food truck, espaço kids, tudo para encenar uma aura festiva e familiar.
O epicentro para nós foi o MASP, mas, para o comício, foi a quadra seguinte em frente ao Tribunal de Justiça de São Paulo. Vimos uma enorme bandeira do estado e as únicas faixas com “Fora Doria” estavam penduradas nos varais dos vendedores junto das camisetas amarelas estampadas com duas armas e os dizeres “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” que quase soa como ironia. O regionalismo e a cultura paulista parecem se sobrepor ao bolsonarismo, pelo menos neste 7 de setembro.
Não tinham panfletos, as únicas reivindicações estavam nas placas e não superaram o poder explicativo de um tweet. Grupos posavam para fotos com dizeres escrupulosos, orgulhosos e sem timidez. O fantasma do comunismo ainda vivia no presente dos protestantes. Ali valia tudo.
Conversamos com três manifestantes, todos responderam que estavam lá para defender os costumes e a liberdade. Questionados sobre o significado disso, não souberam responder. Não ficou claro o que eles pleiteavam, apenas que queriam a liberdade da subordinação. Não havia uma pauta em comum. Alguns disseram que não queriam o fechamento do STF. Um senhor disse que desconfiava do nosso sistema de votação e tirou a máscara do entrevistador para podermos falar com ele. Todos os entrevistados estavam vacinados, diferente do que o presidente defende. E muitos sem máscara.
Uma senhora mais exaltada, e desconfiada da nossa abordagem, falou que era de direita e que o Brasil era um país maravilhoso e rico. “Não queria o país com a bandeira vermelha, porque não somos comunistas. Não queremos ‘se tornar’ uma Venezuela, uma Argentina.”
Suspeitamos que os manifestantes defendem a liberdade, a liberdade da família Bolsonaro e todos os esquemas de corrupção que os acompanham.
Ameaçado pelo STF o presidente teme uma prisão, entretanto, até os discursos do chefe do executivo no 7/9 não existia motivos para essa preocupação. Os ministros apenas fazem seu trabalho e tentam responder às inúmeras dúvidas de milhares de brasileiros: “Quem mandou matar Marielle?” e “Quem financia a criação e divulgação de fake news?” são algumas delas.
Não era simplesmente um ato, é a metáfora do sequestro da bandeira brasileira representando o aparelhamento do Estado por interesses escrúpulos. É uma distorção do que é povo. Uma manifestação política com pula-pula, tiro ao alvo e muita cerveja. É mais uma tentativa de golpe em clima de carnaval e folia.
*Foto de capa: Rafaela Reis Serra