Por Letícia Alcântara
No dia 16 de agosto de 2021, Bárbara Caroline, moradora de São José dos Campos, município do interior do estado de São Paulo, sofre um acidente de moto que mudaria sua vida. Pilotando na via Cambuí, de máscara e capacete fechado, Bárbara perdeu a consciência, devido a uma hipóxia, condição médica caracterizada pela falta de oxigênio no corpo; a mesma narra que sentiu que iria desmaiar, porém não teve tempo de parar a moto.
Após ser socorrida, já no hospital realizou todos os exames necessários, Um dos vários ortopedistas que a atenderam explicou que, de seu joelho para baixo, encontrava-se tudo destroçado incluindo todos seus ligamentos e o próprio joelho, restando apenas 20% de tecido da sua perna direita. Após a queda, a moto bateu no meio fio, seu corpo escorregou pela grama, e sua perna colidiu com uma placa de sinalização de trânsito. Caso não houvesse a placa, teria tido apenas arranhões leves. No mesmo dia de seu acidente, ela então passa por uma amputação.
Bárbara conta que atualmente está no processo de fisioterapia para poder então utilizar uma prótese, a mesma pontua que todo seu tratamento é realizado através do SUS, dizendo ainda que enxerga na prótese que utilizará, a esperança da volta de sua independência, sendo possibilitada novamente de realizar o simples gesto de poder abraçar seu filho, de 6 anos, em pé, podendo caminhar e segura-lo pela mão na rua. A protetização trará novamente a segurança de andar livremente, chegando mais perto daquilo que fazia antes, como correr, pular dançar… Atividades que eram presentes, antes do ocorrido, em sua rotina.
Por definição, próteses ortopédicas são aparelhos que desempenham funções motoras semelhantes às do membro amputado. Seu uso traz inúmeros benefícios, para aqueles que nasceram sem, ou que de alguma maneira perderam um de seus membros, a tecnologia das próteses não só representa funcionalidade para estas pessoas, bem como devolve e eleva a autoestima, entregando esperança e uma nova perspectiva aos usuários.
As próteses ortopédicas, não são uma invenção nova do século XIX e XXI, desde a antiguidade os egípcios desenvolveram e faziam uso do mecanismo de membros artificiais para suprir a necessidade dos amputados. A diferença dos dias atuais, encontra-se no uso da tecnologia a favor destas demandas. Ao contrário do passado, em que esses membros eram desenvolvidos diante de condições rudimentares, hoje, a tecnologia se une a medicina e a engenharia para estabelecer melhores condições, as quais são mais funcionais e com uma gama mais vasta de utilidades.
De fato hoje em dia a tecnologia é um elemento determinante para essas invenções, nos primeiros relatos relacionados ao assunto como mencionado, ainda que nem tão tecnológicos, estas descobertas sem sombra de dúvidas já faziam uma diferença imensurável na vida dos seres humanos. Nesta época as próteses geralmente eram feitas utilizando madeira, e o couro sendo utilizado para fornecer a sustentação necessária. Durante a primeira e a segunda guerra mundial, ocorrem avanços significativos neste campo, devido ao elevado número de soldados que sofreram amputações, logo uma maior demanda proporciona maiores avanços e descobertas.
No ano de 1969, o médico cirurgião holandês Pieter Verduyn desenvolveu a primeira prótese transtibial articular sem travas, isto significa que, diferente das antigas, esta permitia algum grau de movimento e flexão para o usuário. A tecnologia não só promoveu uma melhora significativa nos materiais e funcionalidades das próteses, para além disso o passar dos anos e a modernização, da engenharia em conjunto com a medicina, baratearam os custos, de modo que as mesmas tornaram-se acessíveis a um maior número de pessoas.
Hoje em dia, existem diferentes tecnologias para a confecção e funcionamento das próteses. O Engenheiro de automação e controle Leandro Jussek, conta um pouco mais da prótese mioelétrica que desenvolveu. A mesma funciona através de estímulos elétricos, captados pelo músculo do antebraço, por sensores acoplados no coto do paciente. Leandro explica ainda que, a cada contração de um músculo se produz uma tensão elétrica, que pode ser medida através da pele. Estes sinais são captados e amplificados, enviados a um microprocessador, acionando então os servomotores contidos na prótese. No caso de pacientes amputados dos membros superiores, as próteses mioelétricas trazem maior independência e funcionalismo.
O engenheiro comenta que pessoas com deficiência física apresentam grandes problemas de integração na sociedade, em função da dificuldade de executarem tarefas consideradas simples do dia a dia. Com o avanço da tecnologia, hoje é possível desenvolver próteses eletrônicas, leves, resistentes e de baixo custo, para pessoas com deficiência física, melhorando sua qualidade de vida.
Infelizmente as próteses mioelétricas disponíveis no mercado, apresentam valor de compra relativamente alto, e muitas vezes envolvem custos adicionais, tais como, importação, custos de troca de peças e manutenção. No Brasil, não existe fabricante nacional que ofereça esse dispositivo para o mercado interno. Diferente destas, a prótese de Leandro é um produto de baixo custo, e com pouco investimento. Ele ainda lamenta que no País não haja incentivos do governo para o desenvolvimento das próteses, para membros superiores e pesquisas. Sendo suas alternativas procurar empresas privadas que manifestem interesse em investir nos projetos.
Ainda em relação às dificuldades de acesso às próteses através do governo, Plínio Francisco, amputado do joelho para baixo narra as dificuldades que teve para ter acesso a sua prótese, que demorou cerca de dois anos até chegar a ele, e que muitas vezes ela não dura muito, devido ao material utilizado na confecção. Que as próteses mudam a vida das pessoas, devolvendo, autonomia e dignidade, não existem dúvidas, então quais são os impasses que circundam a falta de investimento e interesse por parte do Estado nesta área. Atualmente vivemos tempos obscuros, onde saúde, inclusão e educação, parecem não ser pautas prioritárias, a tecnologia tem o poder de reescrever histórias, executando aquilo, que antes parecia impossível, de modo que deveria mais do que nunca ser uma primazia social, em especial por parte dos líderes e governantes.