A nova tendência de patrocínio para o futebol brasileiro

por
Matheus Crivelari
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01/11/2019 - 12h

Casas de aposta nunca tiveram muito crédito para os brasileiros. Um exemplo ocorreu no Campeonato Brasileiro de 2005, que ficou marcado pelo famoso episódio da “Máfia do Apito”, em que jogos foram manipulados pelos árbitros em favor de apostadores. E a anulação das partidas fraudadas modificou o campeonato, favorecendo  o Corinthians, que, ao final, conseguiu alguns pontos que havia perdido, contribuindo para sua campanha de campeão. O torcedor brasileiro parece muito apaixonado para apostar.

Apesar disso, duas medidas governamentais, ao que parece independentes, podem gerar mudanças expressivas  no futebol brasileiro. Na primeira, estabelecida no ano passado ainda durante o governo Temer, as casas de aposta foram legalizadas e ganharam uma regulamentação do Estado, passando a ter mais credibilidade. A segunda foi o cancelamento do patrocínio da Caixa aos clubes brasileiros, determinada pelo governo de Jair Bolsonaro, com o argumento de que o banco gastava mais do que poderia. De acordo com Bolsonaro, foram gastos, só no último ano, R$ 2,5 milhões em patrocínio e publicidade, apesar de o banco negar esse dado. Dessa maneira, é fácil notar: a antiga receita vinda da Caixa, que ia para 25 times do futebol brasileiro, agora será substituída, aos poucos, pelas empresas de aposta. E isso não será um fenômeno brasileiro, já que, atualmente, grandes times europeus possuem como patrocinadores masters essas casas de jogos.

Considerando os fatos, o Brasil pode estar tomando uma decisão acertada  em parceria com esse ramo, que na Europa movimenta muito dinheiro. A Fundación Codere, órgão estatal espanhol, fez um estudo apontando que esse setor já movimentou cerca de 35 bilhões de euros no país e que existem 800 mil apostadores ativos hoje. Na Grã-Bretanha, esse índice é um pouco menor: 14,4 bilhões de libras, apesar de ter casos como o do Stoke City, time da segunda divisão inglesa, que batizou seu estádio com o nome da patrocinadora do ramo das apostas.

O advogado Aldo Giovani Kurle, especialista em temas ligados ao futebol, é a favor de todos os tipos de investimento, inclusive de jogos de azar, mas faz um alerta. “A única ressalva, no meu entendimento, é o cuidado com a manipulação dos jogos, a fim de evitar que atletas, dirigentes de clubes e empresários não busquem auferir vantagens financeiras em detrimento de resultados esportivos. E este tema já é fiscalizado na Europa”.

O Carlezzo Advogados, escritório de advocacia esportiva também contatado para essa reportagem, crê que a entrada desse ramo no esporte contribuirá não só para a qualidade do futebol, mas também para o setor jurídico, criando novas oportunidades e diversificando o mercado. “O mercado jurídico para assessoria de empresas de jogos de azar tem muito espaço para crescer no país, pois trata-se de uma área que ainda necessita passar pelo processo de legalização destas operações. Assim que as leis forem aprovadas, certamente um novo ramo de atuação para os advogados se estabelecerá”, avalia o escritório em nota enviada sobre o tema.

No mercado nacional, clubes de elite já aderiram à ideia de serem patrocinados por essas casas de jogos. Ainda que sem muita visibilidade, Flamengo, Botafogo, Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Atlético-MG, Bahia, Fortaleza e Corinthians recebem apoio financeiro dessas empresas. O patrocínio de Flamengo e Fluminense é internacional, o que mostra a força desse mercado fora do país e como cada vez mais será costumeiro ver esses negócios presentes no Brasil. A patrocinadora do time rubro-negro é europeia e a do tricolor do Rio, chinesa.

            Portanto, um novo mercado desponta no cenário futebolístico brasileiro. Todos os cuidados são necessários para essa introdução, mas mais diversidade e competição sempre são bem-vindos. No Governo Sarney, por exemplo, quando o país estava afundado em crise e a inflação chegava em índices estratosféricos, poucas empresas nacionais e estrangeiras tinham coragem de investir no futebol, tirando a Coca-Cola, uma multinacional consolidada, que não tem problemas em investir em um mercado em crise. O resultado foi uma completa hegemonia da marca no esporte no final dos anos 1990, patrocinando campeonatos e vários times. Opções no mercado são sempre válidas, em todos os âmbitos sociais.