A nova forma de consumir moda

Carol Stauch fala sobre como o Tiktok está revolucionando o conteúdo fashion
por
Beatriz Vasconcelos, Laura Naito, Rafaela Dionello, Giovanna Rahhal
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07/04/2022 - 12h

A internet tem e sempre teve uma forte influência na moda. Durante a última década, com a ascensão do Instagram e do Tumblr, todos compartilhavam o seu estilo pessoal diariamente, com isso, todos queriam as roupas e maquiagens que os outros estavam usando - em especial os famosos. Desse modo, o mercado teve que se adaptar às tendências lançadas nas plataformas, assim como ocorre agora com o TikTok. 

Popularizado como uma plataforma de vídeos curtos de humor e dancinhas, o aplicativo cresceu e hoje conta com vários nichos, entre eles o “Fashion Tiktok”, que movimenta não apenas no mundo virtual, mas também o real. A tag #fashion tem 134.3B de visualizações, sendo a maior parte do público a Geração Z, os responsáveis pela popularização do aplicativo. Entre as trends relacionadas, a mais famosa é Get Ready With Me ou Arrume-se Comigo, que consiste em incluir o telespectador no processo do influencer de se arrumar para certa ocasião.

Com o crescimento do TikTok, principalmente em 2020, o consumo da moda foi modificado mais uma vez. A rede social criou um espaço virtual que permite que qualquer um viralize com seu look ou sua análise sobre um desfile. Atualmente, os influenciadores que surgiram do "Fashion Tiktok" são os principais criadores e propagadores de tendências. Em entrevista, Carol Stauch (@neverleavenaked), designer fashion e stylist formada em Moda pela Santa Marcelina, falou sobre essa transformação: "Não é só saber analisar desfile, que significa você sabe moda ou você sabe se vestir para aquela parcela de pessoas que gostam do seu estilo ou você tem uma bolsa de grife que você sabe sobre moda, não é sobre isso, é muito além, é toda uma história, é todo um segmento", afirma.


Carol Stauch, em conversa com a AGEMT. 

Nenhuma geração teve tanto acesso ao conhecimento sobre a história da moda nas palmas das mãos, principalmente com a volta de estilos de anos anteriores. Porém, por conta do livre acesso à informações deste gênero, é muito fácil produzir conteúdo mesmo sem uma formação ou um estudo do tema.“E essa questão de a moda ser tão “fácil de ser estudada por todos” acaba desvalorizando quem realmente estudou [...] é todo um processo, é conhecer a vestimenta, os acabamentos, a história, a moda, é muito mais do que só estudar, você precisa entender a moda”, comenta a stylist. 

Com essa superficialidade e grande quantidade do conteúdo criado em cima do tema, surge uma necessidade de viralizar os vídeos produzidos, gerando muitas oportunidades, já que o Tiktok permite que todos, até mesmo aqueles que não seguem o criador, consumam esse material. “Eu acho que realmente estamos perdendo a noção dos conteúdos [...] as pessoas estão cada vez mais querendo crescer em cima dos outros”, diz, adicionando "[ridicularizando] o que a pessoa compra, veste, e é sempre assim, uma comparação explícita, postando nomes, mostrando a cara da pessoa, e ela sabe que aquilo vai dar visualização [...] pegam aquele nicho que eles veem que dá certo e eles começam a criar esse tipo de conteúdo”. 

Ela também deu sua opinião sobre a onda de ódio gratuito gerado dentro da plataforma: “Independente do conteúdo que você faça, ninguém gosta de receber hate, ninguém gosta de se sentir julgado [...].  É melhor ter constância e seguidores fiéis do que viralizar e no mês seguinte ninguém lembrar de você”. Em um post em seu perfil do Instagram, Carol fez uma reflexão em torno de como a necessidade de viralizar nas redes tornou o hate uma trend. 

A forma de compartilhar e consumir moda também gera um debate entre o que é de fato estilo e aquilo que é apenas grife. A stylist explica: “eu acho que as pessoas ficam muito fixadas no que é estilo, o que é caro, o que é barato [...] para mim você tem que gostar porque faz sentido para você no dia a dia, e não porque tem uma marca ou um nome. Eu não acredito que isso torne a roupa mais estilosa. Estilo é uma coisa muito pessoal e as pessoas não conseguem entender isso ainda”.

"As pessoas querem comprar o que o influenciador está mostrando, mas não necessariamente é uma coisa cabível no bolso de qualquer um. É toda uma cadeia que, por querer estar ‘na moda’, acaba criando competições dentro do mercado. Já a tiktoker Malu Borges (@maluborgesm) foi muito criticada pelo seu consumo e estilo próprio recentemente, viralizando com a bolsa The Pouch da Bottega Veneta. Custando quase 25 mil reais e esgotada em lojas da grife italiana em todo o mundo, o acessório ficou famoso por lembrar uma toalha de banho enrolada, virando meme na internet. Malu ficou marcada como a dona da tal bolsa e ridicularizada por gastar tanto dinheiro em algo julgado como banal e ostentativo.