O futebol, antes movido apenas pelo amor da torcida ao clube, agora é movido pela injeção do dinheiro dos cartolas em um mercado de lucro alto. A Sociedade Anônima de Futebol (SAF) é um dos exemplos de investimentos nessa área, que se tornou possível com a nova Lei do Clube-Empresa, aprovada em julho do ano passado no Congresso e depois sancionadapelo presidente Jair Bolsonaro em agosto de 2021.
A SAF permitiu a diversos clubes brasileiros, que se encontram endividados por crises internas, ir atrás de investidores que possam quitar as dívidas, inserir dinheiro em contratações e consequentemente comprar a instituição. Sendo assim, clubes de tradições no Brasil que vinham sofrendo com crises das más gestões anteriores, decidiram por seu próprio conselho deliberativo, tornarem-se uma SAF – como é o caso recente do Cruzeiro, comprado por R$400 milhões pelo ex-jogador e empresário Ronaldo Fenômeno e do Botafogo comprado por R$400 milhões pelo bilionário estadunidense John Textor.
A adesão desse acordo é mais profunda do que um patrocínio, uma vez que, o empresário passa a ter direito de controlar todas as áreas do time – com protagonismo – sem ajudar apenas no financeiro. Esses acordos entre o clube e empresários, nos trazem divergentes olhares: o olhar da torcida, de esperança ao clube que sempre depositou o amor e quer vê-lo brilhar novamente, e o olhar do investidor, no qual visa as vezes alcançar mais lucros do que títulos.
Apesar das premiações retornarem dinheiro, o foco principal dos compradores é transformar o time em uma empresa, tais quais, aquelas empresas que estamos acostumados a conhecer, com funcionários divididos em setores e a existência de um planejamento de marketing para melhorar a imagem da marca e aumentar as vendas de seus produtos.
A essência de um negócio lucrativo, ao invés de títulos, é possível analisar no clube inglês Arsenal, onde o comprador Stan Kroenke, decidiu depositar seu foco em outro clube que havia comprado na principal liga de futebol americano, adquirindo ao Arsenal um segundo plano em suas metas, o que resultou em um clube sem competitividade, apenas bem estruturado nas receitas – frustrando seus torcedores, dos quais se tornaram motivo de provocações dos rivais.
Por ser uma lei recente com menos de um ano, as SAFs causam um ar de desconfiança e geram dúvidas de como irá funcionar. Para explicar melhor os motivos dos bilionários se atraírem em investir nos clubes brasileiros e os pontos positivos e negativos desse novo modelo, conversamos com o advogado e mestrado em direito desportivo especializado na área, João Paulo Di Carlo.
Afinal, por que o Brasil atraiu os cartolas? “Acho que esse modelo é favorável aos investidores, pois, além da segurança jurídica, a chance de retorno financeiro é grande já que o Brasil é, reconhecidamente, um país exportador de talentos e com uma moeda desvalorizada. Outro ponto importante é que a dívida será paga com as receitas do próprio clube e um intervalo de tempo. Igualmente, há uma expectativa nos próximos anos, com o projeto entre clubes de uma negociação centralizada e mais igualitária dos direitos de transmissão.”, afirmou João Paulo.
Mas, mesmo com esses proveitos do investidor, João Paulo explicou que a SAF além de benefícios também tem malefícios, “A SAF possui vantagens, como: recebimento de capital para a realização de investimentos e para o pagamento de dívidas, essas quais, poderão ser parceladas e pagas com prazos suficientes para uma boa gestão. Mas, apresentam pontos negativos, nos quais em caso de resultados negativos, a entidade passará a ser regida pelas mesmas regras em vigor para outras atividades econômicas, portanto, estará sujeito a falência. Além disso, uma possível perda de identidade e falta de vínculo do investidor com o clube, sua torcida e sua história, podem representar um ponto negativo”. E o problema disso tudo é que mesmo se o torcedor não se identificar com o projeto do novo dono, não é possível pressionar uma demissão, afinal o indivíduo será o dono do próprio negócio.
Desta forma, não se pode esquecer que o objetivo do futebol é ser campeão e os times conseguem isso por conta do seu 12º jogador, a torcida. Então as decisões daqui pra frente em clubes como Cruzeiro, Botafogo e recentemente o Vasco, devem-se ser pensadas em quem conduz a equipe nas arquibancadas.