A Copa do Mundo Feminina de 2023, na Austrália e Nova Zelândia, poderá ser a edição de maior potencial financeiro da história do torneio. A modalidade entre as mulheres vem crescendo cada vez mais com o passar dos anos. A final do Mundial de 2003, entre Alemanha e Suécia, teve público inferior a 4 milhões de pessoas em todo o planeta. Já na última edição, em 2019, a disputa entre Estados Unidos e Holanda atraiu uma audiência superior a 260 milhões, um crescimento de 6400%.
A popularização do torneio mais importante de futebol feminino do planeta elevou as cifras movimentadas pelo esporte. Hoje está cada vez mais comum transferências de atletas ultrapassando a casa do milhão de reais, tendo sido a da meia inglesa Keira Walsh, ex-Manchester City e atual Barcelona, a mais cara da história, valendo 350 mil libras (aproximadamente, R$ 2,2 milhões).
Esses valores ainda estão muito distantes da realidade masculina, que comumente ultrapassa bilhões de espectadores em torneios e gera bilhões de euros de renda para os clubes, mas ainda assim é significativo e promissor o crescimento da modalidade feminina.
Hoje os clubes e seleções não estão mais dependendo do aporte financeiro vindo do masculino. O futebol das mulheres tem rentabilidade crescente, pois os torcedores estão acompanhando cada vez mais o produto, seja pela televisão, seja lotando os estádios, em algumas ocasiões.
Com este crescimento da modalidade, criou-se o debate entre a igualdade das premiações entre homens e mulheres. Algumas entidades, como a federação espanhola, já estão premiando com a mesma quantia financeira homens e mulheres.
Por ser um ano de Copa do Mundo Feminina da FIFA, um grupo de mais de 150 jogadoras fez uma carta pedindo à entidade uma igualdade da premiação financeira do torneio em relação à modalidade masculina. Na Copa do Mundo do Qatar, em 2022, a FIFA pagou mais de US$ 440 milhões aos atletas que disputaram o torneio, enquanto a feminina deste ano seria de US$ 50 milhões.
Há dois lados para se analisar nesta história. É verdade que a entidade tem plenas condições de pagar o que as mulheres estão exigindo, e até mais se quisesse. Por outro lado, é válido ressaltar que a última Copa do Mundo masculina rendeu mais de US$ 7,5 bilhões para a FIFA, enquanto a feminina, em 2019, apenas US$ 320 milhões, aproximadamente. Os homens receberam de premiação aproximadamente 6% da arrecadação total do torneio, enquanto as mulheres, US$ 30 milhões - 10% da arrecadação total.
Muito do crescimento do futebol feminino segue uma corrente que também ocorre na Europa, afinal, tratando do esporte jogado, o velho continente, além do poder econômico, tem destaque nos investimentos adicionados em suas ligas, times e seleções. Dessa forma, em oito decisões disputadas de Copa do Mundo, a Europa conquistou três títulos, atrás apenas das pentacampeãs Estados Unidos. Já no olhar olímpico, que já teve sete competições, foram dois títulos para as europeias, atrás novamente das norte-americanas.
A hegemonia estadunidense se deve a diversos fatores, desde a tradição do esporte no país aos investimentos em ligas nacionais.
Na Europa, o caso da França é um dos que melhor ilustram a expansão do futebol feminino com sua liga nacional. Na disputa que existe desde 1975, ela teve uma diversa alternância de títulos até o crescimento expansivo de um clube no início do século, o Olympique Lyonnais.
O Lyon, como é conhecido devido ao nome da cidade de origem, tem uma longa história no futebol francês masculino e feminino. Dessa forma, a equipe nascida na década de 50 começou a ter destaque tratando-se de alto nível nacional e até mesmo continental no século 21.
No início dos anos 2000, enquanto a equipe masculina fortalecia o elenco com jogadores como Juninho Pernambucano e Fred, o feminino do Lyon seguia com o mesmo ímpeto, contratando, entre outras, a jogadora norte-americana Lorrie Fair, a primeira dos EUA a atuar num time francês
Pelo poderio financeiro dos clubes, a Europa já destina um salário mais expressivo às atletas do futebol feminino. Segundo a BBC, a capitã da Inglaterra e meio-campista do Arsenal, Leah Williamson, recebe aproximadamente £ 200 mil (R$ 1,28 milhão) por ano. Comparada ao dono da braçadeira do time masculino, o atacante do Tottenham Harry Kane, a base salarial é muito superior. Afinal, recebe por mês o que Williamson em um ano, sendo assim, ao final da temporada, Kane ganha em torno de £ 10 milhões (R$ 55,3 milhões).
Ano após ano, as organizações de competições e clubes surgem com novas ideias para o crescimento do futebol feminino. Seja nas premiações, nos salários ou até mesmo nos patrocínios que cada equipe possui como receita. Apesar de o esporte ser conhecido há anos e muito popular em todo o planeta, uma nova dinâmica se apresenta, com mulheres chegando e apresentando um futuro promissor.