“O Brasil vive o pior momento da pandemia”. Essa é uma frase que pode ser confirmada analisando os últimos números da pandemia do coronavírus no país, uma vez que há semanas, a média diária de mortes pela doença está acima de 3.000. Mesmo com esses números assustadores, o futebol, um serviço não essencial, continua sendo permitido no Brasil. O esporte teve uma breve paralisação na reta final do mês de março (o pior da pandemia no país) em alguns estados, como São Paulo e Minas Gerais. Mas já na primeira metade de abril, a bola voltou a rolar nessas regiões, com um número altíssimo de jogos para muitos clubes, que precisam, em alguns casos, entrar em campo para disputar partidas de dois em dois dias.
Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), revelou que o índice de infecções pelo coronavírus em atletas das competições da Federação Paulista de Futebol é semelhante ao de profissionais de saúde que trabalham na linha de frente no combate à pandemia. A pesquisa aponta que 11,7% dos atletas e 7% dos membros das outras equipes do clube, como comissão técnica, dirigentes e funcionários, que foram testados tiveram diagnósticos positivos para o vírus. Apesar de existirem poucos casos graves entre os atletas, que tendem a desenvolver apenas sintomas leves ou mesmo serem assintomáticos, a situação não é a mesma com os outros profissionais dos clubes. Além disso, os jogadores podem atuar como transmissores da doença.
Em meados de março, durante uma reunião virtual realizada com presidentes de clubes das séries A e B do Campeonato Brasileiro, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, se mostrou contrário à paralisação do futebol no país. Na reunião, Caboclo garantiu que não vai paralisar as competições nacionais e disse que nem a Globo, nem os patrocinadores dos clubes são a favor da interrupção do esporte.
“Eu não abrirei mão de jogar as competições nacionais, o que repercutirá nas internacionais e incorporará as estaduais. Então, por gentileza, vamos pensar agora: nós podemos parar o futebol? A Rede Globo não quer. Eu estou assegurando que não. Ninguém quer. Seus patrocinadores não querem. E, se parar, sabe quando nós temos a segurança de dizer que a gente pode voltar? Nunca”, disse o presidente da entidade máxima do futebol no Brasil.
Apesar do fanatismo e do desejo de querer assistir frequentemente os jogos de seus times, muitos torcedores acreditam que medidas ligadas ao futebol precisam ser adotadas pelas autoridades na luta contra a covid no Brasil. É o caso do Daniel Monteiro, 18 anos, torcedor fanático do Palmeiras. Ele acredita que a medida ideal seria a paralisação do futebol no país inteiro. No entanto, Daniel pensa também que uma possível paralisação seria terrível para muitos clubes, principalmente para os clubes pequenos e que enfrentam dificuldades financeiras.
“Eu amo o meu time e, se pudesse, veria jogos dele todos os dias, mas não tem como seguir com o futebol achando que tudo está normal. A vida é mais importante do que o jogo e, por isso, as autoridades não podem se esconder e fingir que nada está acontecendo. O ideal seria a paralisação completa do futebol no país, mas como sei isso seria catastrófico para muitos clubes, principalmente para os pequenos, acredito que uma medida cabível seria a diminuição do número de jogos dos clubes nas competições”, diz o torcedor palmeirense.
Claro que não podemos deixar de lado as consequências de uma possível paralisação do futebol para os clubes. Principalmente para os clubes pequenos, que vivem dramas financeiros e enfrentam dificuldades para pagar os salários de seus funcionários. A pandemia faz com que os jogos tenham que ser realizados sem a presença de público nos estádios, o que gera enormes prejuízos para os clubes, que esperavam poder contar com o dinheiro da bilheteria para a administração da sua saúde financeira. Uma possível paralisação do futebol faria com que os clubes deixassem de receber outro dinheiro importante: o dos direitos de transmissão. Isso porque as emissoras não pagariam esse dinheiro aos clubes, já que as partidas não estariam sendo transmitidas.
Mas não é apenas o futebol que vive esse drama. Empresas dos mais diversos segmentos, de grande e de pequeno porte, passam por situações parecidas todos os dias. Temos que entender e compreender as dificuldades enfrentadas por essas empresas e pelos clubes de futebol. No entanto, mais de 3.000 pessoas estão perdendo suas vidas todos os dias, e todas as medidas que possam ser tomadas para diminuir esse número, por mais difíceis que sejam, precisam ser levadas em consideração.