“Sempre respondia ignorância com respeito, enfrentava piadas dizendo que queria ser homem, e por ser quem eu sou. Porém nunca abaixei a cabeça para qualquer um que fosse", afirma Rafaella Lima, jogadora de futsal do AC Futsal Feminino, time que atuava na Zona Sul de São Paulo na quadra do CDC Gigantinho (SP).
Nascida e criada no distrito do Grajaú, distrito mais populoso de São Paulo (SP), Rafaella diz ainda que "machismo e homofobia interferem muito, as pessoas olham como várias loucas correndo atrás de uma bola, ou mulher que gosta de outra, e não é isso, é mais amplo e tem muita coisa.”
Seu ativismo sobre a causa LGBTQIAPN+ e feminista influenciando colegas de time, sempre foi alvo de discursos de ódio por parte de torcedores rivais que menosprezaram a atleta por ser imponente em mostrar sua personalidade para a comunidade.
Sobre como lidar com um ambiente hostil, Lima afirma: “Eu aprendi, desenvolvi, tive muito conhecimento, mas também amadureci, por toda essa dificuldade tive de evoluir rápido. Quando pensarem que te derrubaram, você dá a volta por cima. Porque comentários assim não te levam a lugar nenhum. Tem de ter força e coragem e enfrentar.”
Para Rafaella, o futsal pode ser inclusivo: “Todos nós somos diferentes, certo? Primeiramente, deveríamos ter a consciência de não falar que é apenas lugar de homem, e não para mulher, todos podem ir pro futsal de periferia, futebol de várzea e outros. Ainda há o machismo estrutural infelizmente."
“Na quadra, somos vistas por muita gente, sempre destilam o ódio e preconceito que está enraizado dentro deles. Porém, sempre tentei lidar da melhor maneira possível, incentivando minhas amigas à lidarem da melhor maneira possível também, não retrucando pois não vale a pena revidar, não somos ignorantes que não têm conhecimento. Você é uma pessoa, independente da sua identidade ou orientação tornando isso em coisas amplas e distintas"
Atualmente, a ex-jogadora cursa Educação Física e espalha o conhecimento adquirido na carreira, aconselhando outras mulheres que querem entrar em qualquer área de trabalho:
“Tenham conhecimento e argumente, não abaixe a cabeça para ninguém, independente se for homem ou mulher. Haverá homens te questionando, então use conhecimento, coragem e disciplina, assim formando futuras grandes profissionais, independente da orientação ou identidade de gênero aliado da sabedoria e empoderamento. O saber, como gosto de citar, ninguém te rouba podendo levar tudo, exceto isso. Não é jogando futsal que vai te mudar, orientação sexual é um fato, identidade de gênero é outra, assim como seu esporte e sua profissão.”