
A música eletrônica vem conquistando grande repercussão nacional ao expandir seu público. Entretanto, a presença física não espelha os ouvintes gerais, já que, além das barreiras sociais, a elitização dos eventos impossibilita a democratização musical.
Nos últimos anos, principalmente com a volta dos eventos após a pandemia de Covid-19, a música eletrônica começou a conquistar mais ainda o espaço nacional e abriu diversas portas para DJs e produtores iniciantes que hoje em dia são renomados no mundo inteiro. Além disso, com a tecnologia cada vez mais avançada e o fácil acesso à internet, há oportunidade para muitos explorarem e conhecerem cada vez mais esse estilo musical.
“Com a informação na palma das mãos, muitas pessoas que nunca escutaram música eletrônica tiveram acesso a esse meio pela internet, então sem dúvidas isso ajudou a expandir mais ainda uma cena que antes era mais exclusiva aos amantes e frequentadores de festas”, afirma a DJ paulista Fernanda Pistelli, de 29 anos, anunciada como uma das atrações para a próxima edição da Tomorrowland Brasil, que será realizada em outubro, em São Paulo.
Com o avanço da tecnologia e o fácil acesso à música devido à internet, a música eletrônica tem despertado mais interesse no público, resultando em uma nova fase. Ao afirmar que o estilo tem sido redescoberto atualmente, Pistelli diz que “muitas mentes criativas se despertam e assim novas ideias ou estilos surgem a todo instante”. Além disso, com muitos artistas ganhando espaço no Brasil e no mundo, a relevância se torna ainda maior.
“Cada vez mais nossa geração vem ganhando notoriedade e espaço aqui e lá fora, muitos com vocais em português ou com grooves originais e acho que isso pode estar resultando na forma como muitas pessoas veem a eletrônica no cenário atual. É uma nova fase e sinto que os artistas estão se sentindo mais livres para criar. Acredito que o público também tem curtido acompanhar as evoluções”, afirma o DJ Duarte, do Rio de Janeiro.
Antes da expansão do gênero, as raves, surgidas em 1988 como um contraponto ao pessimismo dark dos anos 80, foram um importante instrumento para o desenvolvimento da música eletrônica. As casas noturnas europeias, influenciadas pelo sucesso dos eventos, passaram a tocar o gênero frequentemente, e festivais foram criados ao redor do mundo, fazendo sucesso e arrastando uma multidão de ouvintes até os dias de hoje.
Em meio a uma extensa variedade de festas e festivais eletrônicos e um grande público no país, o preço dos ingressos desses eventos acaba sendo um impasse na democratização do acesso, gerando um nicho padronizado de frequentadores. Ao ser questionada sobre a elitização dos eventos eletrônicos e altos valores de ingressos, Pistelli avalia que existe uma exclusão social e complicações para encontrar um equilíbrio sustentável, onde a conta feche e todos os trabalhadores sejam remunerados. “Vejo muitos festivais abrirem oportunidades para voluntários ajudarem no evento em troca do ingresso e eu acho isso o máximo”, conta a DJ e produtora.
Assim como Fernanda Pistelli, a DJ Carola representará a participação feminina, que ainda é muito pequena, nos palcos eletrônicos da Tomorrowland Brasil. Como uma mulher periférica, ela compõe a minoria nesse cenário - que é composto majoritariamente por homens -, visto que o percentual de mulheres na música eletrônica é inferior a 22%, segundo a revista Forbes.
Mesmo com as ramificações e os mixers plurais que alguns DJs ousam em fazer, não há tal pluralidade nos shows e festivais. Isso não é explicado por uma questão única de gosto, mas sim porque, além da questão econômica, há pouca representatividade, fazendo com que a presença do público variado seja somente ouvinte, não física. "Quanto mais houver artistas que retratam a sua realidade e vivência e se expressam intensamente, acredito que a tendência é juntar mais a galera e sair mais dessa bolha, com resultados expressivos e com um alcance maior com o tempo", afirma o DJ Duarte, expondo a importância da integração de todos os tipos de pessoas, tanto como na plateia, quanto nos palcos.