Nos últimos anos, o cinema brasileiro tem encontrado nas mulheres suas principais embaixadoras culturais. Longe de serem coadjuvantes, elas têm protagonizado produções, assinado roteiros, dirigido longas aclamados internacionalmente e se consolidado como a força motriz de uma indústria em transformação. Após mais de cinco décadas como produtora, Sandra Klinger Rocha afirma que a relevância das mulheres na indústria audiovisual é “algo que não era nem cogitado.”

No entanto, na opinião da entrevistada, esta relevância ainda segue em estágios iniciais. A produtora liderou o projeto “Mulheres Iluminando o Mundo”, série feita em parceria com a ONU que visa difundir a questão da equidade na internet brasileira através de mulheres que enfrentam a desigualdade em diversos campos sociais e no mercado de trabalho. A produção de 2023 foi premiada internacionalmente em festivais em Madrid, Vienna e Istambul. “Foi um projeto que impactou mais de 8 milhões de pessoas. Isso não é pouca coisa, mostrando que existe um enorme público para projetos desenvolvidos por mulheres”, disse Sandra.
De acordo com pesquisas realizadas pela USC Annenberg (Universidade de jornalismo da Califórnia), o número de diretoras mulheres à frente de grandes produções aumentou exponencialmente ao longo dos anos. O que era uma representação quase nula na década de 1950, hoje se aproxima de 16% das obras lançadas por ano. Além disso, a mesma pesquisa indica que filmes estrelados por mulheres rendem 16% a mais de bilheteria que filmes protagonizados por homens.

Não é de hoje que nomes como Fernanda Montenegro e Fernanda Torres pavimentam esse caminho. A primeira, indicada ao Oscar por “Central do Brasil”(1998), é símbolo da excelência artística nacional. A segunda, premiada no globo de ouro por sua atuação em “Eu Ainda Estou Aqui”(2024), segue como referência múltipla — entre a dramaturgia e o roteiro. Ambas representam uma linhagem de artistas que ultrapassam as telas: são também porta-vozes do amadurecimento de um cinema que passou a entender a mulher não apenas como personagem, mas como sujeito criador.
A guinada contemporânea, entretanto, revela um novo fenômeno: a ascensão de mulheres atrás das câmeras. Nomes como Petra Costa, Anna Muylaert, Carolina Markowicz, Sabrina Fidalgo e tantos outros colocam o Brasil em evidência internacional, quebrando a lógica de que a direção e o roteiro são espaços exclusivamente masculinos. Filmes como Democracia em Vertigem (Petra Costa), indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2020, ou Que Horas Ela Volta? (Anna Muylaert), premiado em Sundance e Berlim em 2015, expõem não apenas questões políticas e sociais brasileiras — mas o fazem com um olhar próprio, que parte da experiência feminina para alcançar o universal.

Essa representatividade de figuras femininas por trás das câmeras age exponencialmente dentro da indústria, cada ano incentivando mais a presença de mulheres no cinema. Quanto ao tema, Sandra disse sobre como vê esta questão cada vez mais em pauta. “No meu tempo não sentia que o assunto da equidade e representatividade de gênero estava em pauta” afirmou Sandra. A produtora ainda segue: “Cada vez mais as mulheres estão assumindo posições que antigamente eram só de homens. No cinema isso também se reflete”.
Ainda em entrevista, a paulistana afirma que este crescimento está conectado aos movimentos de conscientização social sobre a presença das mulheres em espaços antes ocupados por homens. “O talento das mulheres no cinema e o espaço dado a elas está se abrindo. Tem muita mulher talentosa” afirmou a cineasta. No Brasil, o reconhecimento de artistas como Fernanda Torres ao longo de sua campanha para o Oscar em 2025 é um exemplo da exaltação da figura feminina na indústria, que segue influenciando novas jovens mulheres que desejam trabalhar com o cinema.