A troca de passes, considerada a mais democrática do país e que mais se popularizou durante os anos, demonstra uma face excludente quando se trata da prática feminina.
A primeira partida da modalidade entre mulheres no Brasil aconteceu em 1921, durante a comemoração de uma festa junina, e naquele momento, nem se imaginava que após duas décadas, no auge de um governo dúbio — uma vez que posicionava-se de forma neutra em relação à Segunda Guerra, porém, aproximava-se de ideais fascistas — a prática seria proibida, em prol de ideias conservadoras.
A primeira partida de futebol transmitida entre mulheres, aconteceu no estádio do Pacaembu, dia 17 de maio de 1940, em São Paulo. Coincidentemente é nele onde se instalou o Museu do Futebol, em 2008.
Manchete exposta no Museu do Futebol que divulgou a proibição do futebol feminino, em 1941. Foto: Laura Celis
O acervo contou com duas exposições grandes sobre o futebol feminino. A primeira, em 2015: “Visibilidade para o Futebol Feminino”, e a segunda, e mais recente, em 2019: "CONTRA-ATAQUE! As mulheres do futebol”, além de sete exposições virtuais, audioguias e eventos sobre o assunto, reafirmando o compromisso contra movimentos que invalidam a prática entre mulheres.
De acordo com a divulgação da primeira exposição citada, "há uma grande desigualdade no tratamento de homens e mulheres na história do futebol no Brasil e isso não se dá ao acaso”. Essa informação é reiterada por mulheres inseridas nesse cenário, como Isabela Cristina, jogadora e espectadora do futebol feminino brasileiro: “É difícil pensar sobre futebol feminino sem relacionar o machismo. Quando você é criado em uma cultura onde as mulheres são ensinadas a serem submissas, sair desse pensamento para um mundo onde as mulheres não se calam mais é tentar furar a própria bolha, mas os homens não querem isso, e sim que nós sejamos reféns, e quando eles veem uma mulher, jogadora de futebol, ganhando mais que eles, entram em retrocesso”.
Ainda assim, as jogadoras continuam enfrentando impasses, como diferenças salariais e nas premiações entre as modalidades feminina e masculina e o próprio desprezo por parte daqueles que as acompanham, além disso, é ignorado o fato de que algumas delas possuem mais recordes do que jogadores homens, e mesmo assim não são valorizadas de forma honesta. A artilheira Marta Silva, por exemplo, possui 119 gols pela seleção brasileira, enquanto Neymar Júnior (aclamado pela população nacional e internacional), possui 77 gols.
É necessário então, um olhar crítico e anti-machista por parte da população que hostiliza jogadoras de futebol, e nega a admiração devida a essa categoria do esporte. Assim, finalmente, poderemos tirar as mulheres do banco de reserva e colocá-las debaixo dos holofotes, lugar de onde nunca deveriam ter saído.