Mais recentemente, um aspecto obscuro da indústria hollywoodiana começou a virar assunto: a representatividade etária em produções. Fato é que as produções cinematográficas ao longo dos anos trazem à tona muito do universo patriarcal e machista sofrido pelas mulheres e atrizes, figurantes e vários outros trabalhos femininos no mundo do cinema. Escândalos como a existência de inúmeros casos de denúncias de assédio que eram silenciados, ou a grande desigualdade salarial entre atrizes e atores, vêm sendo postos em pauta, e apesar das vitórias através de lutas feministas, ainda há um problema pouco discutido: os espaços estereotipados ou inexistentes para as mulheres “mais velhas” (no caso, acima dos 40 anos) no cinema, o que é ainda mais cedo e pior para mulheres negras, que já têm poucos papéis de protagonismo.
Enquanto atores homens chegam aos 50 e 60 anos ganhando papéis de protagonistas e “galãs”, mantendo sua carreira, como é o caso de Tom Cruise aos 58 anos; Brad Pitt, 57; e Johnny Depp, 57. Atrizes quando alcançam a mesma idade, não têm as mesmas oportunidades. A atriz Charlize Theron, 45, é um exemplo. Em uma entrevista sobre o longa-metragem “Casal Improvável”, a atriz respondeu a uma espectadora que lhe perguntou se ela se arrependia de ter se negado a participar de um dos filmes mais bem-sucedidos dos últimos tempos, o longa da DC Comics, Mulher-Maravilha. O que ninguém esperava, era a sinceridade de Theron em sua confissão.
A representatividade etária feminina na indústria americana de cinema é realmente absurda, apesar do pouco caso dos grandes estúdios, as comediantes Tina Fey e Amy Poehler que apresentaram o Globo de Ouro em 2015, brincaram com a atriz Patricia Arquette, indicada à melhor performance por seu papel no filme “Boyhood”: “ainda há ótimos papéis para mulheres com mais de 40 anos, desde que você seja contratada antes dos 40”. A piada, adorada pelo público, chamava atenção para o fato de o filme ter sido rodado ao longo de doze anos e para a ausência de oportunidades para mulheres de 40 ou mais na indústria de Hollywood.
“Tem coisas que são realmente decepcionantes sobre ser uma atriz em Hollywood que me surpreendem o tempo todo. Tenho 37 anos e me disseram recentemente que sou muito velha para ser o par romântico de um homem de 55. Isso foi chocante pra mim. Primeiro me senti mal, depois brava, e então eu só dei risada.”, disse Maggie Gyllenhaal, em 2015.
Grandes atrizes hollywoodianas, que bombaram em filmes dos anos 1990 e 2000, hoje, acima dos 40 anos, em grande maioria recebem papéis estereotipados de “mãe”. Jennifer Garner, aos 49 anos, conhecida pelo papel no romance ‘De repente 30’, migrou para as produções mais familiares, como o recente filme da Netflix, ‘Dia do Sim’ e ‘Milagres do Paraíso’ (2016), em que interpreta, em ambos, o papel de mãe. Alyson Hannigan também é outra atriz, reconhecida nos papéis da série ‘Buffy’ e nos filmes de ‘American Pie’, em que hoje, aos 47 anos, atua como figuras maternais, como no filme ‘Flora e Ulysses’ (2021) e 'Kim Possible' (2019).
No Brasil, com os sucessos nacionais das telenovelas não é diferente; na reprise de ‘Império’, uma produção da Rede Globo de 2014, Alexandre Nero (aos 44 anos na época) interpretou o protagonista galã da novela. Atores como, Rodrigo Lombardi, 44 e Reynaldo Gianecchini, 48 são parte dos artistas brasileiros famosos pelo “charme e beleza” até hoje, com carreiras consolidadas por anos.
Enquanto a carreira de atores dura quase a vida toda, muitas atrizes, até consolidadas, “somem” das produções cinematográficas depois que são consideradas “velhas demais” para os papéis predominantes. Quase que, em uma carreira de jogador de futebol, elas têm prazo, não por problemas de saúde ou estarem “velhas demais”, mas porque é o que impõe o sistema patriarcal.