A vida em quarentena, mesmo que muitas vezes ociosa, pode ser estressante, e é aí que entram formas de se distrair que se tornaram comuns na pandemia, como as lives de cantores de todos os gêneros, assistir filmes e séries através de plataformas de streaming e também Stand Ups e shows de comédia que viraram vídeos no Youtube e TikTok. A plataforma, aliás, ganhou muita visibilidade em meio a quarentena, já que os atuantes da área trocaram o palco e a plateia lotada, para o quarto de casa e seguidores nas mídias sociais.
O cenário da comédia sempre foi ocupado majoritariamente por homens e muitas vezes as piadas eram sobre mulheres, objetificada e sexualizada. O comediante reclamava que era casado por isso não fazia sexo, ou contava piadas sobre loiras burras, independente do tópico a mulher sempre foi colocada como inferior e incapaz de entender ou fazer arte, colocam ainda como seres que não podem demonstrar sua inteligência. Mesmo que exista resquícios dessa comédia retrógrada, na contemporaneidade a mulher ocupa espaço no humor.
A mulher sempre foi capaz de fazer rir, mas foi socialmente desacreditada em relação a essa habilidade, como em tantas outras. O papel da representatividade - não somente na comédia - é de importância indubitável, em cima do palco e também nas redes sociais, comediantes como Bruna Louise, Carol Zoccoli, Dadá Coelho, dentre outras, abordam temas que não são esperados por envolverem muito tabu dentro de uma sociedade machista, como menstruação, sexo na visão da mulher, masturbação feminina e até mesmo questões mais serias como o assédio, a menor valorização salarial ou até casos de estupro e feminicídio.
Independente do espaço conquistado no humor é impossível não enxergar o machismo, ainda mais na realidade pandêmica. Marcella Maris, 16, tiktoker, conta sobre as dificuldades que enfrenta, ‘’Cobram que eu tenha atitudes “condizentes com os de uma garota”, o que é uma realidade apenas para mulheres, enquanto homens influenciadores digitais são livres para se expressarem como quiserem. É preciso saber ignorar muita coisa para não desistir da comédia.’’ Por estarem protegidos através de perfis – muitas vezes falsos – os internautas tratam a internet como um mundo sem leis, ataques racistas, machistas e homofóbicos são frequentes. ‘’Mesmo sendo menor de idade e produzir vídeos sem nenhum cunho sexual, homens nojentos, principalmente mais velhos comentam absurdos em meus vídeos. É difícil ser tratada como um objeto", desabafa Marcella.
A cobrança social e a pressão estética para estar dentro dos padrões é constante. Giovanna Brandão, 18, afirma que consome muito o gênero da comédia, principalmente feminino. ‘’Sempre que entro nos comentários de qualquer vídeo ou foto de mulheres públicas, 90% falam da aparência e nunca do conteúdo abordado. Mesmo não sendo figura pública isso me afeta, percebo quão enraizado esse padrão estético está, não consigo desapegar dos filtros e efeitos.’’- Brandão sabe da realidade enfrentada pelas mulheres e completa ‘’É obvio que o humor é predominantemente produzido por homens, mas eu cansei desse machismo disfarçado de comédia’’.
No espaço físico o Stand Up ganhou muita visibilidade nos últimos tempos no Brasil, mas ainda são poucas as mulheres que atuam nessa área. Já na televisão é notório que programas apresentados por mulheres ganharam mais visibilidade, como o Lady Night da comediante Tata Werneck, transmitido pelo Multishow. Em filmes com alta bilheteria mulheres tem grande destaque, como Ingrid Guimarães com ´´De pernas pro ar´´.