Com a recente participação de Camilla de Lucas na última edição do Big Brother Brasil e com as aparições da cantora Ludmilla em seus shows, é possível perceber uma mudança constante: seus cabelos estão sempre diferentes. Ruivas, loiras, morenas, lisas, onduladas, crespas e com comprimentos curtos e longos, as mulheres vêm encontrando em acessórios como as laces a versatilidade de ser quem quiserem a qualquer momento.
A diferença, que muitos não conhecem, entre uma lace e uma peruca está essencialmente em sua touca, a parte que imita o couro cabeludo. A touca da lace consiste em uma tela fina sobre a qual são costurados os fios de cabelo com uma pinça específica. A variedade no mundo desse acessório é de impressionar. Entre Front Lace, Full Lace, laces de cabelo humano, artificial ou orgânico e laces específicas para exercícios físicos e festas, há um ponto em comum: o resultado de sua aplicação é muito natural. Elas são produzidas de forma a permitir à pessoa que está utilizando o acessório a realização de qualquer tipo de penteado e a repartição do cabelo da maneira que achar melhor. A supervisora técnica da Salon Line, Shirlei Oliveira, em entrevista para o Correio Braziliense, disse: “Elas são fáceis de usar, podendo ser colocadas ou removidas em qualquer lugar, sem o auxílio de um profissional”.
Assim como há uma variedade de tipos de lace, também existe uma variação no preço das peças. De acordo com entrevista à Forbes da fundadora da loja Lady Laces, Lady Valiante, os acessórios, que são parecidos com as perucas, podem custar de R$ 150 a R$ 4 mil. Essa diferença no preço é reflexo do material usado para a confecção da lace e a sua finalidade. As laces de cabelo natural custam a partir de R$ 700 e podem chegar a R$ 8 mil, tendo como média de preço R$ 2 mil, enquanto as de cabelo orgânico são vendidas no máximo por R$ 800.
Mudanças culturais
Mais do que a praticidade do acessório, as recentes mudanças em como se consome no Brasil e no mundo acarretam o sucesso de certos produtos. A sustentabilidade e o consumo consciente estão cada vez mais presentes na mente do consumidor. Na moda, por exemplo, movimentos como o slow fashion e o consumo nos brechós têm ocupado espaço e chamado atenção do público. No mundo dos cabelos, movimentos de aceitação e de autodescobrimento estão abrindo caminho no mercado. Atualmente, é fácil encontrar produtos diferenciados e produzidos de forma mais independente e sustentável, dependendo do nicho no qual se está inserido. O produto final que está sendo adquirido não é mais o único filtro utilizado para a sua aquisição.
Ao começar a assumir responsabilidade pelos impactos que suas compras têm no meio ambiente, uma parcela dos consumidores começou a procurar entender toda a produção por trás daquela mercadoria. Quem está produzindo, onde comprar, como foi confeccionada e o quão danoso é o seu descarte para o planeta são questões que estão permeando o interesse do público. Preocupações desse tipo estimulam a procura de empreendedores autônomos e sustentáveis ao invés de grandes conglomerados.
Além das questões moral e sustentável, o significado do produto adquirido passou a ocupar espaço no mundo dos negócios. O empoderamento da mulher, por exemplo, vende e muito. No entanto, há uma diferença entre comprar uma camiseta bordada com jargões feministas em inglês, que provavelmente passará despercebida, e comprar um produto que auxilia, de fato, a mulher preta a existir em qualquer espaço que ela queira da forma que ela achar melhor.
As laces ajudam as mulheres a se enxergarem de formas distintas abrindo as portas para que se vejam em diferentes nichos e cargos nos quais normalmente não se veem representadas. Elas assumem suas identidades sem diminuir a sua autoestima no meio-tempo, vão se conhecendo e experimentando diferentes opções e versões de si mesmas. Afinal, a mudança tem um ar de libertação e as mulheres, ao se apropriarem da sua liberdade, pretendem explorá-la a fundo após tantos anos sendo empurradas e submetidas a alisamentos e procedimentos extremamente danosos aos fios.
No entanto, ao mesmo tempo que o movimento da aceitação ajuda a aumentar as vendas, ele é um processo individual e, em alguns casos, primeiro uma mulher precisa se ver e se sentir segura em um lugar de cabelo liso, para que, então, ela perceba que pode ocupar esse mesmo lugar com seu cabelo natural, seja ele qual for.
As laces permitem que esse processo aconteça sem mudanças drásticas e permanentes. A trancista Esther Gomes, em entrevista à Universa, explica que as laces, assim como as tranças, são uma maneira mais segura de uma mulher passar pela transição capilar e que é uma escolha pessoal utilizar essas estratégias para lidar com o processo. "Isso não anula amarmos nosso cabelo crespo”, diz a trancista.
Foto da capa: Adrian Fernández