Movimentos sociais defendem soberania nacional

Em ato no centro de São Paulo, entidades civis e figuras políticas também defendem condenação de Bolsonaro e de outros réus
por
Giuliana Barrios Zanin
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09/09/2025 - 12h

 

A bandeira do Brasil voava entre as mãos das pessoas que a esticavam sobre o chão da avenida próxima à estação República. Com bandeiras, cartazes e cantos, manifestantes se reuniram ao redor da Praça da República na manhã do último domingo (07) pelo feriado nacional da Independência do Brasil. O “Ato em Defesa da Soberania e dos Direitos” pedia a prisão dos réus acusados de tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito, o fim da escala 6x1, a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil e defendia a soberania nacional frente às ameaças do governo norte-americano.  

 

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Manifestantes foram às ruas do centro de São Paulo no feriado da Independência. Foto: Giuliana Zanin

 

Logo na saída da estação, apesar do dia nublado e frio, dava para ouvir as vozes entoadas por quem estava no palanque. Uma delas era do diretor da União Estadual dos Estudantes em São Paulo (UEE-SP), Wesley Gabriel, que repudiou o apoio do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), à anistia dos réus de 8 de janeiro. 

Pessoas de todos os tipos se somavam naquele espaço: jovens, aposentados, sindicalistas, militantes, filiados a partidos e gente que não gostava muito de política, mas que entendia a sua importância diante das demandas que eram levadas, como admitiu uma mulher que estava sentada próxima ao carro de som.

Um homem que preferiu não se identificar usava um boné azul-bandeira costurado com a frase “O Brasil é dos brasileiros”.  Professor aposentado de geografia do ensino médio, ele afirma que gosta de política desde a adolescência. Estar ali, para ele, era símbolo de defender a sua cidadania - “lutar pelo o que é justo” - contra a desigualdade econômica e buscar a "igualdade de direitos", nas palavras dele. 

Com os olhos embargados, ele conta que tem medo de voltar a viver o que sentiu, ainda jovem, na ditadura militar. Quando foi “tirar” a sua carteira de identidade, a delegacia à época era localizada ao lado de um dos quarteirões de onde saíam e entravam camburões com pessoas presas no seu interior. Enquanto esperavam, ele e a mãe viram o que, àquela altura, eram presos políticos serem torturados. “O sangue escorria e a minha mãe não parava de chorar. Ela queria sair dali”, ele relembra. Foi então que teve mais certeza de que precisava tirar a sua carteira de identidade. Tornar-se cidadão. 

 

Mas ele alerta, “eu preciso vir hoje aqui, porque não vejo mais jovens lutando”.

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Na Praça da República, os manifestantes também entoavam cartazes em resposta às medidas ostensivas, como o aumento da taxação da importação de produtos brasileiros, aplicadas pelo governo estadunidense de Donald Trump. O Governo brasileiro lançou o “Plano Brasil Soberano” como forma de proteger os trabalhadores dessa política. Foto: Giuliana Zanin

Movimentos do interior do estado também estavam presentes. Entre os sindicatos, estavam os Metalúrgicos do ABC, dos Químicos e dos Bancários da Cidade de São Paulo. Movimentos da luta por moradia da Mooca e de outras cidades, reestruturação da Auditoria Fiscal do Trabalho, além de representantes de partidos políticos. Uma jovem de 19 anos, estudante de farmácia, recém filiada à União da Juventude Socialista (UJS) esteve presente no ato para “ver de perto como funciona a política".

As cores eram diversas e a camiseta do Brasil apareceu algumas vezes. 

Entre as figuras públicas representantes da esquerda no Brasil estavam os deputados Guilherme Boulos e Érika Hilton, ambos do PSOL. Além de vereadores da cidade, como Luna Zarattini (PT) e Amanda Paschoal (PSOL). A base do governo federal também marcou presença com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. 

O que mais chamava a atenção era a presença de jovens e crianças no ato, seja acompanhando a família ou indo por conta própria. A população ali presente, somadas em, aproximadamente oito mil pessoas, segundo o Monitor do Debate Político, da USP, entoava, entre gritos de guerra, sobretudo, pelo que o dia pedia: a celebração da autonomia e da independência de um país que viveu mais de 300 anos sob domínio e dependência de outro povo. 

 

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