Motoristas de aplicativo pedem comunicação direta e eficaz

por
Giovana Macedo
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01/05/2020 - 12h

Por Giovana Macedo

Cleberson Juliano Gomes tem 38 anos e desde o dia 17 de março está sem trabalhar como motorista de aplicativo nas ruas de São Paulo. “Encerrei as atividades por morar com meus sogros e ter um filho pequeno com problema renal. Os três estão no grupo de risco”, diz ele. “Até arrisquei fazer umas corridas, mas a demanda está muito fraca.”

O motorista faz parte do grande grupo que tem sentido o prejuízo no bolso por causa da crise do novo coronavírus no Brasil. Com grande parte dos usuários em casa e trabalhando em home office, sem precisar de Uber, 99 ou Cabify para levá-los ao trabalho e demais lugares, as corridas por aplicativo diminuíram.

Segundo o Stattesp (Sindicato dos Trabalhadores com Aplicativos de Transportes Terrestres), a categoria reúne cerca de 200 mil motoristas em São Paulo. Agora, com a crise, a estimativa da entidade é de que metade não esteja rodando. “Seja por quem teve que devolver o carro alugado às locadoras ou por quem tinha carro próprio, mas não conseguiu se manter pelas despesas do dia a dia como alimentação e combustível”, diz o assessor de imprensa do sindicato, Mauro Proença.

Com o aumento do uso de aplicativos de transporte, muitos deixaram de ter o trabalho de motorista como renda complementar para tê-lo como fixa. A realidade mudou muito em comparação a um ano atrás; hoje, 90% dos motoristas têm o trabalho como única fonte de renda, afirma Proença. Com a maioria dos motoristas afastados, e alguns poucos ainda rodando, a situação destes trabalhadores em meio a uma pandemia que gera uma crise econômica no país e os impede de ganhar sua renda fixa fica cada vez mais complicada.

No dia 24 de marco, a Uber anunciou que iria dar “uma assistência financeira por 14 dias a qualquer motorista ou entregador que seja diagnosticado com o novo coronavírus ou que tenha quarentena solicitada por um médico”. No dia 13 de abril, a diretora-geral da empresa no Brasil, Claudia Woods, disse que a assistência seria estendida aos motoristas do grupo de risco.  Além disso, os motoristas e seus familiares terão acesso a um cartão que oferece “descontos em mais de 3.000 tipos de exames laboratoriais, consultas médicas em rede de atendimento privada e desconto de até 20% em medicamentos nas farmácias credenciadas”. A empresa também promete reembolsar o trabalhador em até R$ 20 para que possa adquirir itens de higiene para si e para o veículo.

A Uber tem mantido seu contato com os “parceiros” por meio de e-mails ou vídeos dentro do aplicativo. “A orientação deles é quanto à higiene: lavar as mãos, não tocar o rosto, manter o ar-condicionado do carro desligado e usar máscaras”, explica Cleberson.

A 99, por sua vez, também se mostrou preocupada com o tempo ocioso do motorista. Além do fundo internacional de apoio de US$ 10 milhões aos motoristas diagnosticados ou com suspeita de Covid-19, a empresa oferece desinfecção dos veículos, parceria com a Movida para aluguel de carros, doação de máscaras, e convênios com a Faculdade Estácio, com cursos online gratuitos, e com a Gympass, dando 60 dias de aulas online gratuitas. o Cabify apenas disponibilizou em seu site informações e conselhos sobre como lavar as mãos, a importância da desinfecção dos veículos e a necessidade de se cobrir ao espirrar ou tossir.

A comunicação entre as empresas e seus parceiros, no entanto, é alvo de críticas. “Eles têm pontos de atendimento na Grande São Paulo, o motorista vai lá, é atendido, tem todo um protocolo, mas eles não respondem às perguntas”, diz Proença. “O modus operandi que eles têm é não ter canal de comunicação direta. A empresa não ajuda, nunca ajudou.”

Antes mesmo da crise, o Stattesp já auxiliava o motorista filiado com assistência medica e odontológica, rastreamento do veículo, desconto em postos de gasolina e oferecia um cartão fidelidade para descontos em instituições culturais. Com a chegada do coronavírus e a diminuição da frota de carros, o sindicato decidiu doar ao todo 300 cestas básicas para ajudar os motoristas e suas famílias.

A crise realça o que há tempos mostrava-se precário. A ajuda das empresas aos motoristasou “parceiros”, como gostam de chamar – sempre foi vista como insuficiente. Primeiro pelo valor que cada motorista tira de renda: a Uber, por exemplo, recebe uma taxa que varia entre 20% e 25% do valor da corrida; o Cabify fica com cerca de 25% dos ganhos e a 99, com 16,99%. Segundo, pela jornada exaustiva, que varia de dez a 12 horas. Sem contar os gastos com gasolina, limpeza, alimentação e aluguel do carro para muitos.

Para Cleberson, a crise será um grande divisor de águas. “Vai ter as pessoas que vão chorar e as que vão vender lenço. As empresas agora também vão perceber que o colaborador em home office bate a meta de produtividade e gera menos custos fixos do que se estivesse no escritório. A demanda por motoristas de aplicativo vai diminuir.”

Cleberson se diz desiludido com o mercado de aplicativos de transporte e conta que já está se preparando por meio de cursos de marketing digital e de investimento na Bolsa de Valores. “Estou aproveitando meu tempo para aprender coisas novas. Sou motorista desde 2017, quero parar de dirigir aplicativo”, afirma.

 

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