Morre diplomata Henry kissinger

Controverso e acusado de crimes de guerra, político americano pautou a política internacional dos Estados Unidos no século XX.
por
Artur Maciel Rodrigues
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04/12/2023 - 12h

 

(Kissinger em 2023, foto: Janek Skarzysnki/AFP)

 

Morreu aos 100 anos o diplomata estadunidense Henry Kissinger. A informação foi divulgada na quarta-feira (29) através de um comunicado da Kissinger Associates Inc. Ainda segundo a nota, o diplomata morreu em sua casa em Connecticut, nos Estados Unidos. Dono de um Nobel da Paz. Uma das principais personalidades internacionais do século 20, Kissinger é apontado por muitos como criminoso de guerra, pelas suas ações na Indochina e pelo seu apoio a ditaduras no mundo, em especial na América Latina. 

 

Refugiado de família judaica, Kissinger nasceu na Alemanha, em 1923, e se naturalizou estadunidense aos 20 anos. Durante sua juventude, participou do Exército americano na 84° infantaria, onde participou na Batalha das Ardenas, a última ofensiva do exercito nazista. Se tornou parte da corporação de contrainteligência, responsável por rastrear membros da Gestapo, uma espécie de polícia secreta do governo nazista. Na volta da guerra, iniciou sua carreira acadêmica estudando em Harvard, onde se tornou doutor e, posteriormente, professor da universidade.

 

Desde da década de 1960, Kissinger foi um importante consultor internacional do governo Americano. Em 1969, foi parte importante dos bombardeios no Camboja, e nos anos seguintes organizou a campanha de invasão ao país e os ataques ao Khmer Vermelho, seguidores do partido comunista que governou o país de 1975 até 1979. Os bombardeios deixaram cerca de 500 mil mortes e resultaram no genocídio da população do Camboja onde mais de dois milhões de pessoas morreram.

 

Durante a gestão de Richard Nixon, na década de 1970, o diplomata foi secretário de Estado e teve destaque na política de abertura diplomática da China. Kissinger também foi responsável pela mediação das tensões entre Israel e os países árabes vizinhos na Guerra do Yom Kippur. 

 

A relevância de Kissinger não diminuiu mesmo com a renúncia de Nixon. Até no atual governo Biden, o diplomata continuou sendo uma força da agenda política internacional do país. Em 2023, por exemplo, foi a Pequim para um encontro surpresa com o presidente chinês Xi Jinping. 

 

O ex-secretário sempre será lembrado na América Latina pela Operação Condor, que bancou as ditaduras nas Américas. A postura de Kissinger é bastante criticada, principalmente seu apoio à ditadura no Chile. Comandada por Augusto Pinochet, a ditadura começou com um golpe de estado - apoiado pelo serviço secreto americano - no presidente eleito Salvador Allende. Pinochet permaneceu no poder de 1973 até 1990, e o resultado foi mais de três mil mortes, milhares de torturados e cerca de 200 mil chilenos exilados. 

 

Outra atuação questionada foi o apoio estadunidense a Margaret Thatcher, Primeira-Ministra do Reino Unido, na disputa das Ilhas Malvinas, arquipélago localizado a 500 quilômetros da costa Argentina. Em 1982, ingleses e argentinos travaram uma guerra de dois meses pelo território, que terminou se mantendo sob poder dos britânicos. 

 

Sobre a Guerra do Vietnã, Kissinger disse em entrevista à jornalista italiana, Oriana Fallaci, que se tratava de: “Uma guerra inútil”. Foi justamente pelo cessar fogo desta guerra que o diplomata recebeu um prêmio Nobel da Paz, em 1976. A premiação foi em conjunto com Le Duc Tho, diplomata do Vietnã do Norte. No entanto, Duc Tho recusou o prêmio, na que é considerada umas das premiações mais controversas da história do Nobel da Paz. 

 

Em 2023, ano do seu centenário, Henry Kissinger seguiu concedendo entrevistas a jornais renomados sobre conflitos internacionais como Rússia e Ucrânia. No dia 11 de outubro, falou sobre a ofensiva entre Hamas e Israel. “Foi um ato de agressão aberto. O único objetivo foi mobilizar o mundo árabe contra Israel e seu histórico de negociações pacíficas”, disse Kissinger para o jornal Die Welt, subsidiário alemão da revista Insider.

 

A morte de Kissinger foi repercutida por figuras públicas e nas redes sociais. Em nota, o ex-presidente americano George W. Bush, o chamou de “uma das vozes mais fiáveis e mais ouvidas na política externa”. Vladimir Putin, presidente da Rússia, descreveu o diplomata como “visionário”. “Morreu um diplomata muito notável, um estadista sábio e visionário”, disse Putin. 

 

Nas redes sociais a comoção foi oposta. Uma das publicações que viralizaram foi um trecho do livro “A Cook’s Tour: Global Adventures in Extreme Cuisines” de Anthony Bourdain, escritor e documentarista. “Uma vez que você for no Camboja, você nunca mais vai parar de querer espancar Henry Kissinger até a morte com as próprias mãos”, escreveu Bourdain.  

Uma conta intitulada “Is Henry kissinger dead yet?” ( “Henry Kissinger está morto? - em tradução para o português) repostou a morte do diplomata, rendendo ao post 22 milhões de visualizações e quase meio milhão de curtidas.