MONITORAMENTO DE ESGOTO COLABORA PARA O COMBATE À PANDEMIA

por
João Tognonato
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05/04/2021 - 12h

 

O monitoramento da COVID-19 nos esgotos tem sido uma arma bem utilizada para ajudar as autoridades na hora de adotar políticas públicas. Em países como Estados Unidos, Holanda, Austrália e até no Brasil seu uso é frequente, podendo inclusive se somar à detecção pelo teste de RT-PCR (Reação em cadeia de polimerase)

 

A prática não é nova. Em 1854, o médico inglês, John Snow,– conhecido como o pai da epidemiologia moderna – conteve um surto de cólera no bairro do Soho ao identificar uma bomba de água contaminada, que era verdadeira causa da epidemia. Ele não apenas salvou inúmeras vidas naquela ocasião, como também derrubou uma velha teoria científica que atribuía à causa das doenças, o ar contaminado pelos corpos em decomposição.

 

O conhecimento também foi usado no combate à poliomielite na década de 1950 e na identificação de usuários de drogas. Mas a técnica, na atual circunstância, só pôde ser aplicada após informações terem sido divulgadas; a principal delas, descoberta pela Dra. Michelle Holshue, da universidade de New England, foi saber que o vírus (ou pelo menos parte de seu material genético) sobrevivia nas fezes.

 

Após a publicação desse artigo, outros pesquisadores aprofundaram a pesquisa; até perceberem que existia nos esgotos uma taxa suficientemente alta de Sars-CoV-2 para ser extraída e analisada. Porém, foi o Dr. Gertjan Medema, na Holanda quem liderou o próximo passo; quando desenvolveu um método eficaz em conjunto com outros cientistas do instituto de águas KTW com aplicação direta na pandemia de COVID-19.  

 

No dia 6 de fevereiro de 2020, antes do vírus chegar na Holanda, ele fez uma espécie de teste, recolhendo amostras dos esgotos para experimentar a potência do seu equipamento. Mas foi só no dia 27 que detectou traços do coronavírus circulando nos subterrâneos das cidades de Amsterdan e Utretch. Como prova final, o Dr. Medema se dirigiu à pequenas cidades onde vírus ainda não fora encontrado, e fez outra bateria de coletas; a partir disso, descobriu lá o Sars-CoV-2 muito antes das fontes oficiais.

 

Em entrevista dada para o portal SmartWaterMagazine o Dr. Medema falou que “uma amostra de esgotos, quando colhida de forma apropriada, pode refletir os dejetos de 1.000 a 100.000 pessoas – e isto é particularmente importante quando vemos os índices de contaminação caírem, mas não sabemos ainda se o vírus está sob controle ou “escondido” em algum lugar, pronto para ressurgir dias depois”.

 

Dr. Medema foi enfático quando perguntado sobre as dificuldades de implementar este sistema, e disse que o empecilho não estaria propriamente na execução do projeto – pois ele é cientificamente muito simples –, mas num gap institucional entre os departamentos de meio-ambiente e de saúde que, segundo ele, dificulta a troca de informações. “É uma coisa que vem sendo construída na prática” – diz animadamente – repetindo sempre seu slogan: “nem todas as pessoas se testam, mas todas precisam ir ao banheiro.”

 

No Brasil, o projeto é liderado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) em parceria com diversas instituições: a ANA (Agência Nacional de Águas) se responsabiliza pela articulação política e pelo investimento, o IGAM (Instituto Mineiro de Gestão das Águas) envia membro aos comitê gestor que cuida dos contratos e da burocracia, a COPASA (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) apoia o setor de projetos e fornece os dados do sistema sanitário, e, por fim, a Secretaria de Saúde do estado de MG, que auxilia com dados do seu sistema – fazendo também uma ponte entre as instituições.

 

A equipe do “Monitora Covid” Iniciou seus trabalhos no dia 13/4, e já coletou as primeiras amostras em menos de 20 dias. O grupo promove “webinares”, com um detalhamento preciso de suas ações e divulga no site uma “nota técnica especificando cada parte do projeto.

 

Num país onde poucos testes são feitos, o monitoramento dos esgotos é imprescindível. Ele pode auxiliar as autoridades na hora de fechar ou abrir determinada região e ainda prever surtos no futuro. Contudo, não se trata de uma medida que, isoladamente tem poder de ação. É preciso sempre unir esses dados com as testagens individuais para obter uma documentação mais precisa acerca dos infectados.