Por Tábata Pereira
Sentado em uma cadeira ao centro do palco, no auge dos seus 80 anos, Milton Nascimento apresenta a turnê “A ‘Última Sessão de Música”, que teve início em 11 de junho no Rio de Janeiro, partiu para a Europa, volta ao Brasil e segue para os Estados Unidos marcando por onde passa, o adeus ao Bituca nos palcos. Prevista para encerrar em Belo Horizonte, no estado em que foi criado, a turnê segue encantando e marcando a história de uma era por onde passa.
Nascido em 26 de outubro de 1942, no Rio de Janeiro, Milton Nascimento se tornou órfão aos dois anos de idade, passando a morar com a avó em Juiz de Fora – Minhas Gerais. Aos seis anos, mudou-se para Três Pontas, com os pais adotivos e desde criança já demonstrava interesse pela música. Quando tinha 13 anos, Milton ganhou o seu primeiro violão e aos 15 anos criou com seu amigo Wagner Tiso, o grupo "Som Imaginário" que ganhou novos integrantes e tornou-se o W’s Boys, que se apresentada nos bailes da cidade; já em 1963, Milton formou o Clube da Esquina, junto com Lô Borges, Beto Guedes, Márcio Borges e Fernando Brant.
Na busca para que suas músicas fossem gravadas, mudou-se para São Paulo em 1966, passando por diversas dificuldades até conhecer Elis Regina, que gravou a sua primeira música “Canção do Sal”, tornando-a um grande sucesso. Em 1967, teve as canções “Travessia”, “Maria, Minha Fé” e “Morro Velho”, classificadas no Festival Internacional da Canção da TV Globo, ganhando em segundo e sétimo lugar. Milton lançou então o seu primeiro disco solo, que foi sucesso de vendas e rendeu diversos shows ao cantor.
Iniciou a sua carreira internacional em 1968 nos Estados Unidos com o disco “Courage” e em 1972 transformou o “Clube da Esquina”, fundado em 1963, em um álbum que foi grande sucesso. Em 60 anos de carreira, Milton Nascimento lançou 42 álbuns e ganhou diversos prêmios, inclusive cinco Grammy Latino. Entre as suas músicas de maior sucesso estão “Travessia”, “Sentinela”, “Clube da Esquina”, “Cais”, “Nada Será Como Antes”, “Fé Cega, Faca Amolada”, Ponta de Areia”, “Maria, Maria”, “Canção da América”, “Caçador de mim”, “Coração de Estudante” e “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor”.
Completando 60 anos de carreira em 2022, e com 80 anos de idade, Bituca se despede dos palcos em grande estilo e tocando o coração do seu público que permanece fiel ao cantor. O jornalista e produtor cultural, Nano Ribas, esteve presente no show de Barcelona e se emociona ao lembrar desse momento “Se podia ver muitos estrangeiros. Ingleses, espanhóis, catalãs, alemães etc.; foi uma catarse. Eu me sinto muito honrado em poder fazer parte, mesmo que um dia, dessa história, chorei o show todo, como disse Elis Regina ‘Se Deus tivesse voz, seria a do Milton Nascimento.’”
Milton anunciou a turnê de encerramento dos palcos através de um vídeo publicado nas suas redes sociais e exibido em TV aberta, em que conta um pouco da sua história e das amizades que fez ao longo de sua carreira, “Minha música ampliou meus horizontes. Em seis décadas me levou aos quatro cantos do mundo, nesse caminho eu encontrei gigantes como Tom Jobim, Elis Regina, Agostinho dos Santos, Quincy Jones, Eumir Deodato, que me ajudaram a levar minha música para o mundo. Amigo é coisa pra se guardar... essa é outra coisa que a música me proporcionou nesses anos de estrada... grandes amizades. Eu costumo dizer que sem as amizades a minha vida jamais teria sido o que é, e nem a minha carreira.”, disse o cantor.
Segundo a fã e produtora cultural Tâmara Alves, “Milton passa uma mensagem sobre a liberdade, o amor e a democracia” e apesar de as múltiplas interpretações que as músicas podem gerar, os jovens músicos têm muito o que aprender com a carreira de Bituca, “Pessoalmente acho que a mensagem é sobre a qualidade intangível que deve ser buscada, sobre dizer as verdades de maneira suave, mas que apesar da suavidade a verdade não deve deixar de fazer parte de suas obras.”, destaca.
Milton Nascimento crava um legado difícil de ser alcançado e leva consigo o respeito do seu público. Nano Ribas ressalta “Tenho 51 anos e mais de 30 de carreira, ouço Milton desde a barriga, podemos falar por baixo que ele atingiu 6 gerações. Ele com quase 80 anos, fazendo uma turnê que passa por vários países, a mensagem que fica pra mim é de respeito e amor à música e principalmente ao seu público. A sua obra é gigante. Todo artista deve ir aonde o povo está, esse é o legado, mesmo aos 80 anos.”
Bituca diz orgulhoso que se tornou um cidadão do mundo sem deixar de ser brasileiro e deixa claro que a despedida é apenas dos palcos, “Esse ano eu completo 80 anos e é aos amigos e fãs que dedico essa turnê, que marcará a minha despedida dos palcos. Só dos palcos mesmo, da música jamais.”