Desde o dia 24 de março, está vigorando no estado de São Paulo a medida de combate à pandemia de Covid-19 que determina o fechamento de todo o comércio e serviços não essenciais – lojas, bares e restaurantes devem manter suas portas fechadas. Como reação à brusca queda na demanda, microempreendedores estão buscando formas criativas de manter o negócio funcionando e diminuir o prejuízo.
Antes mesmo do sistema de delivery, já muito conhecido, as redes sociais se tornaram a principal arma para impulsionar as vendas. Pelo menos, foi assim que aconteceu com o empresário Douglas Macedo, dono da loja de suplementos esportivos DSD suplementos, localizada em uma academia na zona sul de São Paulo.
“Usamos o delivery como ferramenta desde o começo, junto com o Instagram e o WhatsApp. A diferença agora é que essas ferramentas passaram a ser o coração do negócio. Mas aquele negócio que não tiver uma boa parcela da clientela ali online, já adaptada a esse ambiente, com certeza terá um prejuízo muito maior”, diz Douglas.
Seu setor foi um dos mais afetados no cenário atual. As academias estão fechadas e grande parte dos treinos suspensos. Mais do que o fechamento da loja em si, o que tem prejudicado Douglas é o rompimento na rotina de treino de seus clientes. Apesar disso, ele tem uma visão otimista para o futuro do seu negócio.
“As academias foram obrigadas a fechar, então automaticamente eu tive que fechar. O que eu mais vejo hoje são pessoas reclamando da falta de academia. Ter um fluxo forte no Instagram vai me ajudar a sobreviver nesse momento e aí, quando isso tudo acabar, é se reerguer rápido e voltar muito mais forte. Depois de fechados, já aumentamos nosso número de seguidores em 30%. As vendas caíram muito, mas o número de clientes aumentou.”
Sem funcionários a pagar, já que o negócio é tocado pessoalmente por Douglas e outros dois sócios, a loja de suplementos esportivos parece que encontrou na publicidade das redes sociais uma forma de investimento minimamente efetiva durante os tempos de crise. Porém, para alguns outros empreendimentos, investir nos deliveries e plataformas online não tem sido suficiente.
Esse é o caso do Regô, um pequeno bar de galpão que serve coquetéis no bairro da República. Gerenciada por Luiz Felipe Mascella, a coquetelaria abriu as portas há pouco mais de oito meses e agora precisou pensar em medidas inventivas para conseguir pagar seus funcionários e não fechar.
“A primeira estratégia foi montar um voucher em um site chamado abacachi, que disponibiliza esses vouchers. Você paga agora e consome na reabertura da casa. Eu fiz vários valores: 100, 200, 300, até dois mil reais. Além do consumo, eles [os clientes] ganham uma camiseta, um boné... O de dois mil reais, no caso, disponibilizamos apenas três vouchers. Ele dá direito à pessoa ter um drinque com o nome dela no cardápio, um drinque feito em homenagem a ela”, conta Luiz.
O empresário diz que se inspirou nas medidas tomadas por bares de outros países, que já estavam num grau mais avançado da pandemia, para adaptá-las à cidade de São Paulo.
“Comecei a ver alguns bares da gringa, que já estavam muito mais afetados, que começaram a fazer muito essa pegada de drinks to go. E aí eu peguei essa ideia. Como não estávamos no Rappi, iFood ou nenhum negócio de delivery desses, fizemos um sistema de entrega de dois em dois dias. Então você escolhe se quer passar para pegar ou se quer que a gente vá entregar para você nossa variedade de drinques engarrafados.”
O governo do estado de São Paulo prometeu no início do mês de abril abrir uma linha de crédito especial em parceria com o Banco do Povo e o Sebrae destinada a microempreendedores. Segundo o governador João Doria, o dinheiro já estaria disponível a partir do dia 6 do mesmo mês, totalizando o montante de R$ 650 milhões em auxílio. Tanto Douglas quanto Luiz pretendem recorrer ao crédito, mas os dois afirmam que o dinheiro está indisponível no momento.
“O governo prometeu, mas não chegou até agora. Mas pretendo utilizar sim, assim que o governo liberar uma linha de crédito especifica para nós. Até agora peguei uma do Banco do Brasil, que é a melhor que consegui achar. Com esse dinheiro, a primeira coisa [que fiz] foi pagar os funcionários. O resto está guardado. Como a grande maioria dos bares, tenho muitos boletos a pagar”, comenta Luiz.
Os setores da economia vão se adaptando à crise e usando de diversos meios para manterem seus negócios. Apesar da insegurança, os dois empresários se mostram totalmente a favor do isolamento social e do fechamento temporário de seus negócios. Independente de tudo, dinheiro dá para recuperar. Uma vida perdida, não.