Mestre do samba, Arlindo Cruz morre aos 66 anos

Compositor e cantor vivia com sequelas decorrentes de um AVC que sofreu em março de 2017
por
Bianca Novais
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08/08/2025 - 12h

A família de Arlindo Cruz anunciou a morte do compositor, cantor e instrumentista nesta sexta-feira (8), através das redes sociais do artista. Considerado um dos maiores sambistas do país, Arlindo vivia com a saúde debilitada desde março de 2017, devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico.

“Mais do que um artista, Arlindo foi um poeta do samba, um homem de fé, generosidade e alegria, que dedicou sua vida a levar música e amor a todos que cruzaram seu caminho", diz a nota de falecimento. O sambista morreu no hospital Barra D'Or, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

 

 

Arlindo Domingos da Cruz Filho nasceu na capital fluminense em 14 de setembro de 1958, no bairro de Madureira, Zona Norte da cidade. Em homenagem a ele, escreveu uma de suas canções mais conhecidas, “Meu Lugar”, parte do álbum “Hoje tem samba” (2002).

Tocava cavaquinho, banjo e ainda na juventude começou a se apresentar profissionalmente, enquanto estudava teoria musical na escola Flor do Méier. Nesse período, foi apadrinhado musicalmente por Candeia, outro renomado sambista carioca.

Estudou na escola preparatória para Cadetes do Ar aos 15 anos, em Barbacena (MG), mas logo voltou ao Rio. Passou a frequentar a roda de samba do Cacique de Ramos, onde tocou com Jorge Aragão, Beth Carvalho, Ubirany e Almir Guineto. Lá, conheceu Zeca Pagodinho e Sombrinha, que, à época, também eram revelações no mundo do samba.

Escreveu algumas músicas para outros intérpretes - “Lição de Malandragem” (David Correa), “Grande Erro” (Beth Carvalho), “Novo Amor” (Alcione) - antes de entrar no Grupo Fundo de Quintal, em 1981.

 

 

Ganhou notoriedade nacional durante os 12 anos na banda e gravou sucessos como “Só Pra Contrariar”, “O Mapa da Mina” e “Primeira Dama”. Em 1993, seguiu carreira solo e continuou nos holofotes, com várias músicas em parceria com outros gigantes do samba. Entre seus álbuns de maior destaque recente estão “MTV ao Vivo Arlindo Cruz” (2009) e “Batuques do Meu Lugar” (2012).

Sombrinha foi uma de suas parcerias mais frutíferas. Escreveram “O Show Tem Que Continuar” e “Alto Lá", também com Zeca Pagodinho. Com este, assinou a autoria de sucessos atemporais da música brasileira como “Bagaço da Laranja”, “Dor de Amor” e “Camarão que Dorme a Onda Leva".

 

Sombrinha e Arlindo Cruz em apresentação. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Sombrinha e Arlindo Cruz em apresentação. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho cantando juntos. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho cantando juntos. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Arlindo compôs mais de 500 músicas, segundo seu site oficial, incluindo sambas-enredo para escolas de samba do Rio de Janeiro: Grande Rio, Vila Isabel, Leão de Nova Iguaçu e Império Serrano, sua escola de coração e que o homenageou no enredo do carnaval de 2023. Mesmo com a saúde fragilizada, ele participou do desfile no último carro alegórico, com ajuda de amigos e familiares.

Em 2015, ganhou o 26º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Músico de Samba e é reconhecido como um dos responsáveis pela revitalização do gênero nos anos 1980. Seu último lançamento foi ao lado do filho Arlindinho, em 2017, gravado pouco antes de sofrer o AVC.

Arlindo Cruz em carro alegórico da Império Serrano, durante desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 2023. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Arlindo Cruz em carro alegórico da Império Serrano, durante desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 2023. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Ele foi apelidado de “o sambista perfeito” por amigos e admiradores, em referência a uma de suas composições, em parceria com Nei Lopes. O apelido virou o título da biografia do músico, escrita pelo jornalista Marcos Salles e publicada em junho deste ano.

Arlindo Cruz era candomblecista, filho de Xangô, e atuava contra a intolerância religiosa. Ele deixa esposa, Babi Cruz, e três filhos: Arlindinho, Flora e Kauan.

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