Mês do orgulho bi: constantemente apagados por todos os lados da sociedade, mas existimos e resistimos

No dia 23 de setembro, comemoramos oficialmente o mês do orgulho bi e salientamos a importância de discutir o “b” de LGBTQIA+
por
Ana Carolina Coelho
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12/09/2022 - 12h

Bissexuais são pessoas que sentem atração por gente de mais de um gênero. Apesar de ser muito pouco discutida dentro da sigla LGBTQIA +, trata-se de uma orientação sexual bem comum. E por isso, setembro é considerado o mês da visibilidade bissexual, para trazer informação acerca do assunto e ajudar no combate contra o preconceito que essas pessoas encaram no dia a dia. 

A bissexualidade é uma orientação sexual assolada por estigmas, como se as pessoas bissexuais estão predestinadas a viver relações superficiais, cometer traição dentro de um relacionamento monogâmico ou ser uma pessoa indecisa dentro de suas relações afetivas.

Nós, que nos identificamos assim, lutamos, entre outras coisas, para quebrar os preconceitos de uma sociedade baseada na monossexualidade - ideia que impõe às pessoas que se relacionem sexual e/ou romanticamente exclusivamente com pessoas de um determinado gênero. 

Dentro de todas as ofensas, existe a ideia de que pessoas bissexuais, não precisam sair do armário, a não ser quando se relacionam com pessoas do mesmo gênero e, que dentro do mundo, nós poderíamos existir sem precisar falar da nossa sexualidade e se beneficiar da “leitura hétero” que a sociedade faz de nós. De forma equivocada, existe, inclusive, a impressão de que essa leitura seria um privilégio, por sermos capazes de nos esconder em plena luz do dia.

Eu digo que é bem pelo contrário, primeiro que não existe aceitação social da bissexualidade, logo, para gozarmos desse suposto privilégio, teríamos que mentir sobre quem somos e isso todos os integrantes da sigla LGBTQIA+ também podem fazer, dizendo que são heterossexuais. Independente da sua orientação sexual, deveríamos já ter concluído que mentir sobre si para obter aceitação, deveria ser um absurdo. 

Caro leitor, tenho a impressão que o armário bissexual é um tanto quanto peculiar. Enquanto homossexuais narram a saída do armário como um grande evento e definidor de suas vidas, nós bissexuais temos que sair do armário o tempo todo, confesso que é exaustivo. Não existe uma narrativa linear que nos permite resolver isso de uma vez por todas. 

A sociedade não tende a acolher a multiplicidade de afetos e desejos sexuais que podem existir em uma só pessoa, mas, pelo contrário, enxerga a orientação sexual das pessoas a partir do dado “com quem aquela pessoa se relaciona”. 

Para simplificar, vamos imaginar uma cena do dia a dia e a forma como ela provavelmente é lida por você.  Quando olhamos para um casal andando de mãos dadas na rua, imaginamos que, se forem dois homens, são gays; se forem duas mulheres, são lésbicas; se forem um homem e uma mulher, são heterossexuais. Mas você já parou pra pensar que todas essas pessoas podem ser bissexuais, assexuais, pansexuais, por exemplo?

As orientações não-monossexuais existem independentemente da aparência das relações e de como a sociedade as interpreta. No entanto, assumir isso enquanto sociedade, portanto, estruturalmente, seria ameaçar a estabilidade dos conceitos heterossexuais ou homossexuais. 

Isso porque, a partir do momento que a sociedade admite a existência de bissexuais e pansexuais, é como colocasse em xeque todas as orientações monossexuais. Afinal de contas, se namorar homens não comprova que Maria é heterossexual, o que comprova? E não tem nada que incomode mais pessoas heterossexuais do que serem confundidas com pessoas não heterossexuais.

E, se você que está lendo esse texto, for bissexual, sinto muito em te contar, mas irá ter sua bissexualidade questionada o tempo todo, com base nessas premissas. Outra estratégia comum para nos apagar é associar a bissexualidade à promiscuidade. É classificar a bissexualidade como aquilo que está na doença, no fetiche, na indecisão, na hipersexualização. 

23 de setembro é o dia de pedirmos por visibilidade e respeito.