Mercado de estética volta a crescer

Pequenas empresas reagem e retomam investimentos interrompidos na pandemia
por
Victor Oliveira Trovão
Larissa Isabella
Livia Veiga
Bárbara More
|
04/07/2023 - 12h

Mais do que nunca, a área de estética encontra movimentação constante no mundo, em especial no Brasil. O mercado de beleza e cuidados pessoais anualmente movimenta bilhões de reais, configurando o ramo como um dos mais influentes no país. A atividade passa por uma grande transformação ao surgirem diversas pequenas empresas, produtos com novas tecnologias, e, principalmente, profissionais como cabeleireiros, esteticistas, designers de sobrancelhas, micropigmentadoras e outras especialidades.

De acordo com Reginaldo de Andrade, consultor de negócios do Sebrae SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), existem muitos fatores por trás disso, dentre eles o autocuidado:
“O brasileiro se preocupa muito com (auto)imagem, por isso se desponta como um dos maiores consumidores de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos do mundo”, explica.

Segundo um levantamento feito pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) junto com o Instituto FSB Pesquisa, em 2021 o Brasil se tornou o terceiro maior consumidor de produtos estéticos, ficando apenas atrás dos Estados Unidos e China. A coordenadora do curso de Estética na Faculdade Anhanguera, Gisele Costa, analisa a força do setor no país: “O brasileiro em sua maioria cultua a beleza, é vaidoso, quer reverter sinais de envelhecimento, ter um corpo dentro de padrões estéticos imposto pela sociedade”.

Esse crescimento foi notório mesmo durante a pandemia da Covid-19, que teve início em 2020. Na época, os profissionais precisaram estagnar seus atendimentos e diminuí-los para se encaixarem nas medidas de saúde. Em outra perspectiva, Reginaldo acredita que o fim da pandemia trouxe mudanças ao setor dado o surgimento de novas técnica, tendências e tecnologias, o que aponta crescimento. 

A pandemia  gerou ondas de desemprego e levou muitas pessoas a buscarem novas fontes de renda. Assim, muitos cidadãos decidiram começar a empreender e abriram seus próprios estabelecimentos. Segundo o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020, realizado pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), cerca de 50 milhões de brasileiros que não empreendiam antes da Covid-19 tinham planos de abrir um negócio nos próximos três anos.

Logo no primeiro semestre de 2022, quando as medidas de isolamento social foram reduzidas por conta da queda do número de casos, foram abertas mais de duas milhões de empresas no Brasil e uma boa parte do negócio informal decidiu se regularizar, apontam dados da Receita Federal. O Sebrae indica que em 2023 existem cerca de 6,4 milhões de estabelecimentos no Brasil e 99% deles são micro e pequenas empresas (MPE). Alguns microempreendedores ressaltam que a pandemia teve seus pontos positivos e negativos para os negócios.

A esteticista Beatriz Fraider, de 21 anos, conta que apenas conseguiu retomar os atendimentos após o fim do lockdown e precisou tomar o dobro de cuidado com paramentação e higiene ao receber os clientes. Porém, conseguiu ver o seu negócio florescer no período da Covid-19: “A pandemia foi o momento em que nós mais crescemos. Muita gente começou a procurar uma maneira de aumentar a autoestima, então, como havia apenas olhos e sobrancelhas livres das máscaras, começamos a ter bastante procura”.

Em contrapartida, a designer de sobrancelhas Samantha Fidalgo Carvalho, de 34 anos, sofreu um forte impacto financeiro durante os dois anos de pandemia: “Tive que sair do local em que estava meu estúdio, pois não consegui acordo com o proprietário, meus parceiros profissionais não queriam assumir a divisão de contas por não saber quanto tempo teríamos de pandemia. Tive que me desfazer do meu estúdio em dias, colocando minha mobília na garagem de casa, sem local para ir, sem saber como iria procurar uma nova sala, pois não podia sair de casa. Tinha medo da Covid e contas chegando normalmente”.

A profissional conta que precisou abrir uma sala comercial de tamanho bem menor em outro bairro e passou cerca de quatro meses sem trabalhar, vivendo do dinheiro que era mantido em uma reserva. Samantha afirma que nunca se recuperou completamente do prejuízo: “Agora que as empresas já estão voltando com os trabalhos presenciais, os atendimentos começaram a ter mais procura, mas o que mais impacta hoje é a economia. Como os preços de tudo estão muito altos, as clientes não estão dando preferência à estética, pois o meu serviço é um valor relativamente alto, além de ser um supérfluo, não é uma necessidade básica, então pode adiar na lista de prioridade delas”.

Os desafios enfrentados pelos profissionais que trabalham no setor estético são muitos. Além da questão financeira e mercadológica, também há o fator da profissionalização: “O investimento com os estudos é alto, o profissional precisa se manter atualizado num setor que se inova constantemente; a remuneração, como em qualquer profissão, nem sempre é adequada; há muita concorrência e fidelizar clientes cada vez mais exigentes e bem informados sobre esse universo da beleza é um grande desafio”, analisa Gisele Costa. A coordenadora também ressalta que se trata de uma área ampla, que não se limita ao público feminino: “Os estudantes não procuram cursos especificamente como ‘estética feminina’, apesar de serem as mulheres o maior público. Quem está ingressando na área vê uma oportunidade de crescimento profissional e procura dentro da estética um nicho para atuar com que tem maior afinidade. 

Apesar das dificuldades, os esteticistas encontram força para continuar a exercer a profissão no amor que sentem em ver a satisfação dos clientes com o resultado final: “Vi que esse trabalho mudava a vida das mulheres, deixava elas felizes consigo mesmas, tão realizadas, que me fez perceber que, através do meu trabalho, eu poderia levar alegria e realização para alguém”, reflete Samantha.